29 março 2020

«O que devem as escolas fazer?» por Pedro Santos Maia


Aqui vos apresento uma reflexão do meu colega Pedro Santos Maia
com a qual estou absolutamente de acordo. Leiam e opinem!

O que devem as escolas fazer?

Há dias o Primeiro-Ministro referiu que a situação de pandemia que vivemos deve prolongar-se por três meses. Dados mais recentes (https://www.publico.pt/2020/03/27/sociedade/noticia/coronavirus-pico-surto-portugal-sera-mes-maio-1909818) apontam num sentido semelhante, e não em possibilidades de antecipação do fim da crise.
Fazendo contas e retirando ilações, teremos meados de junho como cenário provável (e talvez até otimista) de superação da pandemia. Para as escolas, isto significa que não haverá aulas em abril, em maio e em junho, ou seja, não haverá mais aulas este ano letivo; do ponto de vista presencial, este ano letivo está terminado.
Para enfrentar este problema, o Ministério da Educação lançou um «Roteiro» com 8 Princípios Orientadores para a Implementação do Ensino a Distância (E@D) nas Escolas. Não discuto aqui intenções, as quais poderão até ter sido as melhores, nem os méritos que as tecnologias hoje contêm e os contributos que permitem trazer para as nossas vidas e, neste caso, para o que acontece nas escolas. Simplesmente, a sua concretização pode vir a ser (na verdade, está já a ser) desastrosa. E isto por três ordens de razão.

Em primeiro lugar, não se está a acautelar o princípio fundamental de justiça e de igualdade de oportunidades — princípio norteador da escola pública — de acesso aos meios necessários para a modalidade de ensino à distância por todos os envolvidos no processo, ou seja, professores e estudantes; pelo contrário, está-se a promover uma situação que valida inaceitáveis e inconstitucionais formas de exclusão e discriminação, conforme se pode verificar aqui: https://www.publico.pt/2020/03/27/sociedade/noticia/ministerio-nao-acautela-alunos-internet-novo-plano-ensino-distancia-1909775. Imaginar o contrário é ignorar a situação em que vivem milhares de famílias em todo o país. Foi para diminuir distâncias — de toda a ordem — que a escola pública foi criada, não para as aumentar!

Em segundo lugar, a experiência acumulada nas duas últimas semanas tem-se traduzido numa sobrecarga de trabalho dos estudantes e dos professores, e quanto a estes num desrespeito pelas suas condições profissionais e designadamente pelos seus horários de trabalho. Seria fácil encontrar muitos testemunhos que comprovam este tópico.

Em terceiro lugar, esta modalidade de ensino à distância não garante a credibilidade da avaliação dos trabalhos dos estudantes pela muito prosaica e óbvia razão de não se poder garantir a autenticidade da autoria dos mesmos. Continuar a trabalhar com os estudantes, sim. Tentar atingir o maior número, com certeza. Desenvolver competências, sempre. Mas, como estamos, não é possível nem legítimo lecionar novos conteúdos, não é possível nem legítimo avaliar e classificar a sua aprendizagem. Pensar o contrário é contribuir objetivamente para atropelar a mínima isenção e objetividade que o processo de avaliação deve envolver.

Portanto, nas condições em que nos encontramos, este tipo de ensino não garante… o ensino, dado que a qualidade é insuficiente, com precária vertente pedagógica, com uma didática avulsa, o que, além do mais, não atende ao que está consignado nos normativos, um ensino adaptado às necessidades dos alunos. É também discriminatório dos professores com mais idade que são forçados a recorrer a tecnologias que dominam insuficientemente, e que não passam a dominar de forma instantânea. É preciso tempo!
Portanto, nas condições atuais, este tipo de ensino — o ensino à distância, de forma prolongada, na escola pública — não garante a aprendizagem em moldes universais e equitativos.
E portanto também, neste ano letivo, esta modalidade de ensino não se deve traduzir e culminar numa avaliação final, pois esta não se sustenta em bases sólidas, credíveis e minimamente objetivas.
O que devem então as escolas fazer?
Em vez de medidas mais ou menos fictícias, avulsas, discriminatórias e contraproducentes; em vez de mais planos e mais roteiros e orientações, com toda uma parafernália burocrático-tecnológica acoplada, as escolas e as suas direções devem exigir à tutela os meios (materiais e de formação) que permitam enfrentar situações como a que estamos a viver, porque, sem alarmismo e talvez com realismo, à nossa porta podem estar a bater novos surtos epidémicos. Uma exigência para o presente e para o futuro.

