13 outubro 2019

Vídeo-ENTREVISTA - Ângelo Rodrigues à conversa com a poetisa Manuela Vaz de Carvalho



Ângelo Rodrigues à conversa com a poetisa MANUELA VAZ DE CARVALHO aquando da Sessão de apresentação do seu último livro de poesia «IMPACTOS» (das Edições COLIBRI) que se realizou no dia 12 de outubro de 2019 no Centro Cultural e Regional de Vila Real.

 Uma publicação das Edições COLIBRI - www.edi-colibri.pt

 Apoio da Cultura do Norte.
 Apoio do Blogue EXTRAVASAR - Divulgamos cultura!

Coordenação: Ângelo Rodrigues
www.angelo-rodrigues.webnode.pt

IMPACTOS de Manuela Vaz de Carvalho - Edições Colibri - Centro Cultural de Vila Real - Fotorroportagem

01 outubro 2019

ENTREVISTA de BEATRIZ H. RAMOS AMARAL concedida ao Blogue EXTRAVASAR e à TERTÚLIA ORPHEU. Não deixe de ler esta excelente Entrevista de uma humanista e de uma grande mulher de cultura!


ENTREVISTA de
BEATRIZ H. RAMOS AMARAL
(Poetisa brasileira e não só...)
concedida à
TERTÚLIA ORPHEU
e ao blogue EXTRAVASAR, outubro de 2019
                 facebook.com/groups/TertuliaOrpheu
   Blogue EXTRAVASAR



  
  1. Tertúlia Orpheu / Extravasar: Cara poetisa e professora Beatriz H. Ramos Amaral, a sua participação nos nossos projetos é para nós um enorme prazer. Queira fazer o favor de partilhar connosco (e com o público leitor) as motivações que a levaram a enveredar pelo fascinante mundo da Poesia e da divulgação/promoção da mesma.

Beatriz H. Ramos Amaral: Agradeço o convite para esta entrevista. Comecei a escrever muito cedo.  Fiz meu primeiro poema aos doze anos e jamais parei. Mas, bem antes, desde os seis anos de idade eu já gostava de narrar e escrevia pequenas histórias, contos, criava personagens e algumas vezes até gostava de ilustrá-los. A escrita sempre me fascinou,  as palavras, seus sons, os componentes físicos, as sílabas, os grafemas, os signos, os sentidos. Alfabetizei-me sozinha e espontaneamente em casa, um ano antes de ir para o colégio,  sentada numa poltrona, no colo de meu avô materno, olhando para os jornais que ele lia.    Na infância,  eu era uma grande leitora.  Sempre lia a mais do que me indicavam ou sugeriam. Eu pedia livros de presente,  começava a organizar minha biblioteca. Depois,  quando comecei a comprar eu própria meus livros,  abriu-se novo oceano.  O fato de eu amar a escrita e ser boa leitora me conduziu, naturalmente, a escrever. São vários os gêneros nos quais escrevo e já publiquei livros.  Escrevo poesia desde os doze anos de idade e, de meus quinze livros já  publicados, metade deles é de poesia.  Escreve-se porque se necessita dizer.  Escrevo por necessidade de me expressar. Escrevo para recriar o tempo e o mundo.  Para navegar na integridade das águas. Escrevo  pela intimidade que desde cedo brotou entre mim e as letras, as sílabas, palavras. A poesia muito se aproxima da música e isso é também essencial em minha vida, pois estudei música desde a infância. Bem, escrevendo desde tão cedo e acompanhando a movimentação literária de São Paulo, o início de minhas publicações foi muito natural. Escrevi um romance entre meus 15 e 16 anos e o publiquei em 1980. Esse livro fez algum sucesso, saíram muitas resenhas e comentários em jornais e também alguns colégios o adotaram para leitura em ensino médio.  Convidaram-me a fazer muitas palestras para os jovens estudantes e foi muito prazeroso dialogar com eles sobre os variados aspectos do livro, especialmente, sobre personagens e enredo.  A edição esgotou-se logo. E eu já estava, naquela altura, produzindo muita poesia. Publiquei meu segundo livro, que é o primeiro em poesia, em 1983, quando cursava o 5º. ano da Faculdade de Direito na USP. Portanto, publiquei meus dois primeiros livros muito jovem,  enquanto ainda era universitária.


