12 maio 2025

"escrever FERNANDO PESSOA(S)" - Prefácio/"Avulsas Impressões" por Ângelo Rodrigues. Coletânea das Edições Colibri a ser apresentada no dia 15 de junho (domingo) das 17 às 17:45 horas na Praça Amarela da Feira do Livro de Lisboa. Contamos consigo, familiares e amigos!

 



AVULSAS IMPRESSÕES
por Ângelo Rodrigues
(Coordenador e, talvez, aprendiz de
Sentido e/ou crítico literário; maio de 2025)

  

«As pessoas esperam de um escritor o que antes esperavam de um padre.
Querem orientação espiritual e moral, uma das maiores necessidades
do nosso mundo moderno.»

Alberto Morávia

  
«Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.»


Fernando Pessoa

 

«Sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do mundo.»

Fernando Pessoa

 

 

 

Caros autores desta assumida “obra de culto”; obrigado por serem quem são e por estarem connosco nesta nova ”aventura literária” das Edições Colibri (uma editora do mundo e para o mundo). Temos orgulho nesta “família (ou irmandade) literária” e oxalá possamos, como sonhamos, deixar um bom e peculiar legado às futuras gerações. Que nos seja permitida uma saudação muito especial aos autores que integraram as coletâneas “escrever CAMÕES” e “escrever ANTERO de QUENTAL”, pois despertaram, motivaram e galvanizaram-nos para novas e outras “aventuras literárias” que se impõem cada vez mais e que ajudarão — estamos certos — a dar mais sentido, valor e propósito às nossas vidas. É um renovado prazer, um gosto acrescido e um privilégio nosso, poder contar convosco neste novo projeto literário assumidamente diferenciado, eclético e “de culto” (seja lá isso o que for, pois — entre outras valências e semânticas — pode ser com toda a certeza algo de bom e de necessário), que pretende não só, mas também — e principalmente —, homenagear, “prestar tributo/(fazer a devida apologia)”, compreender, conceptualizar, reconhecer, refletir, argumentar, problematizar, especular e celebrar, a par de Camões e de Antero de Quental, (os já “celebrados”),  uma figura ímpar e incontornável da Literatura e do Pensamento não só de Portugal, mas do mundo, que é Pessoa(S); o nosso maior poeta (e também filósofo e esteta) contemporâneo (e de todos os futuros próximos e longínquos). Esta demanda literária consubstancia-se numa espécie de “hino à multiplicidade” e procura enfatizar a riqueza que surge da diversidade e da ousadia de interpretações, como se cada autor desta diferenciada obra, fosse um novo (mais um) heterónimo de Pessoa e de si próprio (em busca de si e na procura pela essência da vida). A nossa vida é, por excelência, heteronomia progressiva, e, colocar máscaras (o que muito fazemos sem quase nunca nos darmos conta), é o mesmo que vestir, a cada dia, uma roupa diferente, e é também isto o encanto da coisa como muito bem nos ensina Fernando Pessoa(S). Assim, o desafio, a demanda, o caminho…, é continuarmos a explorar e a expandir o riquíssimo e “desconcertante/inovador” uni-Verso pessoano (que teve um princípio, mas que não terá fim). Com este projeto, celebramos a diversidade e a riqueza da obra pessoana que é esmagadora-mente (pois foi também um grande mentiroso como sabemos… “o poeta é um fingidor”) original, intemporal, visionária e inacabada. Reinventamos com Pessoa(S) o Mundo e a Vida e vamos um pouco mais além. Estamos em Arte e criamos Arte; e Fernando Pessoa(S) continua a ser o grande inspirador e mestre da nossa inquietação e insatisfação. Ele é a semente que nunca se perdeu e que — cada vez mais — se multiplica; a semente que germina em diferentes solos e climas, dando origem a frutos diversos, mas todos eles carregando a essência e  a genética da “planta original”. “escrever FERNANDO PESSOA(S)” é como entrar numa casa cheia de espelhos que refletem a nossa imagem (qualquer coisa do nosso “EU” psicanalítico…) que já não é a nossa verdadeira imagem nem nunca será. Resta-nos afirmar bem alto, com coragem, ousadia e alguma rebeldia herdada de Pessoa(S): abaixo a ortodoxia e viva a heterodoxia e a heteronomia! Entra também nesta onda… procura-Te-Nos e vai “tertuliar” com os Outros que há em ti e em Nós. Aplica-Te e aplica-Te-Nos a tua coragem e ousadia. Transforma-Te e transforma-Nos. Revoluciona-Te e revoluciona-Nos. Segue em frente e surpreende-Te-Nos. Tal como Pessoa(S), ousa OUTRAR-TE! Depois da fruição desta obra, duas “experiências” te vão certamente acontecer: o Espanto e o “Outrar”.

 

Perante a necessidade de uma reflexão autêntica e sentida sobre Fernando Pessoa, ficamos sempre com a sensação (obviamente que errada, algo arrogante e até precipitada) de que tudo já foi escrito e dito sobre o grande poeta, o místico, o espiritualista, o esteta e o grandioso pensador… Não, não foi, e estará quase tudo por dizer. DIZ também! Está muito ainda por fazer, compreender, iluminar e revelar, e, sobretudo, a necessidade e urgência desta obra (que não é apenas mais um tributo, uma apologia e celebração, mas, mais do que isso, talvez seja uma demanda espiritual que agora começa, uma outra viagem ao centro da Alma do grande escritor e exímio pensador). Obrigado a quem teve a coragem e a ousadia de nela (viagem almífica) participar e obrigado a quem nos vai ler, fruir, inquietar, sentir, e... Preparem-se para entrar em “mundos alternativos” e inexplorados. Preparem-se para sonhar e para sair da vossa galáxia. Preparem-se para continuarem a ser quem são, e, sobretudo, para serem quem nunca julgaram que foram. Vamos, com Pessoa(S), OUTRAR (um “poderoso verbo” que é urgente conjugar). Provavelmente, o que mais importa (a essência de tudo), reside no que ainda não conseguimos ser. Somos obviamente suspeitos, mas também sabemos que esta obra poderá ser uma ajuda preciosa para a nova aventura que fará necessariamente parte integrante (e desejável) da tua nova Vida. Vem daí! Muda-Te! Muda-Nos! Revoluciona-Te-Nos!

 

Cada autor desta obra “de culto” podia ser mais um heterónimo de Pessoa(S) — e nada nos garante que não o seja de facto —. Vamos a isso!, que tenhamos vontade de jogar o jogo das heteronomias que o grande Fernando nos propôs, e, assim, fintar um pouco a Morte (jogar/brincar também com ela), cansá-la até cair de exausta, baralhá-la, dar-lhe luta e depois logo se verá o que acontece. Acreditamos que ela é apenas a guardiã de uma porta para um lugar de magia e de encantos mil (contendo uma riquíssima e imensa Biblioteca) — talvez a Eternidade — (várias vezes o temos reiterado, mas também sabemos que alguns de nós — demasiados — andam distraídos com as muitas banalidades desta vida; com muito Ter e pouco Ser…). Quanto a ti, não sabemos, mas queremos e desejamos que este despretensioso projeto literário te possa inquietar, perturbar, revolucionar, iniciar na dúvida, e, quem sabe, proporcionar a necessária mudança que se impõe e que tarda. Vive já e agora o novo paradigma! Os próximos trinta parágrafos — um para cada autor — destas “avulsas impressões” serão dedicados aos corajosos autores que admiramos e que dão corpo, voz e Alma a este diferenciado “exercício literário e espiritual” que mais não é do que a tentativa de responder à derradeira, intemporal e velha pergunta (sempre atual e renovada em todas as gerações) que o Sócrates grego (e mais uns quantos nele inspirados) colocou: quem sou EU?

