ENTREVISTA de
Von Trina
(Poeta, ativista cultural, apaixonando
por História e mais 500 coisas…)
concedida ao blogue EXTRAVASAR,
em março de 2020
Blogue EXTRAVASAR
Divulgamos Cultura!
Von Trina
(Poeta, ativista cultural, apaixonando
por História e mais 500 coisas…)
concedida ao blogue EXTRAVASAR,
em março de 2020
Blogue EXTRAVASAR
Divulgamos Cultura!
1.
Extravasar: Caro poeta Von
Trina, a sua participação nos nossos projetos é para nós um enorme prazer.
Queira fazer o favor de partilhar connosco (e com o público leitor) as
motivações que o levaram a enveredar pelo fascinante mundo da Poesia e da
divulgação/promoção da mesma.
Von Trina: Curiosamente
não foi por inspiração divina de qualquer deus clássico das artes.
ESCREVER:
Sou
disléxico (gosto de dizer e grafar ‘deslexico’,
um cruzamento de disléxico com desleixado) e tenho uma memória visual das
palavras, portanto a solução na infância era praticar… escrever, escrever, escrever…
POESIA:
Um dia ainda na escola primária, descobri um poema
do meu pai, publicado num jornal e apaixonei-me pela forma e género.Descobri ao longo da vida que a poesia nunca me traiu, ou abandonou,
pelo contrário sempre esteve comigo, leal e carinhosa, embora este espírito de ‘vampiro de emoções’, de observador atento, me obrigue a «carregar
aos ombros todos os males do mundo, mas também toda a sua beleza».
2.
Extravasar: Fale-nos do
processo de construção das suas obras literárias bem como das dificuldades que
sente (ou não) na sua elaboração e na afirmação das mesmas junto dos leitores.
Von Trina: Nunca
senti qualquer tipo de dificuldade, ou bloqueio, para escrever poesia. Sempre
tive as ideias e orientações na cabeça, por vezes uso uma ou outra frase que
oiço e aponto num caderninho.
A
poesia por vezes ‘emerge’ em mim de
modo tão virulento como numa ‘erupção’,
de modo tão compulsivo e obrigatório que me obriga a parar tudo, para a
transpor (normalmente primeiro) para o papel.
Componho, escrevo, normalmente em bares e cafés, observando o
comportamento humano.
Feira do Livro de Lisboa, 2019 – Foto do Blogue Extravasar
3.
Extravasar: Se possível, faça-nos
um pequeno resumo da sua obra mais emblemática e destaque um ou dois temas que
possam eventualmente gerar mais interesse, polémica e/ou surpresa junto do
público leitor.
Von Trina: Considero
que a minha obra mais emblemática é a primeira, «A DÁDIVA ASTUCIOSA DOS
DEUSES», Ed. Minerva, 2000.
Foi
o livro fundador, iniciático, desta aventura excitante da publicação. Nela
deixei expressa as minhas influências culturais, ao que vinha e por onde iria,
libertando-me para ser autónomo nesta ‘via
sacra’ da poesia e intervenção cultural, o meu modo favorito de exercer a
cidadania.
O AMOR E A MULHER, A ESPANTOSA COMPLEXIDADE HUMANA
E A SOCIEDADE EM QUE VIVO, serão sempre e obrigatoriamente as minhas temáticas.
4.
Extravasar: A que tipo de
pessoas (eventuais leitores) poderá interessar mais a sua obra e porque razão
ou razões.
Von Trina: A
minha percepção é que primeiro a minha obra interessa-me a mim, porque cumpre a
minha necessidade compulsiva de escrever e intervir, mas não sustento a mínima ilusão que os poemas depois de lidos deixam de ser
da minha autoria e refletem a interioridade e progenitoria de quem os lê,
muitas vezes num sentido, ou direção, diversa da minha ao escrever.
Intuo
que a minha poesia pode interessar a todos os que amem este género, possuam
sentido de humor e amor e sendo seres atentos possuam a coragem, a necessidade
e sobretudo a sensibilidade de explorarem a minha/sua interioridade e
intimidade.
5.
Extravasar: Partilhe connosco
e com o público leitor a forma mais prática e eficaz de se comprar/adquirir os
seus livros.
Von Trina: Ui…
Não sendo nenhum poeta da moda, ou que escreveu séculos atrás; não sendo uma
figura pública; não necessitando destas receitas para viver; e nunca me tendo
preocupado muito com o tema; tenho dificuldade em responder.
Os (meus) livros que tenho disponíveis dou a amigos, divulgadores
culturais, bibliotecas, para difusão pública considerada de interesse. Quando me
solicitam mais exemplares, ou mostram interesse em obter algum fora destes
parâmetros, aconselho a procura nos pontos de venda de livros, ou diretamente
na respetiva editora.