        
  2. Tertúlia Orpheu / Extravasar: Fale-nos do processo de construção das suas obras literárias bem como das dificuldades que sente (ou não) na sua elaboração e na afirmação das mesmas junto dos leitores.

Beatriz H. Ramos Amaral: Na verdade, o processo de construção é um dos temas de minha preferência, desde sempre. Podemos falar em processo de criação e também nos procedimentos por meio dos quais o processo se desenvolve.  Como tenho uma produção variada, plural, posso dizer que o processo tem sido um pouquinho diferente, conforme  o gênero literário (e até conforme a obra).  Já publiquei romance, poesia, contos, um volume de crítica literária, um ensaio biográfico, um livro jurídico.  Quando escrevi o romance, lembro-me que eu começava escrever cedo, de manhã, diariamente e que não me permitia deixar capítulos inacabados de um dia para o outro. Eu tinha mais ou menos pré-determinado o que cada capítulo deveria conter, era uma ideia,  um esboço mental, e eu ia escrevendo e também seguindo a intuição. Escrevia quase sempre ouvindo música e, em especial, música instrumental e, de preferência, obras de tonalidades maiores e com um ritmo vigoroso e andamento rápido, porque era minha intenção dar velocidade à narrativa e eu queria fruir este clima para transmiti-lo. Eu deixava a parte da tarde para revisão e segunda versão. Antes de dormir, eu lia em voz alta, para mim mesma inicialmente, e, depois, para alguma  pessoa da casa. Era uma maneira de eu sentir a dinâmica do texto e seu ritmo.  Aproveitava e fazia,  nesta leitura, correção ortográfica.  E era tudo manuscrito. Isto significa que eu era também minha leitora crítica,  naturalmente.
Nos meus volumes de poesia, o processo de construção  tem variado bastante.  A maior parte dos poemas surge espontaneamente a partir de uma frase, uma cor, uma imagem, um estímulo  sonoro,  o rosto de uma pessoa,  uma cena. Esta frase ou fragmento inicial acaba por definir um certo ritmo, frases mais longas que alternam com outras mais breves. Um fragmento pede outro, uma palavra brota da outra e o ritmo é fundamental.
A maior parte dos poemas eu manuscrevo antes.  Noutras vezes, escrevo-os, crio-os na tela do microcomputador. Depois de desenvolvido,  abandono um pouco o poema e só torno a lê-lo dias depois,  para constatar se pede complementos, se pede depuração ou alguma supressão de palavras.
Às vezes, nas releituras, eu condenso o texto. Noutras vezes, faço inversões ou justaposições de estrofes de dois ou mais poemas. Uma espécie de fusão ou intersecção.
Noutras vezes, ao contrário,  decomponho um só poema em dois.  E, deste modo, vou refinando a primeira versão até chegar ao que pretendo.
Com relação à poesia, não há hora certa nem dia certo. A qualquer dia pode surgir a necessidade ou a ocasião apropriada para o nascimento de um poema.
Gosto de sentir que há um certo elemento surpreendente,  uma estranheza, um estranhamento,  mesmo com palavras simples. Nem sempre a estranheza vem das palavras. Muitas vezes vem da sintaxe,  gosto muito de intervir na sintaxe convencional,  sair um pouco da lógica.  Cada poema é único e tem sua própria lógica.
Em 1993, a Doutora Anna Luiza Campanhã de Camargo Arruda Bauer defendeu tese sobre o processo de criação de meu livro  “ENCADEAMENTOS" (poemas)  meu terceiro livro em seu mestrado na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). O estudo dela foi feito à luz da Crítica Genética e uma de suas conclusões sobre meu processo de criação,  neste livro, foi a de que empreguei a rasura supressiva como principal procedimento. Ela chegou a essa conclusão analisando meu caderno manuscrito com os rascunhos juntamente com as pastas de dactiloscritos e com o livro já editado.
Quanto ao caminho das obras junto aos leitores, é algo que as editoras têm feito e eu também,  quando possível,  divulgo poemas em meu site e nas redes sociais. Participo de seminários, congressos, faço palestras sobre meu trabalho.  Fiz palestras interessantes no Congresso Brasileiro de Poesia,  no estado do Rio Grande do Sul, na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo e na Casa da Escrita, em Coimbra, Portugal, em que tive oportunidade de abordar o processo de criação.
Além das redes sociais,  tenho site pessoal literário desde 2004.
Meu site atual é   www.beatrizhramaral.com.br
A internet amplia a possibilidade de leituras. Muitos leitores dos poemas nas redes ou do site se interessam por adquirir, posteriormente, os livros.