 

 

 

Abel Pereirinha está pela primeira vez num dos nossos projetos (calhou ser este e ainda bem) desta cada vez maior e mais fraterna “família literária” da Colibri.  Que seja bem vindo a esta também considerada por outros como uma espécie de “irmandade” e que, connosco, possa caminhar pelo tempo fora em busca do Sentido e da Essência, pois estamos todos de acordo que são as artes, e particularmente a Poesia, que nos pode dar uma boa ajuda à concretização/aproximação deste nobre desiderato. Alguém disse que é a Arte que nos salva, e quanto a nós, tem toda a razão. O Abel revela-se neste seu “exercício poético” um poeta de “primeira água”, e, assim sendo, é oportuno perguntar: onde andou ele até agora? Por que razão tardou a chegar a esta “família literária”? Vale mais tarde do que nunca e desejamos que este bom poeta (de excelência) permaneça connosco por muitos e bons anos, pois a sua Poesia ilumina-nos um pouco mais o caminho (que nunca é fácil), mas que se vai fazendo ainda com mais ânimo, entusiasmo (“O Deus dentro de si”) e vontade de. O Abel, tal como qualquer outro bom poeta, bem podia ser — de facto — um heterónimo de Pessoa, pois se lerem e fruírem com atenção a sua proposta poética (e façam mesmo isso pela vossa Alma!), chegarão certamente à conclusão que o “espírito” de Fernando Pessoa(S) anda por aqui, mais forte e luminoso do que nunca. Obrigado Abel por ser quem é e por nos orientar para o que realmente importa. Como bem diz este nosso poeta, “escrever é a sua autoterapia cognitiva”. Estamos com ele, pois sabemos que a melhor terapia são as artes, com a Poesia em primeiro lugar. É de realçar também o ecletismo e a coloquialidade do seu “exercício poético”, pois é alguém que nos lembra que a Poesia não é “coisa” para estar em pedestais nem apenas e só em mundos paralelos ou alternativos (demasiado desconhecidos para a maioria das pessoas); a Poesia deve estar em permanência nas nossas vidas e ser tão natural em nós como respirar. E deliciem-se, para já, com estes magníficos e belíssimos versos do Abel: «Que nunca olhar algum me prenda assim / Nem algemas me condenem movimentos / Porque os meus pés já sabem os caminhos / De tanto me trazerem e levarem / Pelas estradas desterradas dos sentidos / Sozinhos, a ser gente

 

Adelino Barros, tal como o poeta anterior, publica também pela primeira vez na “irmandade Colibri”.  Seja bem vindo amigo poeta e oxalá possa continuar connosco — com saúde e entusiasmo — por muito e significativo tempo, pois o seu “exercício poético” merece ser conhecido e partilhado; obrigado por ser quem é e por fazer Poesia que tanto nos sensibiliza e inspira. “Conhecemos” e admiramos a sua lindíssima terra e gentes (Ilha de Santiago — Cidade da Praia — Cabo Verde) e é sempre um enorme prazer e uma mais valia incluir nestes projetos, autores que escrevem, pensam e sentem em Português de outras latitudes (com outras influências… com outras matizes e nuances… e, também por isso, muito contribuem para o enriquecimento da nossa maravilhosa e expansiva Língua, da nossa Literatura, da nossa Cultura, da nossa Vida…). Obrigado Adelino por estar connosco e pela sua participação nesta obra. Leiam esta proposta poética não apenas porque é de “primeira água”, mas também porque o Adelino nos propõe uma abordagem outra (diferente e peculiar) sobre o grande poeta a que aqui prestamos (todos) tributo/apologia. Um poeta que se deixa (também) influenciar por Pessoa(S) de uma forma muito inovadora/criativa, mas que, apesar de desenvolver poemas de temática universal, jamais abandona (e ainda bem) as suas origens, padrões-culturais, paradigmas e particularidades regionais, e daí a peculiaridade, desafio e arrojo do seu “exercício poético”. Estamos perante uma poética rizomática, e, também por isso, autêntica e comunicativa, com imenso poder afetivo, sentimental, emocional e que nos orienta para várias, diferenciadas e diversificadas sensibilidades, pois o Novo é quase sempre desejável e fascinante. O Adelino reconhece, admira e presta tributo ao grande Fernando Pessoa(S) como ninguém, e canta-o (celebra-o) desta forma tão bela no seu poema que designou de “Poesias de Luz”: «Não mais contemplarão da luz! Imergem sob plena escuridão. / Pois, nunca leram Pessoa em si mesmos! Jamais perceberam de que… / Dentro do grosso há uma essência! E esta é a poesia do existir / Onde há luz autêntica do ser vida! Desgraçadamente jamais leram Pessoa!». Aproveitamos para vos recomendar vivamente o seu último livro ao qual dedicamos um episódio de “LIVRO(S) em direto” no início de 2025 (“UNIVERSO ÍNTIMO – Guerra em Mim” – Edição de Autor) e que, bem melhor do que nós aqui possamos dizer, partilhamos o penúltimo parágrafo do excelente prefácio que Paulo Veríssimo escreveu e que muito nos elucida e ilumina sobre o propósito maior do fazer poético do Adelino: «Estamos, pois, (…) perante um livro que nos convida a um exercício de introspecção, reflexão, auto-consciência e transcendência para além do corpo físico-finito, do imediatismo das nossas emoções e do nosso ego exacerbado, se quisermos em equilíbrio interno e externo, como nos ensina o estoicismo. Um feito só é possível a um grande poeta com uma formação bastante consolidada em filosofia, que acaba por ser a sua lente de observação e análise do ser-homem, e a sua poesia a sua voz, o seu grito de apelo à mudança».

 

Ana Maria Oliveira é poetisa “porque sim”; está connosco desde o início desta “aventura literária” e oxalá continue nesta demanda por muitos e bons anos. Tal como a maioria de nós, procura-se (e vai-se encontrando) com a ajuda das artes e particularmente da Poesia; e, à semelhança de outros poetas que dão corpo, alma e voz a este projeto, elege também o Amor como o tema por excelência de abordagem do seu diferenciado “exercício poético”. E destacamos estes versos da poetisa que devemos interiorizar, refletir e, porque não, dizer em voz alta com alguma regularidade: «E entrego-me ao sabor / De um amor livre, sem limite. / Mas, ai, por quem és tu! / E por quem sou eu, toda tua! / Displicentemente, / despersonalizo-me / E vendo a minha Alma ao teu Amor!». É mesmo uma pena, pois as novas gerações (e não só) deixaram de dizer (inclusive nas escolas), Poesia em voz alta. (Mas este assunto fica para outra reflexão mais didático-pedagógica e em obra e enquadramento mais adequados). A Ana revela-se a cada “exercício poético”, uma mulher de grande coragem e ousadia… é esta a impressão que nos fica após a leitura cuidada desta sua última incursão nesta obra. Dizemos coragem e ousadia porque a poetisa expõe-se e assume as suas emoções e sentimentos: alegria, dor, sofrimento, paixão, luxúria com elegância, êxtase... como que a dizer-nos à boa maneira dos românticos de todos os tempos: aqui estou!;  assim me apresento!; conheçam o melhor que há em mim e (talvez) em vós! Filho dos “errantes” Poros e Penia, Eros começa por ser pobre, mas, com o engenho que herdou de seu pai, consegue sempre um meio de ultrapassar os obstáculos comezinhos e lançar-se na aventura da busca da Beleza. Assim fazem os poetas filhos de Eros: buscam e alimentam-se da Beleza das “coisas” belas ou desejantes dela. O Mundo tem alma de Mulher!