(Edições
Colibri –Antologia ECLÉTICA e Coletânea MUNDO(S) obras coletivas onde sou co-autor – www.edi-colibri.pt).
Felizmente
tenho ainda alguns amigos, normalmente em cafés e bares onde escrevo, ou outros
estabelecimentos que frequento que mostram interesse em os vender no local.
O
que sinto hoje em dia nos seres humanos, é o medo como quem solicita
inconscientemente ajuda, porque sente-se a necessidade de mudança. Pedem-me
livros meus, ou que escreva «uns versos, ou poema» para impressionarem a
namorada ou a esposa. Compram-me letras de canções, ou simplesmente
querem saber se as posso ceder. Dificilmente ousam a diferença que pressiona e pode
ajudar a mudar mentalidades.
6.
Extravasar: Queira destacar
e partilhar connosco e com o público leitor o seu melhor projeto literário até
agora. Fale-nos também dos eventuais projetos para o futuro.
Von Trina: Adoro participar e colaborar nas coletâneas e antologias que integrem
autores cuja Pátria é a lingua portuguesa.
Poetas diversos que espelham realidades tão diferentes, mas unidos pelo idioma.
Contudo
estou seguro, enquanto ser ‘irregular e
imprevisível’ que o meu melhor projeto de futuro, será o próximo.
Talvez
dentro de alguns anos, outro livro individual.
7.
Extravasar: Qual a sua
opinião e sensibilidade sobre o mercado livreiro em Portugal e na Europa? O que
melhoraria e o que alteraria neste complexo mercado?
Von Trina: As
pessoas, os cidadãos, estão temerosos e esmagados, por uma intuição de futuro
incerto e uma realidade castradora de diferenças. Somos conduzidos pelos caminhos
culturais ‘certinhos’ para não
pensarmos, logo questionarmos. A poesia é precisamente o contrário deste modo
de vida.
É
conveniente não escolher ler, porque nos obriga a acreditar no que nos dizem ou
mostram. A realidade do mercado livreiro global reflete exatamente esta tormentosa
situação.
Será
necessário regressar à infância e à fascinante «idade dos porquês» para
formarmos cidadãos autónomos e irrequietos intelectualmente. Nós, os outros, seremos sempre «uma estranha forma de vida» excêntrica.
8.
Extravasar: Sabemos que infelizmente
a Comunicação Social tradicional (Imprensa / Rádio / Televisão) dá pouco
destaque aos Poetas/Escritores e os poucos que são “falados” / resenhados,
acabam sempre por ser os mesmos. O que pensa disto e o que propõe para que os Media passem a fazer o seu trabalho e a
terem de facto uma atitude de equidade e de justiça?
Von Trina: Nós
pagamos um serviço público nos Média, mas o interessante é segregado para um
nicho de divulgação quase inacessível.
Estrategicamente
teremos que regressar à formação e educação infantil.
Taticamente temos que pressionar, formar, responsabilizar as elites
culturais - nós os que escrevemos e nos atrevemos - a serem inquietas, ousadas
e determinadas.
Todos
nós faremos a diferença!
9.
Extravasar: Muitas outras questões ficaram por colocar,
contudo, foi para nós um prazer e um privilégio termos “conversado” consigo e
termos conhecido um pouco melhor o homem e o poeta Von Trina. Agradecemos a sua
participação nos nossos projetos e pedimos-lhe que deixe uma mensagem/recado
e/ou um desejo final.
Von Trina: ‘TENHAM ESPERANÇA, SEJAM EXIGENTES’.
Somente
isso.
Obrigado,
o prazer foi meu. Desculpem algo mais inconveniente, mas é o que penso.
10.
Extravasar: Escolha por favor um pequeno excerto e/ou poema de
um dos seus livros (publicados ou a publicar). Desejamos-lhe todo o sucesso e
sorte do mundo pois a sua obra bem o merece.
Von Trina:
«perturbas(me)
tanto
como raio de luz
rasgando a escuridão
nesse teu jeito
que me deixa sem jeito
nas arcadas (da vida)
o poeta
sobrevivente de mil naufrágios
não sabe competir
nem conhece
a dança da sedução
apenas tem palavras
doces
e significados
afetos
admiração
e um coração
que pode surpreendentemente
confortar(te)
(sem engates)»
1 comentário:
Está de parabéns o nosso querido poeta Von Trina por esta excelência elevada ao máximo da sua entrevista e também está de parabéns o entrevistador por ter puxado com elevação a forma fascinante das perguntas .
Enviar um comentário