Em vez de estarem a lecionar novos conteúdos que não abrangem todos os alunos (como é isso possível, que princípio ético o pode admitir?!), as escolas deviam estar a reforçar e a rever os conteúdos lecionados até à data da interrupção (13 de março).

Em vez de estarem preocupadas com a avaliação de um final de ano letivo presencialmente inexistente, as escolas e as suas direções deveriam exigir à tutela que a avaliação final deste ano letivo seja a do segundo período (nas escolas que funcionam em períodos) e a do primeiro semestre (nas escolas que funcionam por semestres), ou a que foi recolhida até à suspensão das aulas. Em qualquer das situações contempla-se felizmente mais de metade do ano letivo (sim, o primeiro semestre é mais extenso do que o segundo). Se se considera que assim não é possível recuperar alunos que até ao momento tiveram avaliação negativa, então as escolas e as suas direções devem colocar e exigir à tutela a possibilidade da passagem administrativa. Para uma situação excecional, medidas excecionais.

Em vez de estarem ansiosas com a realização dos exames nacionais, as escolas e as suas direções deveriam exigir à tutela a suspensão e a não realização dos mesmos, pelo ambiente de stress criado, pelo incumprimento dos programas curriculares, pelas discrepâncias assinaláveis que existem de escola para escola nas matérias até ao momento lecionadas.

Um profissional de saúde dizia por estes dias que estar a combater o vírus num hospital é como estar na praia à espera de um tsunâmi.

Apropriando-me desta terrível analogia, diria: o tsunâmi já chegou, pôs o mundo do avesso e a vida em suspenso. Não juntemos mais ondas à vaga avassaladora que nos inundou. Mais do que nunca, o que se exige agora é cabeça fria, ponderação e coragem! Também nas nossas escolas e no sistema de ensino.
  
Pedro Santos Maia
Professor do Ensino Secundário
Almada, 28.3.2020 

25 março 2020

MIGUEL d'HERA - «Exposição no Sótão - Quarentena» - Técnica mista sobre papel - Mix. Inaugurada a 25 de março de 2020


Bem vindos à exposição de MIGUEL d'HERA durante o período de quarentena do Coronavírus - com curadoria de Célia Cadete. Exposição inaugurada no dia 25 de março de 2020. Curadoria de Célia Cadete. Se estiver interessado(a) nesta exposição ou em alguma obra em particular, contacte o artista (ou a curadora) pelo tm 965065213 ou através do e-mail migueldhera@gmail.com. Desejamos muita saúde e Arte. Juntos, venceremos o sacana do vírus! Fique a par de outras obras do artista visitando a página: www.angelo-rodrigues.webnode.pt (Clique no separador Artes Plásticas)

06 março 2020

ENTREVISTA (1ª Parte) de Von Trina concedida ao Blogue EXTRAVASAR. Não deixe de ler esta excelente Entrevista de um poeta "fora da caixa". Divirta-se!


ENTREVISTA de
Von Trina
(Poeta, ativista cultural, apaixonando
por História e mais 500 coisas…)

concedida ao blogue E
XTRAVASAR,
em março de 2020

Blogue EXTRAVASAR
Divulgamos Cultura!




1. Extravasar: Caro poeta Von Trina, a sua participação nos nossos projetos é para nós um enorme prazer. Queira fazer o favor de partilhar connosco (e com o público leitor) as motivações que o levaram a enveredar pelo fascinante mundo da Poesia e da divulgação/promoção da mesma.