 

Antónia Amaral é escritora — contista e ensaísta — (mas, acima de tudo, poetisa de excelência), mulher telúrica, “sibila do Bem e da Beleza”, amiga e boa conselheira, desbravadora de almas, apaixonada por Pessoa(S), Mistérios e Enigmas. É obrigatório ler a sua “reflexão” e considerações sobre Fernando Pessoa(S), pois trata-se de uma abordagem singular, obviamente entusiasmada, aqui e ali disruptiva, onde a escritora-ensaísta nos vai confessando sub-repticiamente não apenas o seu fascínio e admiração pelo “patrono” deste projeto, mas também o facto de connosco partilhar a grande influência que Pessoa(S) teve e continua a ter na sua escrita e também na compreensão e perceção que tem da Vida. E convidamos a ler o seguinte (que enfatiza o que acabamos de afirmar): «E deixando-me levar pela inspiração que Fernando Pessoa me suscita, caminho a seu lado porque tal como ele afirmou “Viver não é necessário; necessário é criar” e como lhe agradecemos o nobre sacrifício de abandonar a sua própria vida, pelo sentido da criação literária e poética


António Busca é um poeta com obra publicada na Colibri e temos o gosto e o privilégio de o ter — pela segunda vez connosco — neste terceiro livro da “coleção de tributo e apologia a grandes figuras/escritores da nossa Literatura”. É um poeta que sabe comunicar usando a “Linguagem do Coração e do Sentimento”, sendo simples sem ser simplista, e que nos sensibiliza e orienta para a beleza e encanto do Mundo e da Vida. A nosso ver, a sua poesia é bastante cinemática/cinematográfica/imagética (pois também nos conta histórias que mais não são do que as nossas próprias histórias, as histórias que nos ajudam a encontrar e a compreender…) e, um pouco à semelhança de Cesário Verde (um outro grande poeta português que irá merecer oportunamente a nossa atenção e tributo), cada poema seu é uma espécie de “postal ilustrado”, o que nos obriga, de alguma forma, a focarmo-nos no essencial, e o essencial são mesmo as pequenas-grandes coisas deste mundo e o “rame-rame” (o quotidiano refletido e escrutinado) das nossas vidas, que, na ótica do poeta António, deve ser não apenas vivido, mas refletido (poeticamente de preferência). Como disse o grande filósofo grego Sócrates, «uma vida não examinada-refletida-pensada, não vale a pena ser vivida». Leiam e fruam os versos do António e irão perceber exatamente o que estamos a dizer. O António desenvolve um “exercício poético” muito singular, e tem a particularidade acrescida de conseguir reparar naquilo que a maior parte de nós apenas vê; e, tal talento, é apanágio dos poetas autênticos, verdadeiros e apaixonados pelo Mundo, pelos Mistérios e pela Beleza da existência. Ele é um “existencialista” que repara (que nos repara) e que nos arrasta para a Beleza das coisas com o poder do seu Olhar diferenciado… É de facto um apaixonado por Poesia, e, sem ela, para ele, tal como para muitos de nós, a existência que conhecemos por agora, pouco sentido teria. E o poeta partilha connosco o seguinte (na sua sinopse biobibliográfica): «Sou um romântico, um sonhador e assim se poderá explicar a paixão pela Poesia e também pelas histórias / crónicas que em cada momento conseguimos transferir para os outros.» E sobre o grande poeta que a todos inspira (e que inspirou este livro), diz-nos o António que — segundo o próprio — nada tem de Pessoa, mas que, arriscamos dizer nós, muito tem de Alberto Caeiro (um outro que também é de Pessoa): «De Fernando nada tenho / Sou pessoa sem o ser / António, apenas sou / Gosto com as letras brincar / Para tentar glosar temas / E com elas fazer poemas…»

 

António C. Guerreiro revela-se mais uma vez um poeta extraordinário, dono de um estilo peculiar, com um pé na tradição (que se deve especular, refletir e criticamente preservar) e outro na contemporaneidade (ousado, disruptivo, experimentador), um misto de “continuidade clássica” e de “experimentalismo cuidado e elegante”, o que torna o seu “exercício poético” diferenciado e inovador, apesar de certos temas/assuntos quase sempre presentes, é um exercício eclético (com temáticas tradicionais e outras visionárias). Estamos perante uma poesia desbravadora e desocultadora (também desconstrutiva), que se inspira ora nos grandes clássicos, ora nos contemporâneos, e, ele próprio — o poeta —, uma inspiração para todos nós.  Eis um pouco do António C. Guerreiro nas suas próprias palavras: «Os temas mais comuns relacionam-se com a natureza (o mar e a água, o solo vivo e a terra, a árvore, a fauna e a flora, a tempestade, a luz e a escuridão, o sol, as estrelas, o Cosmos, etc.) associados à condição humana, ao seu pensar e sentir, à viagem, ao entendimento da vida, à intimidade da experiência, à superação de obstáculos, ao crescimento interior, à descoberta e ao alargar da consciência.» A sua proposta poética — como acima se refere — traduz-se numa ousada interação criativa entre o clássico e o contemporâneo.  Fruam estes belíssimos versos percecionando e confirmando, a partir da vossa própria mundividência, experiência e perceção, o acima dito: «Abre-se caminho pela abóbada celeste / No anteparo da proa, pontavante / Sopra, venta, suave, agreste / Bebem-se os ventos por mão no sextante / Qual a angular distância, / entre as fixas luzes que se movem? / E sua altura acima da linha de vigilância, / acima do horizonte, das vistas que se cobrem?»


António Mota é um escritor e poeta de “primeiríssima água”, sendo também um crítico literário de excelência e a ter cada vez mais em consideração. Temos o privilégio e o gosto de ter um prefácio seu no nosso último livro (“Do Princípio e do Fim”, 2022, Edições Colibri), texto crítico que nos honra e que muito revela da sua mestria, da sua imensa cultura geral e literária, da sua estética e sensibilidade, estilo e forma tão  peculiares e diferenciados, bem como do seu profundo conhecimento da “condição humana” (de leitura obrigatória, que é desejável, urgente e absolutamente necessário — como muito bem recomenda a cada exercício literário — pensar, refletir e especular cada vez mais e melhor).  O António tem a capacidade de renascer a cada projeto e de nos fazer renascer (mais puros, atentos à Vida e ao Mundo, mais límpidos e luminosos) em cada “palavra literária e pensante” que regista. Eis pois, um escritor e poeta que trata o humanismo por tu e que “olha” para o Mundo e para o Homem não apenas para o compreender (antropologicamente, cientificamente, filosoficamente, religiosamente, espiritualmente e poeticamente), mas sobretudo para o transformar e para o elevar à sua máxima plenitude. É nossa (nele inspirada), mas muito mais dele do que nossa, esta maravilhosa ideia que traduzimos nestas singelas palavras (que todos nós devemos interiorizar e pôr em prática a cada momento das nossas vidas): “o Homem é um ser de Subir, pois só assim terá sentido a sua vida”. Subir não é uma impossibilidade e muito menos uma utopia, nem nunca será; Subir é a tal dimensão humana que nos transformará em deuses. Eis um homem extraordinário, visionário, um pouco rebelde, disruptivo, revolucionário, vanguardista, aglutinador de todas as crenças e transformações…; a sua proposta literária é uma espécie de “Religião nova” (ou até “não-Religião”) que inclui e supera todas as outras e que se chama SUBIR. Com o António, a ideia é mesmo a do Religare – voltar ao Uno. O António é um super-poeta muito à frente e que a cada “exercício literário” nos inspira cada vez mais e nos indica e orienta no “caminho da ladeira”. O também poeta como que nos diz mais ou menos o seguinte: está mais do que na hora… é tempo de SUBIR! Eis o António Mota, o escritor e poeta que muito admiramos, com que aprendemos desconstruindo…, que tanto nos inspira. À semelhança do grande Pessoa(S), o nosso poeta conjuga o verbo “Outrar” de uma forma mágica e encantatória. A maioria dos seu poemas/textos poéticos são também como que “orações a todos os deuses” e funcionam em nós como “guias axiológicos e gnosiológicos” que conseguem (de facto) orientar-nos para melhor (qualquer coisa que provisoriamente designamos, à falta de ultra-conceitos, de Verdade, de Conhecimento, de Bem e  de Beleza… o que é grandioso por si só) e converter também as nossas utopias em realidades, vivências quotidianas em que o Sentido fica descodificado e mais enriquecido a cada momento. Para o nosso poeta, a vida deve ser uma celebração permanente de Sabedoria e de Ética (que ajudará a revelar o Homem divino que existe em cada um de nós). O “exercício poético” do António Mota consubstancia-se no Homem novo, uma espécie de “super-Homem” (que não sendo de todo o famoso conceito — e semântica —  de Nietzsche em “Para Além do Bem e do Mal”, a Poesia e Filosofia do António pretende fazer de nós sonhadores, espíritos livres, críticos e cada vez mais sábios. Em síntese, ele nos diz algo do género: abandona os “teus rebanhos” e procura dentro de ti mesmo as “tuas montanhas” que sempre lá estiveram, mas que até agora, por tão distraído que andas, com os muitos ruídos deste mundo, nunca nelas reparaste. Assim, repara e repara-Te-Nos! Segue a tua estrela e sê livre! E, também a propósito do que acabamos de partilhar, deliciem-se com este belíssimo naco de prosa poética que lá no alto sempre está e que também para o alto nos convida a ir: «A terra é aquilo que do universo veio feito e persistiu, e se fez a si mesma com o tempo que lhe dado. A ti, meu irmão e mestre, mentes conjugadas da fábrica do humano, falta um se apenas, para se entender o homem, o universo, e tudo. Talvez seja melhor parar para pensar. Não podemos caminhar num caminho de vazio. Peguemos na nossa bandeira. Bastam três para salvar a nossa aldeia.» Obrigado António Mota por estar mais uma vez connosco, por ser quem é e por nos convidar e ensinar a Subir.

