06 março 2020

ENTREVISTA (1ª Parte) de Von Trina concedida ao Blogue EXTRAVASAR. Não deixe de ler esta excelente Entrevista de um poeta "fora da caixa". Divirta-se!


ENTREVISTA de
Von Trina
(Poeta, ativista cultural, apaixonando
por História e mais 500 coisas…)

concedida ao blogue E
XTRAVASAR,
em março de 2020

Blogue EXTRAVASAR
Divulgamos Cultura!




1. Extravasar: Caro poeta Von Trina, a sua participação nos nossos projetos é para nós um enorme prazer. Queira fazer o favor de partilhar connosco (e com o público leitor) as motivações que o levaram a enveredar pelo fascinante mundo da Poesia e da divulgação/promoção da mesma.

Von Trina: Curiosamente não foi por inspiração divina de qualquer deus clássico das artes.

ESCREVER:
Sou disléxico (gosto de dizer e grafar ‘deslexico’, um cruzamento de disléxico com desleixado) e tenho uma memória visual das palavras, portanto a solução na infância era praticar… escrever, escrever, escrever…

POESIA:
Um dia ainda na escola primária, descobri um poema do meu pai, publicado num jornal e apaixonei-me pela forma e género.Descobri ao longo da vida que a poesia nunca me traiu, ou abandonou, pelo contrário sempre esteve comigo, leal e carinhosa, embora este espírito de ‘vampiro de emoções’, de observador atento, me obrigue a «carregar aos ombros todos os males do mundo, mas também toda a sua beleza».

        
  2. Extravasar: Fale-nos do processo de construção das suas obras literárias bem como das dificuldades que sente (ou não) na sua elaboração e na afirmação das mesmas junto dos leitores.

Von Trina: Nunca senti qualquer tipo de dificuldade, ou bloqueio, para escrever poesia. Sempre tive as ideias e orientações na cabeça, por vezes uso uma ou outra frase que oiço e aponto num caderninho.
A poesia por vezes ‘emerge’ em mim de modo tão virulento como numa ‘erupção’, de modo tão compulsivo e obrigatório que me obriga a parar tudo, para a transpor (normalmente primeiro) para o papel.
Componho, escrevo, normalmente em bares e cafés, observando o comportamento humano.


Feira do Livro de Lisboa, 2019 – Foto do Blogue Extravasar

  3. Extravasar: Se possível, faça-nos um pequeno resumo da sua obra mais emblemática e destaque um ou dois temas que possam eventualmente gerar mais interesse, polémica e/ou surpresa junto do público leitor.

Von Trina: Considero que a minha obra mais emblemática é a primeira, «A DÁDIVA ASTUCIOSA DOS DEUSES», Ed. Minerva, 2000.
Foi o livro fundador, iniciático, desta aventura excitante da publicação. Nela deixei expressa as minhas influências culturais, ao que vinha e por onde iria, libertando-me para ser autónomo nesta ‘via sacra’ da poesia e intervenção cultural, o meu modo favorito de exercer a cidadania.
O AMOR E A MULHER, A ESPANTOSA COMPLEXIDADE HUMANA E A SOCIEDADE EM QUE VIVO, serão sempre e obrigatoriamente as minhas temáticas.

   
  4. Extravasar: A que tipo de pessoas (eventuais leitores) poderá interessar mais a sua obra e porque razão ou razões.

Von Trina: A minha percepção é que primeiro a minha obra interessa-me a mim, porque cumpre a minha necessidade compulsiva de escrever e intervir, mas não sustento a mínima ilusão que os poemas depois de lidos deixam de ser da minha autoria e refletem a interioridade e progenitoria de quem os lê, muitas vezes num sentido, ou direção, diversa da minha ao escrever.
Intuo que a minha poesia pode interessar a todos os que amem este género, possuam sentido de humor e amor e sendo seres atentos possuam a coragem, a necessidade e sobretudo a sensibilidade de explorarem a minha/sua interioridade e intimidade.


  5. Extravasar: Partilhe connosco e com o público leitor a forma mais prática e eficaz de se comprar/adquirir os seus livros.