Von Trina: Curiosamente não foi por inspiração divina de qualquer deus clássico das artes.

ESCREVER:
Sou disléxico (gosto de dizer e grafar ‘deslexico’, um cruzamento de disléxico com desleixado) e tenho uma memória visual das palavras, portanto a solução na infância era praticar… escrever, escrever, escrever…

POESIA:
Um dia ainda na escola primária, descobri um poema do meu pai, publicado num jornal e apaixonei-me pela forma e género.Descobri ao longo da vida que a poesia nunca me traiu, ou abandonou, pelo contrário sempre esteve comigo, leal e carinhosa, embora este espírito de ‘vampiro de emoções’, de observador atento, me obrigue a «carregar aos ombros todos os males do mundo, mas também toda a sua beleza».

        
  2. Extravasar: Fale-nos do processo de construção das suas obras literárias bem como das dificuldades que sente (ou não) na sua elaboração e na afirmação das mesmas junto dos leitores.

Von Trina: Nunca senti qualquer tipo de dificuldade, ou bloqueio, para escrever poesia. Sempre tive as ideias e orientações na cabeça, por vezes uso uma ou outra frase que oiço e aponto num caderninho.
A poesia por vezes ‘emerge’ em mim de modo tão virulento como numa ‘erupção’, de modo tão compulsivo e obrigatório que me obriga a parar tudo, para a transpor (normalmente primeiro) para o papel.
Componho, escrevo, normalmente em bares e cafés, observando o comportamento humano.


Feira do Livro de Lisboa, 2019 – Foto do Blogue Extravasar

  3. Extravasar: Se possível, faça-nos um pequeno resumo da sua obra mais emblemática e destaque um ou dois temas que possam eventualmente gerar mais interesse, polémica e/ou surpresa junto do público leitor.

Von Trina: Considero que a minha obra mais emblemática é a primeira, «A DÁDIVA ASTUCIOSA DOS DEUSES», Ed. Minerva, 2000.
Foi o livro fundador, iniciático, desta aventura excitante da publicação. Nela deixei expressa as minhas influências culturais, ao que vinha e por onde iria, libertando-me para ser autónomo nesta ‘via sacra’ da poesia e intervenção cultural, o meu modo favorito de exercer a cidadania.
O AMOR E A MULHER, A ESPANTOSA COMPLEXIDADE HUMANA E A SOCIEDADE EM QUE VIVO, serão sempre e obrigatoriamente as minhas temáticas.

   
  4. Extravasar: A que tipo de pessoas (eventuais leitores) poderá interessar mais a sua obra e porque razão ou razões.

Von Trina: A minha percepção é que primeiro a minha obra interessa-me a mim, porque cumpre a minha necessidade compulsiva de escrever e intervir, mas não sustento a mínima ilusão que os poemas depois de lidos deixam de ser da minha autoria e refletem a interioridade e progenitoria de quem os lê, muitas vezes num sentido, ou direção, diversa da minha ao escrever.
Intuo que a minha poesia pode interessar a todos os que amem este género, possuam sentido de humor e amor e sendo seres atentos possuam a coragem, a necessidade e sobretudo a sensibilidade de explorarem a minha/sua interioridade e intimidade.


  5. Extravasar: Partilhe connosco e com o público leitor a forma mais prática e eficaz de se comprar/adquirir os seus livros.

Von Trina: Ui… Não sendo nenhum poeta da moda, ou que escreveu séculos atrás; não sendo uma figura pública; não necessitando destas receitas para viver; e nunca me tendo preocupado muito com o tema; tenho dificuldade em responder.
Os (meus) livros que tenho disponíveis dou a amigos, divulgadores culturais, bibliotecas, para difusão pública considerada de interesse. Quando me solicitam mais exemplares, ou mostram interesse em obter algum fora destes parâmetros, aconselho a procura nos pontos de venda de livros, ou diretamente na respetiva editora.
(Edições Colibri –Antologia ECLÉTICA e Coletânea MUNDO(S)  obras coletivas onde sou co-autor – www.edi-colibri.pt).
Felizmente tenho ainda alguns amigos, normalmente em cafés e bares onde escrevo, ou outros estabelecimentos que frequento que mostram interesse em os vender no local.
O que sinto hoje em dia nos seres humanos, é o medo como quem solicita inconscientemente ajuda, porque sente-se a necessidade de mudança. Pedem-me livros meus, ou que escreva «uns versos, ou poema» para impressionarem a namorada ou a esposa. Compram-me letras de canções, ou simplesmente querem saber se as posso ceder. Dificilmente ousam a diferença que pressiona e pode ajudar a mudar mentalidades.