 

António Ramalho é um escritor, ensaísta e poeta espantoso, sensível, curioso, desbravador e disruptivo, com uma obra e produção literária incrível e invejável. Tudo o que possamos dizer sobre ele, ficará sempre aquém (qual “Teologia do Negativo” que o nosso poeta bem conhece…). Em cada livro seu que vai saindo (uma obra já bastante considerável, sendo a maioria da sua produção literária com a chancela das Edições Colibri) o escritor — em praticamente todos os géneros literários que explora e domina — vai-nos surpreendendo e iluminando com a sua peculiar descodificação e desbravamento dessa coisa que designamos de “condição humana”. Não deixem de ler a sua trilogia (mais de mil e quinhentas páginas fantásticas) «O Código da Vida» das Edições Colibri. É, de facto, um projeto literário de leitura obrigatória e que muito recomendamos. É um projeto ousado e diferenciado de um escritor que nos surpreende, que nos espanta e encanta a cada livro que publica. Citamos e partilhamos — agora e aqui — o que mais nos marcou do seu trabalho de excelência incluído nesta obra de tributo/apologia a Fernando Pessoa(S), pois o António é também um conhecedor e um verdadeiro Pessoano e estes maravilhosos versos provam isso mesmo: «Naquele sentido de ser / O desconhecido caminhando, / Diz apenas o que é verdadeiro / Pela estrada ganhando uma chama, / O longínquo / Na alma que foi deixar / A metáfora no infinito.»

 

Carlos Guerra Vicente é o esteta, um bom amigo do Espanto e um curioso disruptivo que nos inspira. Temos o prazer e o privilégio de o conhecer cada vez mais e de ir convivendo (em eventos, apresentações e tertúlias) com este também amigo que muito consideramos e admiramos. A perceção que vamos desenvolvendo, enriquecendo e fundamentando sobre o também poeta, criador e humanista por excelência, aqui em reflexão, traduz-se nesta síntese singela que apresentamos desta forma: ele é um “Homem do Renascimento” (talvez a reencarnação de um tal Leonardo Da Vinci). Temos o exímio poeta e escritor, o artista plástico e também o apaixonando por Música (talvez a Arte das artes — a grande Arte a par da Poesia —). Conselho para levarem mesmo a sério: não deixem de ler e fruir os belíssimos poemas que o também poeta aqui nos deixa, e, com eles e a partir deles, alimentem a vossa sensibilidade, cuidem da estética pessoal e da estética do Mundo até ao limite, pois tudo o que vem da pena do Carlos Guerra Vicente se nos apresenta como a preparação última (pois parece sempre à nossa perceção que mais nada há para dizer como se fosse uma espécie de Tratado Absoluto), derradeira e necessária, para podermos estar prontos e entrar numa espécie de “portal” que nos levará a outro patamar ou paradigma (ontológico/metafísico/infinito/eterno), mais orientado para a autenticidade e plenitude da Vida; que nos indica caminhos até agora pouco ou nada percorridos. Inspira-te no autor e percorre os caminhos (sem pressa, mas sem perderes mais tempo). A Poesia do Carlos é bela, é diferenciada, peculiar… o seu “exercício poético” convida-nos à introspeção; convida-nos a crescer almifica-Mente e também a sermos mais e melhor, pois o caminho é para cima, e, quanto mais subirmos na ladeira espiritual, mais Luz teremos (e não será por acaso que o Carlos e o poeta António Mota partilham — podemos assim dizer — da mesma estética e propósitos). O nosso poeta é sub-reptício quanto baste e tem um poder de crítica (de argumentação poética) e de balanço, sobre praticamente tudo, fora do comum (muitas vezes “fora da caixa”, e isso tem mesmo que ser evidenciado e reconhecido). Bem sabemos que é único e irrepetível e podemos entender e considerar a sua existência nesta reencarnação (a atitude e a filosofia de vida) do autor-Criador e da sua obra (em praticamente todas as dimensões) como uma “obra de Arte” por excelência. Leiam estes extraordinários poemas do Carlos, pois, para além do já dito, ele descodifica, desmistifica e desconstrói  a pessoa de Pessoa(S) bem como, numa espécie de brincadeira séria sobre a “condição humana” — obviamente inspirado em Pessoa(S) —, diz-nos sem peias: a tua Alma está aqui, na essência destes versos; tu és muitas Pessoa(S); encontra-Te e encontra-Nos! Assim, esta proposta literária é algo psicanalítica (também terapêutica); é uma espécie de espelho que nos apresenta várias perspetivas e dimensões demasiado importantes das nossas vidas, mas que, por razões várias, tendemos a não as considerar e está mais do que na hora de inverter essa atitude/procedimento/comportamento. Não deixem também de apreciar os magníficos, diferenciados e pertinentes desenhos a carvão do Carlos que, à sua maneira, são também excelentes poemas pictóricos que merecem ser cada vez mais conhecidos, apreciados e divulgados. Citamos e partilhamos estes maravilhosos versos que são mesmo para fruir, também para “comer” (o famoso conselho da Natália Correia), e para repetir de vez em quando: «Por isso eu já não sou do tamanho do que vejo / nem avisto quanto da terra se pode ver do Universo / agora coberto por um crepuscular véu carbónico / estendido por incúria e maldição / por um insano e desprezível ser que lavra a sua extinção.»