  3. Tertúlia Orpheu / Extravasar: Se possível, faça-nos um pequeno resumo da sua obra mais emblemática e destaque um ou dois temas que possam eventualmente gerar mais interesse, polémica e/ou surpresa junto do público leitor.

Beatriz H. Ramos Amaral: Considero difícil dizer qual obra seria mais polêmica. Falarei de três ou quatro que talvez possam ter sido mais surpreendentes:
a)   ENCADEAMENTOS, de 1988, porque inovou bastante na estrutura formal, trazendo um conjunto de 65 fragmentos que podem ser lidos isoladamente, na sequência do livro  isolados, aleatoriamente ou ainda como fragmentos de um único e grande poema.  Quando lhe dei o título,  eu pensava em encadeamentos musicais, acordes, harmonia, e procurei estabelecer contatos entre eles. Também pensei no “enjabement", claro. É um imbricamento poesia/música.

b)   CANÇÃO NA VOZ DO FOGO – Cássia Eller, que é um ensaio biográfico, um estudo que faço sobre a trajetória estética da intérprete. A surpresa fica por conta do gênero literário. Eu analisei letras e melodias das músicas de seu repertório e analisei sua trajetória estética, sua discografia completa e seus recursos estéticos. Depois de vários livros em sequência todos  de poesia, creio que muitos esperavam que viria mais um livro de Poesia e veio este ensaio.

c)   OS FIOS DO ANAGRAMA  - contos - é surpreendente porque nele faço experimentações formais, mesclando linguagem poética e narrativa, fatos e muito fluxo de consciência.  Dois críticos chamaram os contos de “contos-pulsações” ou de “contos-cantos”. Há também neles forte presença de metalinguagem,  que,  aliás,  existe em boa parte de minha literatura.

 


  4. Tertúlia Orpheu / Extravasar: A que tipo de pessoas (eventuais leitores) poderá interessar mais a sua obra e porque razão ou razões?

Beatriz H. Ramos Amaral: Creio que meus livros podem interessar a quaisquer tipo de leitores, os mais jovens ou maduros,  desde que gostem da literatura,  da interiorização,  gostem das palavras, do ritmo, da música, das surpresas ,  dos estranhamentos, do trabalho de invenção, que irriga a terra das frases, nelas inserindo espaços,  pausas, silêncios, diálogos,   momentos desconcertantes,  instâncias de intervalos e entrelinhas.
Na verdade, não penso nisso – numa faixa específica  de leitores enquanto escrevo. Só depois é que verifico se há elementos a apontar numa ou noutra direção.
Sempre busquei escrever um texto de que eu gostasse de ler, que me agradasse enquanto leitora.  Como gosto de promover surpresas na sintaxe, gosto de concisão, condensação,  gosto de explorar a potencialidade do “máximo no mínimo”, os leitores que apreciam esses procedimentos de invenção certamente hão de ser os mais interessados em meus livros. Mas,  além disso, o interesse por meus livros poderá vir por várias outras razões que não temos como objetivamente mensurar ou avaliar. São várias as camadas textuais, de significação de uma obra, que atingem de modo diferente, cada pessoa que dela tome conhecimento e com ela dialogue. Depois de publicado um livro, sabemos que passa a também pertencer aos leitores, que, evidentemente, o recriam, cada um em sua ótica e de acordo com seu repertório de experiências de arte e de vida.


 


  5. Tertúlia Orpheu / Extravasar: Partilhe conosco e com o público leitor a forma mais prática e eficaz de se comprar/adquirir os seus livros.