   6. Extravasar: Queira destacar e partilhar connosco e com o público leitor o seu melhor projeto literário até agora. Fale-nos também dos eventuais projetos para o futuro.

Von Trina: Adoro participar e colaborar nas coletâneas e antologias que integrem autores cuja Pátria é a lingua portuguesa. Poetas diversos que espelham realidades tão diferentes, mas unidos pelo idioma.
Contudo estou seguro, enquanto ser ‘irregular e imprevisível’ que o meu melhor projeto de futuro, será o próximo.
Talvez dentro de alguns anos, outro livro individual.
 

   7. Extravasar: Qual a sua opinião e sensibilidade sobre o mercado livreiro em Portugal e na Europa? O que melhoraria e o que alteraria neste complexo mercado?

Von Trina: As pessoas, os cidadãos, estão temerosos e esmagados, por uma intuição de futuro incerto e uma realidade castradora de diferenças. Somos conduzidos pelos caminhos culturais ‘certinhos’ para não pensarmos, logo questionarmos. A poesia é precisamente o contrário deste modo de vida.
É conveniente não escolher ler, porque nos obriga a acreditar no que nos dizem ou mostram. A realidade do mercado livreiro global reflete exatamente esta tormentosa situação.
Será necessário regressar à infância e à fascinante «idade dos porquês» para formarmos cidadãos autónomos e irrequietos intelectualmente. Nós, os outros, seremos sempre «uma estranha forma de vida» excêntrica.



  8. Extravasar: Sabemos que infelizmente a Comunicação Social tradicional (Imprensa / Rádio / Televisão) dá pouco destaque aos Poetas/Escritores e os poucos que são “falados” / resenhados, acabam sempre por ser os mesmos. O que pensa disto e o que propõe para que os Media passem a fazer o seu trabalho e a terem de facto uma atitude de equidade e de justiça?

Von Trina: Nós pagamos um serviço público nos Média, mas o interessante é segregado para um nicho de divulgação quase inacessível.
Estrategicamente teremos que regressar à formação e educação infantil.
Taticamente temos que pressionar, formar, responsabilizar as elites culturais - nós os que escrevemos e nos atrevemos - a serem inquietas, ousadas e determinadas.
Todos nós faremos a diferença!


  9. Extravasar: Muitas outras questões ficaram por colocar, contudo, foi para nós um prazer e um privilégio termos “conversado” consigo e termos conhecido um pouco melhor o homem e o poeta Von Trina. Agradecemos a sua participação nos nossos projetos e pedimos-lhe que deixe uma mensagem/recado e/ou um desejo final.

Von Trina: TENHAM ESPERANÇA, SEJAM EXIGENTES’.
Somente isso.
Obrigado, o prazer foi meu. Desculpem algo mais inconveniente, mas é o que penso.


  10.           Extravasar: Escolha por favor um pequeno excerto e/ou poema de um dos seus livros (publicados ou a publicar). Desejamos-lhe todo o sucesso e sorte do mundo pois a sua obra bem o merece.

Von Trina:

«perturbas(me)
tanto
como raio de luz
rasgando a escuridão
nesse teu jeito
que me deixa sem jeito
nas arcadas (da vida)

o poeta
sobrevivente de mil naufrágios
não sabe competir
nem conhece
a dança da sedução
apenas tem palavras
doces

e significados
afetos
admiração
e um coração
que pode surpreendentemente
confortar(te)
(sem engates)»



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05 março 2020

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