 

Carlos Santos Bueno é o poeta que É. O bom amigo inquieto e irrequieto que está sempre a surpreender-nos pela natureza, qualidade e criatividade do seu trabalho. É um escritor disruptivo e experimentador — e nós gostamos muito disso —. Vamos sabendo que tem tantos ou mais heterónimos do que o próprio Fernando Pessoa(S), e, sempre que o lemos, temos a tendência (aceitamos ser essa perceção uma espécie de vício nosso) de o arrumar entre Pessoa(S) e Bocage (este último poeta o inspirador do quarto livro deste projeto literário). É um extraordinário poeta (também ensaísta e contista) que deve ser cada vez mais conhecido, apreciado e divulgado. É um escritor em constante busca/demanda; insatisfeito por natureza; inquietante e inquietador; provocador e desafiante; humorístico e rebelde; único e diferenciado; peculiar até dizer chega; culto e original; criativo, desbravador… A sua escrita é, por vezes, literariamente desconcertante, e até “docemente cáustica, mordaz, corrosiva”. Carlos Santos Bueno é aquele que diz — sem peias nem rodriguinhos — “abaixo o rebanho!, pois ser livre é a essência da humanidade”. Não deixem — entre outros — de ler «A Incrível História de Zarc», um extraordinário e espantoso livro deste autor publicado em 2019 pelas Edições Colibri. Citamos e partilhamos — aqui e agora — o que mais nos marcou do seu trabalho de excelência incluído nesta “obra de culto”. Eis um poeta que nos inquieta e perturba, pois é também para isso que serve a Poesia: «Pensar que o mundo / É um caso… / O Céu está suspenso, / E não se move sem Verdade… / Pensar que Deus / Uniu a vida / E um ponto, / Pensar que numa carta, / O mundo é uma frase…» Que tal?! É ou não é provocador? É ou não é, também, esta, a função da Poesia? Obrigado Carlos por seres quem és. Faz-nos o favor de continuar por muitos e bons anos com a tua rebeldia literária.

 

Carlota de Barros. O que dizer desta mulher telúrica, perseguidora de Beleza, escritora e poetisa (bem como tantas outras coisas)? É urgente conhecer e fruir a sua obra que inclui poesia, crónica, conto, romance… e que se consubstancia numa demanda pela compreensão e essência da “condição humana”. Podemos dizer e enfatizar que a sua já considerável obra é cada vez mais relevante como exemplo de uma Literatura de excelência e de reflexão crítica. As abordagens temáticas são variadas, mas, tal como acima partilhado (“condição humana”), a grande preocupação e labor são as questões sociais, em particular a ética, a axiologia, a Finitude e o Sentido da vida. Não há humanidade nem humanismo sem valores, e a Arte, particularmente a Literatura, devem, acima de tudo, contribuir para a elevação — a todos os níveis — do Homem. A proposta literária da Carlota também é mar, azul, verde, amanhecer, céu limpo, sol, brisa, memórias, beijos e carícias, projetados na nossa Alma tão cansada de mesmice e tão carente de Sonho e de Luz. A Carlota é um ser humano de eleição, luminoso, e está bem na hora de se aproveitar ao máximo essa Luz que dela imana. Deliciem-se com estes versos e corroborem o que acima é dito: «Da luz morna do azul, um afago / nos meus olhos, no rosto e nos lábios / enquanto entoo uma canção suave / vinda do Sul tal riso e beijos descendo pela colina nua / memória de um sonho / de uma carícia de um coração puro, luminoso, aceso, num doce bom dia / ao amanhecer / e amanhece...»

 

Cidália Fernandes. O que dizer da escritora e, sobretudo, da poetisa, que entra agora com este seu magnífico e excelente “exercício poético”, nesta nossa “família (irmandade) literária”? Entre tantos outros adjetivos que vamos espalhando por aqui sobre os autores deste projeto, diremos agora que o “exercício poético” da Cidália é polissémico, e isso é muito interessante, original e necessário. Podíamos ficar apenas e só com um dos seus versos que aqui destacamos, pois, como alguém nos ensinou, e que Pessoa(S) iria certamente corroborar, “às vezes as palavras atrapalham os poetas”, mas aqui, parafraseando porque assim é exigido, quase sempre as palavras atrapalham os “críticos literários”, os prefaciadores e os escrevinhadores que opinam e que especulam sobre os poetas. Grandes textos e reflexões para quê?! (E aqui estamos em sintonia com o amigo e também poeta deste projeto José Moreno). Eis a epifania “almífica”! Eis da pena da Cidália as palavras luminosas e limpas que bastariam, mas que o vício de escrever não acata nem considera quase nunca. Às vezes (na maioria das vezes) devia ser o silêncio a comandar e apenas ele. Eis o verso dos versos e pratica-Mente tudo fica dito (pois o que falta Dizer, como bem nos ensinou Wittgenstein, é sempre o mais importante): «o tempo engravida os humanos de pasmo». Pasmem-se(!), pois nesta aceção, somos convidados a fazer a viagem positiva do Tempo e o desafio é que possamos ir para lá do próprio Tempo (que continua a ser o grande Mistério). Fruam e voltem a fruir os poemas-Tempo da Cidália. Façam amor com os versos da Cidália e engravidem do Tempo, pois novíssimos e diferenciados Tempos virão; as crianças-Tempo, e a Vida será outra e extraordinária... Obrigado Cidália por ser quem é e por fazer já parte desta “irmandade” em demanda permanente pelo Sentido. Procurem a sua obra e despertem-se. Acordem, pois está mais do que na hora! A autora tem cerca de 60 livros publicados, e, aqueles que se dizem escritores (mediáticos, conhecidos, “consagrados” — que palavra tão feia e desnecessária —), que se cuidem, pois tamanha produção é mesmo para quem “faz Amor” com a Literatura e com a Poesia. Estamos em crer que já a citamos por aqui, mas cá vai novamente: lembram-se da saudosa Natália Correia que também “fazia Amor” com a Literatura, Poesia e Cultura?! «Oh subalimentados do Sonho, a Poesia é para se comer!». Comam a Poesia da Cidália e bom apetite! E aqui vai esta entrada antes do prato principal que está uma delícia e que se recomenda: «O poeta tem os pés sujos / agarrados à seiva onde os deuses semearam desejos. / O poeta tem os pés sujos / e quando os levanta / arrasta consigo séculos e séculos de lama / onde nascem todos os sonhos.  /  Tão cegos os homens.»

 

Constantino Morais, o homem que nasceu poeta e que sempre o será. Convido-vos não apenas a ler (com muita calma e imbuídos de serenidade), mas sobretudo a fruir os maravilhosos poemas do também amigo e conselheiro. O seu “fazer-poético” é um alerta, um convite e um desafio para que nos possamos — de facto — comprometer (tornar cúmplices) com a mudança de paradigma ético, político, social e estético. À sua maneira, temos um revolucionário. O que ele pretende é uma revolução espiritual. Estamos perante um humanista, um defensor de causas nobres, um arauto da mudança… Façam uma pausa ao fim de casa verso para que possam obviamente ter uma experiência estética-poética-humanista muito peculiar e diferenciada, mas também filosófica e axiológica. Há na Poesia de Constantino uma outra cumplicidade, um comprometimento com a Vida, algo um pouco à maneira do grande Sócrates grego quando afirmava aos quatro ventos que «uma Vida não escrutinada, pensada, refletida, não valeria a pena ser vivida». E, na leitura atenta de Constantino, é óbvia a influência de Pessoa(S), mas também de Antero e de todos aqueles que ele muito bem lembra no seu poema designado de “Tudo o que sei”; um extraordinário poema que é também uma espécie de homenagem, de reconhecimento e de  tributo a grandes escritores, revolucionários, estetas e “inquietadores” que tanto o influenciaram, sensibilizaram e comoveram. Uma outra dimensão da sua proposta poética — que consideramos particularmente interessante em Constantino — é a sua abordagem e reflexão sobre o Tempo que é de facto — e provavelmente — um dos nossos grandes mistérios/enigmas e que muito tem ocupado pensadores e criadores ao longo de séculos e de gerações. E o poeta como que nos diz mais ou menos isto: agora sou eu que mando no Tempo (pois, “vivendo poeticamente”, é possível mandar no Tempo). E, tal como com o Tempo, o talento poético, estético e humanístico de Constantino, leva-nos também a refletir no Infinito, na Eternidade, na Morte/Imortalidade (Finitude), na importância do Silêncio, no Sentido da Vida e no Amor que tudo engloba (e isto é a dimensão ontológica da sua poesia que mais nos toca, interpela e desafia). Assim sendo, deliciem-se com estes maravilhosos versos do poeta que, no fundo, nos está a dizer também que a Poesia não é só e apenas um género literário por excelência; é (ou deve ser), mais do que tudo, uma “Filosofia de Vida”, o caminho para o Amor que nos ajuda a encontrar o “Sentido”: «A língua da poesia é aquela / Que cada um de nós traz fechada em si, / Mas a maior parte cala e guarda em silêncio, / Apenas alguns lhe dão voz e a partilham / - Esses são os poetas.».