Beatriz H. Ramos Amaral: O meu ensaio crítico “A Transmutação Metalinguística na Poética de Edgard Braga”, publicado no Brasil pela Ateliê Editorial,  pode ser adquirido no site da própria editora.  Eis o link:


Os meus livros editados pela RG Editores,  entre eles “Os Fios do Anagrama”, que é um livro de contos e foi premiado com o Prêmio Troféu Literatura Cora Coralina 2017 (ZL Books), podem ser adquiridos mediante envio de e-mail ou telefonema para a Editora:

O e-mail é pedido@rgeditores.com.br  e o telefone é 3230-8676.
Para ligar de Portugal,  por exemplo, a sequência completa é:   00 96 55 11 3230-8676.

O meu mais recente livro publicado no Brasil, “Peixe Papiro”, também agraciado com o Prêmio Literatura 2019, pode ser solicitado para a Scortecci Editora, pela Livraria Asabeça:
 
    

  6. Tertúlia Orpheu / Extravasar: Queira destacar e partilhar connosco e com o público leitor o seu melhor projeto literário até agora. Fale-nos também dos eventuais projetos para o futuro.

Beatriz H. Ramos Amaral: A resposta é difícil,  pois o autor sempre tende a achar que o projeto mais interessante é o atual. Creio que todos eles tem sua importância dentro do meu projeto literário estético,  dentro do meu projeto poético,  mas, escolhendo alguns, destaco três: a) “ENCADEAMENTOS", pela radicalização da experiência com a linguagem, experimentalismo poético e assinalo que o livro atraiu a atenção de pesquisadores de literatura, no âmbito acadêmico, vindo a se tornar o objeto da tese “Dos rascunhos à obra editada: um itinerário poético”, de autoria da Profa. Dra. Anna Luiza Campanhã de Camargo Arruda Bauer, tese apresentada à PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, primeiro livro dos quatro que publiquei com o célebre editor Massao Ohno; b) meu livro-ensaio sobre a trajetória artística de Cassia Eller (1962-2001), que se chama “Cassia Eller – Canção na Voz do Fogo" e embasado em muitas pesquisas, entrevistas e comentários críticos sobre muitas das letras e músicas de seu repertório. Este livro foi publicado pela Escrituras Editora;  c) meu livro-tese sobre a obra do poeta Edgard Braga (1897-1985), que foi um extraordinário artista brasileiro, um pioneiro na poesia caligráfica e tactilogramática, chamado por Haroldo de Campos. O livro se chama “A Transmutação Metalinguística na Poética de Edgard Braga”, foi publicado pela Ateliê Editorial em 2013 em sua coleção de estudos literários e amplamente divulgado em jornais e revistas de literatura brasileiras, despertando, também,  interesse fora do Brasil;  d)  “Peixe Papiro”, por seu trabalho diferenciado com a linguagem, recebeu o Prêmio Literatura 2019, na categoria poesia, e) e também o livro  “Poema sine praevia lege", em que uso a experimentação. É um livro de poemas publicado em 1993 por Massao Ohno Editor e foi finalista do Prêmio JABUTI,  da Câmara Brasileira do Livro.
Entre os próximos projetos, cito mais um romance, meu primeiro livro foi um romance, publicado em 1980 e agora escrevo mais um, e um conjunto de ensaios literários e críticos.
     
 


  7. Tertúlia Orpheu / Extravasar: Qual a sua opinião e sensibilidade sobre o mercado livreiro no Brasil e em Portugal? O que melhoraria e o que alteraria neste complexo mercado?

Beatriz H. Ramos Amaral: Sobre este tema, observo, desde logo, que não sou uma especialista,  mas, como escritora e também como leitora, sinto que está havendo uma transformação,  que favorece as livrarias menores e as editoras novas e pequenos selos editoriais.  Os leitores estão mais exigentes,  querem qualidade e, lentamente, as editoras e livrarias que não são governadas exclusivamente pela busca obsessiva do lucro e trabalham visando qualidade,  finalmente, estão conseguindo mais espaço e se afirmando no mercado. O que poderia melhorar: a valorização da arte, do componente estético,  o incentivo a autores novos ou não tão conhecidos, o estímulo a editoras novas. Nenhum monopólio é benéfico para a arte. A democratização é importante. E a qualidade, evidentemente, como já frisei.