Von Trina: Ui… Não sendo nenhum poeta da moda, ou que escreveu séculos atrás; não sendo uma figura pública; não necessitando destas receitas para viver; e nunca me tendo preocupado muito com o tema; tenho dificuldade em responder.
Os (meus) livros que tenho disponíveis dou a amigos, divulgadores culturais, bibliotecas, para difusão pública considerada de interesse. Quando me solicitam mais exemplares, ou mostram interesse em obter algum fora destes parâmetros, aconselho a procura nos pontos de venda de livros, ou diretamente na respetiva editora.
(Edições Colibri –Antologia ECLÉTICA e Coletânea MUNDO(S)  obras coletivas onde sou co-autor – www.edi-colibri.pt).
Felizmente tenho ainda alguns amigos, normalmente em cafés e bares onde escrevo, ou outros estabelecimentos que frequento que mostram interesse em os vender no local.
O que sinto hoje em dia nos seres humanos, é o medo como quem solicita inconscientemente ajuda, porque sente-se a necessidade de mudança. Pedem-me livros meus, ou que escreva «uns versos, ou poema» para impressionarem a namorada ou a esposa. Compram-me letras de canções, ou simplesmente querem saber se as posso ceder. Dificilmente ousam a diferença que pressiona e pode ajudar a mudar mentalidades.


   6. Extravasar: Queira destacar e partilhar connosco e com o público leitor o seu melhor projeto literário até agora. Fale-nos também dos eventuais projetos para o futuro.

Von Trina: Adoro participar e colaborar nas coletâneas e antologias que integrem autores cuja Pátria é a lingua portuguesa. Poetas diversos que espelham realidades tão diferentes, mas unidos pelo idioma.
Contudo estou seguro, enquanto ser ‘irregular e imprevisível’ que o meu melhor projeto de futuro, será o próximo.
Talvez dentro de alguns anos, outro livro individual.
 

   7. Extravasar: Qual a sua opinião e sensibilidade sobre o mercado livreiro em Portugal e na Europa? O que melhoraria e o que alteraria neste complexo mercado?

Von Trina: As pessoas, os cidadãos, estão temerosos e esmagados, por uma intuição de futuro incerto e uma realidade castradora de diferenças. Somos conduzidos pelos caminhos culturais ‘certinhos’ para não pensarmos, logo questionarmos. A poesia é precisamente o contrário deste modo de vida.
É conveniente não escolher ler, porque nos obriga a acreditar no que nos dizem ou mostram. A realidade do mercado livreiro global reflete exatamente esta tormentosa situação.
Será necessário regressar à infância e à fascinante «idade dos porquês» para formarmos cidadãos autónomos e irrequietos intelectualmente. Nós, os outros, seremos sempre «uma estranha forma de vida» excêntrica.



  8. Extravasar: Sabemos que infelizmente a Comunicação Social tradicional (Imprensa / Rádio / Televisão) dá pouco destaque aos Poetas/Escritores e os poucos que são “falados” / resenhados, acabam sempre por ser os mesmos. O que pensa disto e o que propõe para que os Media passem a fazer o seu trabalho e a terem de facto uma atitude de equidade e de justiça?

Von Trina: Nós pagamos um serviço público nos Média, mas o interessante é segregado para um nicho de divulgação quase inacessível.
Estrategicamente teremos que regressar à formação e educação infantil.
Taticamente temos que pressionar, formar, responsabilizar as elites culturais - nós os que escrevemos e nos atrevemos - a serem inquietas, ousadas e determinadas.
Todos nós faremos a diferença!


  9. Extravasar: Muitas outras questões ficaram por colocar, contudo, foi para nós um prazer e um privilégio termos “conversado” consigo e termos conhecido um pouco melhor o homem e o poeta Von Trina. Agradecemos a sua participação nos nossos projetos e pedimos-lhe que deixe uma mensagem/recado e/ou um desejo final.

Von Trina: TENHAM ESPERANÇA, SEJAM EXIGENTES’.
Somente isso.
Obrigado, o prazer foi meu. Desculpem algo mais inconveniente, mas é o que penso.


  10.           Extravasar: Escolha por favor um pequeno excerto e/ou poema de um dos seus livros (publicados ou a publicar). Desejamos-lhe todo o sucesso e sorte do mundo pois a sua obra bem o merece.

Von Trina:

«perturbas(me)
tanto
como raio de luz
rasgando a escuridão
nesse teu jeito
que me deixa sem jeito
nas arcadas (da vida)

o poeta
sobrevivente de mil naufrágios
não sabe competir
nem conhece
a dança da sedução
apenas tem palavras
doces

e significados
afetos
admiração
e um coração
que pode surpreendentemente
confortar(te)
(sem engates)»



1 comentário:

José Moreno disse...

Está de parabéns o nosso querido poeta Von Trina por esta excelência elevada ao máximo da sua entrevista e também está de parabéns o entrevistador por ter puxado com elevação a forma fascinante das perguntas .