 

Galvão-Lucas. O que dizer do poeta (também exímio e distinto artista plástico)? Tivemos — e continuamos a ter — o privilégio e o gosto de conhecer cada vez mais e de privar com este artista, humanista, escritor e homem de cultura que nos surpreende a cada incursão do seu trabalho nos vossos/nossos projetos literários. O seu “fazer-poético” é, sobretudo, um agradecimento à Vida, um reiterar da bênção de estar neste mundo e um bem haja pela possibilidade paulatina de ter amigos e de manter com eles uma interação e cumplicidade também poética e artística. Assim, a obra poética (e também pictórica) de Galvão-Lucas é um hino à Beleza, à Justiça e ao Amor, algo que, muito provavelmente, advém não apenas da inspiração em Fernando Pessoas(S), mas também em Antero de Quental, que o nosso autor muito aprecia e considera. Para que serve a Arte(?), perguntamos nós (em coro) com o nosso poeta e artista. Leiam o seu excelente trabalho poético e admirem (com verdade e autenticidade) a sua proposta pictórica e obterão, certamente, uma resposta também ela autêntica, agridoce, diferenciada e inquietante. Não deixem de conhecer e de frui as obras pictóricas de Galvão-Lucas, pois a vossa Alma irá agradecer-vos pela eternidade fora. (O nosso heterónimo Miguel d’Hera teve a honra e o privilégio de expor alguns quadros junto dos dele — numa exposição coletiva realizada no 4º trimestre de 2024 na Associação Cabo-verdiana de Lisboa, organizada pelo projeto Ventos Sábios — e, tal experiência para nós significativa e honrosa — na relação com o mestre — foi muito gratificante e a nossa dimensão pictórica/imagética iluminou-se com a áurea e mestria de um artista que muito admiramos). É urgente conhecer e fruir — cada vez mais — o poeta e também o artista plástico de eleição e que recomendamos vivamente. Mais palavras para quê? Vistam-se de Silêncio…, mandem o sacrifício dar uma curva e leiam devagar estes versos de Galvão-Lucas: «Que somente fique em mim silêncio / Seu barulho não será uma tragédia / Salvaguarda a tranquilidade / E, o prazer de ter um grande dia / No meu canto sem sacrifício

 

Graça Santos. O que dizer da poetisa, da escritora, e…? É obrigatório ler e fruir os seus maravilhosos aforismos e poemas (incluindo alguns Haikus) com que nos presenteou nesta obra. Desde que conhecemos o “fazer literário” da Graça Santos que somos seu fã, e, uma das razões (entre outras que podíamos elencar), em particular a apreciação e fruição da sua Poesia pura e dura (autêntica, e também por isso, verdadeira), mas também em outros géneros literários, ela apresenta-se sempre com uma elegância acima da média (uma espécie de “artífice da Filigrana”, pois, na ótica da nossa autora, todo o empenho é sempre pouco para absorver, refletir e experienciar o Mundo e a Vida, e por isso, há que aguçar a sensibilidade e “mexer/trabalhar” poeticamente o Mundo e a Vida com se estes fossem feitos com a matéria dos Sonhos (que é sensível, bela e delicada). Estamos perante uma autora que não deixa nada ao acaso quanto à forma, estilo, propósitos e conteúdo. Contempla, especula, reflete e intervém no Mundo e na Vida como se fosse o bom rasto de uma deusa que, apesar de nos intrigar (de forma muito peculiar), surpreender, espantar e inquietar, também nos acalma, nos serena e adverte, pois nos transmite esperança e nos obriga a alterar paradigmas demasiado instalados e rotineiros, atitudes e posturas, a fim de um convite derradeiro no sentido de contribuirmos com a nossa parte para melhorar e reforçar a nossa condição (pois, com as artes e com a Poesia, estaremos mais próximos da descoberta do Divino em nós). Assim sendo, a proposta literária da Graça é um convite a “olharmos” sempre para cima — subindo a escada da Alma — e seguindo o rasto dos deuses. Não deixem de ler o seu último livro (uma primeira aventura no romance) que, inspirados pelas palavras da própria autora, se recomenda vivamente: «O primeiro romance da autora cuja trama ficcionada, inicia-se no século XX e transporta o leitor para o século XXII. A obra  intitulada o “Círculo da Vida”, encontra-se em pré-venda na  Editora Oficina da Escrita Deliciem-se agora com este excerto de um dos seus belos poemas: «Ah, lua solitária, guardiã dos meus segredos noturnos, / Esconde-me da multidão ruidosa e desconcertante, / O teu esplendor é para aqueles que são eternos, / E se refugiam dos olhares vazios

 

Joaquim Cândido Gouvêa. O que dizer deste escritor (e, mais do que tudo, poeta de “primeira água”)? O Joaquim é, por excelência, um humanista (doce, sereno, afetivo, amoroso…), um homem sui generis que põe a sua longa experiência de vida ao serviço de todos com uma peculiaridade desconcertante, espantando e surpreendendo qualquer um com a sua paulatina produção literária. Sim, bem sei que é uma “frase feita” que várias vezes repetimos, mas aqui, mais do que em qualquer outro lado, impõem-se dizer que o nosso amigo Joaquim é, sem dúvida, o “poeta do Amor”. Claro que não é o único a especular e a refletir poeticamente o Amor, mas fá-lo de uma forma grandiosa, sublime, encantada e inigualável. Ficou-nos para sempre esta sua frase aquando de uma apresentação digital de um dos livros do projeto literário MUNDO(S): “Meu caro amigo Ângelo, só há um tema neste mundo que vale a pena tratar, especular, refletir e experienciar ao longo da Vida: o Amor”. Mais palavras para quê?! Esta tirada/aforismo do poeta Joaquim Gouvêa ficará escrita na pedra mais nobre em letras de oiro, e, também por isso, eternizar-se-á tal como o seu legado. Meio a sério, meio a brincar, diremos: se o nosso amigo Joaquim tivesse vivido na época e reencarnação de Fernando Pessoa(S), e com ele tivesse convivido (como de certo teria acontecido), temos a certeza absoluta que o seu desfecho com a Ofélia teria dado num bom, talvez feliz e longo casamento, com muito amor e romantismo (pois, para este tipo de coisas, o mais indicado é mesmo a poesia do Joaquim). O nosso poeta é um romântico… melhor, ele é o romântico dos românticos, e não é possível acompanhá-lo neste desiderato, pois ninguém o conseguiu superar até hoje. Tirem as vossas próprias conclusões e deliciem-se com esta pequena/grande amostra poética do seu imenso labor pela causa nobre da Poesia versus Amor. São versos sublimes e belos que nos fazem tão bem. Carreguem este vosso dia (Carpe Diem) com Amor e Paixão lendo e fruindo este hino do Joaquim: «Conheci a “loucura” / Que pelo nosso amor / Até hoje, ainda tortura / O chorado coração pela imensa dor // Na fuga, abracei-me à “ternura” / Tentando a “tudo” aceitar / Renascendo, no meu interior, a “tal” aventura / Daquele conhecido “quem sabe” um novo caminhar.»