      
  8. Tertúlia Orpheu / Extravasar: Sabemos que infelizmente a Comunicação Social tradicional (Imprensa / Rádio / Televisão) dá pouco destaque aos Poetas/Escritores e os poucos que são “falados” / resenhados, acabam sempre por ser os mesmos. O que pensa disto e o que propõe para que os Media passem a fazer o seu trabalho e a terem de facto uma atitude de equidade e de justiça?

Beatriz H. Ramos Amaral: Realmente, hoje em dia o espaço na grande imprensa para a literatura  reduziu-se muito, o que é reflexo da não valorização da cultura e da arte em geral e da baixa qualidade da educação. Nos anos 80, havia muito espaço,  nós tínhamos todos os nossos livros resenhados, comentados,  lidos e registrados pela grande imprensa.  Hoje, com a redução drástica de espaço, a discussão literária acabou migrando para as revistas especializadas, muitas delas somente digitais,  eletrônicas e boa parte delas ligada a algumas Universidades.
É difícil propor soluções,  porque a situação é bastante desoladora. A literatura está viva e vibrante e isso transparece no trabalho dos novos autores,  das novas editoras, nas festas literários que se multiplicam pelo mundo.
Mas, para a grande imprensa voltar a se interessar por literatura e conceder maior espaço aos autores, será preciso uma grande mudança de concepção,  de mentalidade, com o reconhecimento de que a qualidade é importante,  independentemente de aspectos comerciais.  A diversidade também é elemento  importantíssimo a ser reconhecido. Quanto mais autores bons tiverem voz, melhor será o desenvolvimento da própria literatura, do espírito crítico e da cultura. Democracia se faz com diálogo e abertura. Olhar numa só direção, constantemente,  produz pensamentos acanhados e mentes estreitas.
A largueza de horizontes é importante para o presente, para o futuro e até mesmo para a melhor compreensão e melhor fruição do imenso legado cultural e literário que herdamos do passado.
Abertura de pensamento e ampliação de espaço para a produção e divulgação do fenômeno literário são fundamentais para todos nós.



  9. Tertúlia Orpheu / Extravasar: Muitas outras questões ficaram por colocar, contudo, foi para nós um prazer e um privilégio termos “conversado” consigo e termos conhecido um pouco melhor a poetisa e a professora Beatriz H. Ramos Amaral. Agradecemos a sua participação nos nossos projetos e pedimos-lhe que deixe uma mensagem/recado e/ou um desejo final.

Beatriz H. Ramos Amaral: Agradeço, também,  a oportunidade de tecermos este diálogo,  que é sempre proveitoso e muito agradável.
A mensagem que deixo é no sentido de que possamos todos nós continuar a produzir literatura,  fruir literatura e fruir todas as formas de expressão artística: poesia,  narrativa,  música  - contemporânea,  barroca, renascentista, impressionista, acústica e eletroacústica, vocal, instrumental, popular, erudita, toda a música,  artes visuais,  plásticas e gráficas, pintura, desenho, escultura, gravura, xilogravura, artes cinéticas,  dança, teatro, cinema,  videoarte.  
As expressões e linguagens artísticas estão entrelaçadas e navegar pelo imenso oceano que as une,  polifonicamente, é uma das mais ricas experiências que o ser humano pode ter. Arte, universo, polifonia. Como nos lembrou o extraordinário escritor Ítalo Calvino, em seu célebre livro “Seis Propostas para o Próximo Milênio”. multiplicidade, leveza, visibilidade estão entre as mais importantes características para a literatura neste milênio.



  10.           Tertúlia Orpheu / Extravasar: Escolha por favor um pequeno excerto e/ou poema de um dos seus livros (publicados ou a publicar). Desejamos-lhe todo o sucesso e sorte do mundo pois a sua obra bem o merece.

Beatriz H. Ramos Amaral: poema TECIDO, de meu livro “Peixe Papiro”

T e c i d o

Asa de poema – anzol
para fisgar
na mesa uma linha

um fio grafado de corda
cortes-recortes
a tessitura do nó

e a lâmina de Urano
faz legenda de
papiro no etéreo:  foz

move-se a areia na vertigem:
duna
dali se extrai o néctar
de pedra

pêndulo e farol
hipótese de concha
e tempo
         
Setembro 2019






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