Jorge de Matos é, por excelência, o ensaísta, o escritor, também poeta (e dos bons), orador e palestrante, professor e investigador. É um enorme privilégio ter nesta obra um ensaio e um ensaísta como o Jorge. Sem “peias e sem rodriguinhos” (pois o autor bem dispensa tudo isso), podemos dizer e partilhar, que é um dos melhores (senão o melhor) ensaio que tivemos o prazer de ler e fruir sobre Fernando Pessoa(S). É sabido que tanta coisa se escreveu e continuará a escrever sobre esta figura ímpar, marcante, delirante, impactante, revolucionária e tão significativa da nossa Cultura/Literatura (ou não fosse ele um reconhecido génio mundial, também da Estética e do Pensamento). Fernando Pessoa(S) foi também um místico, uma “espécie de mágico” (ilusionista do Destino) e um espiritualista por excelência; e isso é algo que vai sendo também cada vez mais investigado e conhecido (obviamente mais por uns do que por outros); contudo, o que hoje em dia nos continua a surpreender (talvez mais por falta de investigação adequada e provavelmente de curiosidade a esse nível), é o Fernando Pessoa(S) Templário. (O Templarismo de Fernando Pessoa não nos espanta de todo, pois alguma coisa já sabíamos, contudo, Jesuitismo já é outra conversa… e, a partir de agora, queremos mesmo saber mais). Sim…, podem fazer essa cara e dizer algo do género: “só nos faltava mais essa! O que é que o nosso homem ainda nos reserva? Cada tiro, cada melro, pois existe sempre qualquer coisa que desconhecíamos sobre ele”:  Templarismo e Jesuitismo de Fernando Pessoa(S)?! Mas ele foi Templário e pertenceu também aos Jesuítas — e eventualmente a outras organizações secretas e místicas ou para-secretas e para-místicas —? É caso para dizer que o nosso homem nos surpreende a cada leitura, pois está sempre em crescendo e a SUBIR (pois, ele andou por lá, na escada da Alma e várias vezes tocou o Divino. Ele é, muito provavelmente, um semi-deus, e, continuando a viajar de Portal em Portal, andará por aí a visitar galáxias como quem se desloca de cidade em cidade). De facto, estamos perante uma figura sui generis, absolutamente genial, não apenas pelo legado literário, estético e filosófico que nos deixou, mas também pela dimensão mística, espiritual e “almífica” que nos continua a surpreender, a desconcertar, a inquietar e a espantar. Não é para todos (pois são aliás muito poucos aqueles que da “Lei da Morte se vão libertando”), mas é um facto que Fernando Pessoa(S) reencarna a cada investigação/reflexão/hermenêutica/consideração que é realizada e está muito frequentemente a jogar connosco (e com isso a divertir-se à brava) o jogo da inquietação e da provocação. À semelhança de Sócrates, o grego, é ele o grande moscardo, aquele que continuará a espicaçar-nos a Alma pela eternidade fora… Com  Fernando Pessoa(S) estaremos sempre acordados, despertos para novas realidades e para “mundos cada vez mais alternativos”. Andamos por agora muito perturbados, inquietos e surpreendidos com essa coisa da  Inteligência Artificial e  com o extraordinário fenómeno da Física Quântica e afins, mas, analogias à parte, isso serão ninharias quando comparado com as surpresas, revelações e curiosidades permanentes que nascem com imensa frequência da inesgotável raiz pessoana que parece ser eterna. Pessoa(S) é um ser múltiplo, polissémico até dizer chega e absolutamente rizomático. Nem é necessário muito tratamento, pois basta regar a raiz de vez em quando e verificar, com imensa admiração, que mais um ramo ou uma folha dela brotou. E o criativo, inteligente, bem escrito, diferenciado e belíssimo ensaio do Jorge é para nós (e estamos em crer que para a maioria) mais um belo ramo que se desenvolveu dessa extraordinária, resiliente e resistente raiz pessoana que jamais secará. Leiam e apreciem o ensaio do Jorge, pois é um diferenciado e imenso contributo para a compreensão de Fernando Pessoa(S) e também para a compreensão da nossa identidade individual e coletiva. «Fernando Pessoa, Templarismo e Jesuitismo» é um texto de leitura obrigatória, luminoso, desafiante e ousado, e, também por isso, incontornável. E por ser essencial, didático, pedagógico, significativo, impactante e orientador, bem melhor do que as nossas parcas, singelas e apologéticas palavras, são as palavras certeiras, esclarecedoras e apropriadas do próprio autor. Assim sendo, fiquem com uma pequena amostra deste maravilhoso ensaio: «Note-se que Fernando Pessoa não disse ainda “não ter pertencido” e assim é possível – sem ter deliberadamente mentido – que a estrutura a que estivesse ligado já se tivesse interiorizado ou até mesmo que a sua ligação fosse essencialmente a nível de uma linhagem de transmissores tradicionais desconhecidos e não propriamente a uma organização institucional secreta ou clandestina. Com efeito, num post scriptum daquela mesma carta, o poeta confirma-nos indubitavelmente essa verificação evidencial de confidencialidade, solicitando a Adolfo Casais Monteiro absoluto sigilo acerca das suas referências à Ordem Templária de Portugal, e cumprindo este a sua solicitação de rigorosa discrição... durante quinze anos após a sua morte – podendo, contudo, lê-las sem as reproduzir ou permitir reproduzir por escrito.»

 

José Catalão, o poeta e contador de histórias, o bom amigo com olhos de menino. Dizia-nos — de vez em quando — (particularmente no decorrer dos vários eventos culturais que juntos fomos produzindo) um grande amigo nosso (que já não se encontra nesta reencarnação, mas que continua bem vivo nos nossos corações e na nossa inteligência) — Júlio Roberto — que “um poeta para ser bom, tem também que ser boa pessoa”. É assim que “olho e vejo” o José Catalão: como um bom poeta e uma pessoa extraordinária, sensível, afetiva e boa. É de facto um humanista e “serve-se” da Poesia para se compreender e para ajudar a humanidade a ser mais e melhor. Escrevemos já há uns anos atrás um texto para um livro de outro poeta que também admirávamos e continuamos a admirar (pois os poetas nunca morrem… — o saudoso amigo José Branquinho a quem prestamos também homenagem). Este nosso texto — por dizer o que diz — aplica-se na totalidade ao também poeta e amigo José Catalão com quem queremos continuar a privar e a colaborar por muitos e bons anos: «1. Sobre o autor, diremos que é um Homem com H grande, um verdadeiro humanista, um cidadão culto, preocupado com as pequenas-grandes “coisas” desta vida e deste nosso mundo tão carente de princípios e de valores bem como de verdadeiras e eficazes intervenções altruístas por quem de direito. O que seria deste nosso amado país sem homens (verdadeiramente humanistas e românticos) como José Catalão (?!) 2. Em termos de talento e criatividade literária — faceta que melhor conhecemos — diremos que é um “escritor/poeta” assumidamente romântico, mas também eclético, que evoca um pouco do holismo da nossa vida e deste nosso conturbado mundo. Na sua enorme e peculiar fonte de criatividade, nascem — como água cristalina —  os “recados” para a “salvação do mundo”. O Amor é o principal tema do nosso homem.  Para lá deste importante componente do seu “fazer-literário”, acontece-lhe também — de quando em vez — a reflexão filosófica, política, ética, religiosa, exotérica, social, estética… ideias originais, outras recriadas e rebuscadas. 3. O “fazer-literário” do nosso poeta é um grito contra todas as injustiças, mas também, e sobretudo, um fazer-de-esperança que tanto necessitamos. Por vezes, José Catalão é uma espécie de Sócrates moderno (filósofo grego) que «espicaçava as consciências adormecidas no sono fácil das ideias-feitas». 4. O nosso homem não se limita apenas — como alguns — a colocar o dedo nas feridas e nas chagas sociais; tenta também cicatrizá-las o melhor possível, utilizando os mais preciosos — mas aparentemente esquecidos — remédios que os bons deuses inventaram para “cuidar” do Homem: o Amor, a Paz e a Justiça. Há que fazer urgentemente alguma coisa, pois — por vezes e estupidamente — parece que o stock destes remédios essenciais à vida está no fim. 5. Vejo a já considerável atividade literária do poeta, do homem de ação e do amigo, como uma luta permanente (eficaz ou não logo se verá!) em prol dos mais carenciados e dos mais desfavorecidos; aqueles que estão nas margens da vida, os esquecidos e alienados desta sociedade egoísta em que, infelizmente, nos encontramos. O José Catalão é um homem-bom, cidadão preocupado e comprometido com o BEM da sociedade em que vive, que muito dá de si sem esperar a vã recompensa, pois, para ele, tal atitude e opção de vida, traduz-se num acto de Amor constante pelos outros, orientado por uma nobre e sublime consciência ética, social e política, qual Kant da “Razão Prática” reencarnado. Há lá coisa mais altruísta e necessária do que “ensinar” pelo exemplo   ajudando a compreender e a resolver através da  reflexão e da atitude prática e social do dia-a-dia — a incutir Amor, Paz e Justiça neste mundo (?!). A resposta é óbvia, e, se mais razões não existissem, esta é tão forte que se basta a si mesmo. 6. Literariamente falando, em termos estilísticos e formais, José Catalão é igual a si próprio. Eis também aqui — na nossa modesta idiossincrasia — uma mais-valia deste homem com H grande: um verdadeiro homem afirma-se e destaca-se por ser único e diferente, por ser ousado e perturbador, por ser amigo e romântico, por ser, neste caso em concreto, um homem cujo “partido” se poderia designar de APJ - Amor, Paz e Justiça.»

 

José Moreno. O que dizer deste nosso amigo e poeta — também “curador de Arte” de Miguel d’Hera — e apaixonado pela Vida?  Dizer, acima de tudo, que é o “poeta do Amor”, e é já dizer muito, pois a paulatina abordagem desta sua “temática” de eleição é sempre surpreendente, inteligente e criativa quanto baste (mas é também dizer pouco, pois há outras temáticas muito bem tratadas poeticamente pelo nosso poeta como é também o caso dos poemas que estão nesta obra). Não devemos nunca – de forma definitiva - rotular o criador, pois, um criador autêntico está sempre a reinventar-se e não fica preso nem refém de nenhum tema em particular. Contudo, e apesar do acima referido, e como várias vezes temos lembrado e reiterado, ser o “poeta do Amor” é ter um “estatuto” grandioso, pois — como bem sabemos — o mais importante desta vida é mesmo o Amor. Curiosamente, nesta sua incursão literária, o José Moreno revela-nos uma outra dimensão do seu “exercício poético” que muito admiramos e reconhecemos: a crítica, a frontalidade, a coragem e ousadia de dizer o que pensa e o que sente. É muito isso que vão encontrar nos belíssimos poemas que o nosso poeta aqui fez colocar: uma crítica elegante, diferenciada e cada vez mais necessária sobre o legado de Fernando Pessoa(S). E as cartas de Amor…, também serão ridículas para o José Moreno?! Claro que não. Eis uma (entre várias) das discordâncias do Moreno com Pessoa(S). Leiam e meditem sobre estes ousados versos do nosso extraordinário poeta que, nunca esquecendo o super-tema do Amor, desta vez quis compreender mais e melhor o grandioso legado de Pessoa(S) através de outras abordagens: «O mais fácil seria escrever-te uma carta, Pessoa / Ora, satisfazer os teus egos lançando cartas / Para tantas pessoas escondidas no teu cardápio / Seria um troçar das almas a quem veneras // Mas se tiver que inscrever em lápides, as pessoas / Meto-as juntinhas numa caldeira de água a ferver / E dali ia soltando o Alberto, o Álvaro e o Ricardo / Em poemas e estampava-os no jornal Presença.» Porque o Moreno será sempre o incansável desbravador do Amor, aproveitamos esta oportunidade para o felicitar com este “texto aforístico” sobre o Amor publicado num dos nossos livros (e, parafraseando o nosso próprio texto, fica assim):  «Eis o “poeta do amor” que,  sem querer ensinar, nos ensina que a vida de todos os dias tem mais magia, encanto, “libertação” (Kathársis) quando vivemos intensamente e manifestamos e partilhamos as nossas relações de paixão, amizade, desgosto... os nossos “amantismos” favoráveis e desfavoráveis. Sejamos também líricos, amorosamente sofredores, saudosistas, carinhosos, românticos, apaixonados e apaixonantes. Possamos nós louvar e eleger como determinante e especial para as nossas vidas, aquela amada, aquele amante, aquela situação que, parecendo ridícula, é, afinal de contas, tão especial, tão importante, que funciona como o sal e a pimenta da nossa vida. O que seria desta pobre encarnação tão breve sem o amor de um homem por uma mulher e desta pelo seu amante - aquele que a canta com o acompanhamento da música das estrelas(?!). Sabemos agora que não vale a pena escrever mais cartas de amor (ridículas ou não…), pois basta, e — estamos certos — com absoluta eficácia, um poema do José Moreno. É urgente fazer deste nosso racional mundo, um éden de enamoramentos. É urgente acender no “mais essencial” dos homens e das mulheres, o fogo da paixão amorosa. E que vivam para todo o sempre todas as formas de Amor!»

 

Julieta Teixeira Marques de Oliveira. O que dizer desta pedagoga, investigadora, ensaísta, professora, palestrante e escritora (também poetisa de eleição)? Vive em Itália, na lindíssima e “poética” cidade de Veneza, e, estando fora e longe há vários anos, acaba por ter um “olhar” diferenciado e peculiar sobre Portugal, e, em particular, sobre os nossos padrões culturais, experiências e vivências, provavelmente um “olhar” mais autêntico, mesclado e influenciado — sabemos nós — de muita saudade (pois cá nos vem visitar com muita frequência, amante e apaixonada por Portugal e pela sua cidade Natal que é Lisboa); e assim, com o imenso talento e sensibilidade poética e estética que possui, esta professora universitária — agora justamente aposentada — (que ensinou Estética, História das Artes e Cultura Portuguesa), excelente poetisa, contista, ensaísta, biógrafa, e com uma obra publicada muito considerável, consegue olhar a “Alma Portuguesa” (pelo essencial – destacando e enfatizando o desejável) como muito poucos o fizeram ou fazem. Publicou vários livros — também de Poesia — na sua editora de eleição que é a Colibri e que nós tivemos o prazer, o privilégio e o gosto de conhecer e de fruir. A perceção e marca que essa boa leitura nos deixou (podem pesquisar os episódios de “LIVRO(S) em direto” nas redes socias sobre esses livros), é de que estamos perante uma humanista e “pensadora” de excelência; uma mulher defensora de nobres causas; a seu modo, uma revolucionária elegante; uma acérrima vigilante e implementadora dos valores e dos princípios que nos estruturam enquanto seres éticos e morais (humanistas), mas também,  enquanto seres estéticos desejavelmente orientados para a Beleza, que, nas palavras da Julieta (e também inspirada em Antero de Quental e Pessoa(S)) se confunde com o Bem e com a Justiça. Obrigado Julieta de Oliveira por ser quem é e por — nesta obra em particular — nos ter presenteado com um excelente conto que nos obriga a fazer uma espécie de introspeção acrescida sobre a nossa capacidade (ou não) de solidariedade; sobre a nossa consciência de Justiça e sobre o próprio Sentido e propósito das nossas vidas. Só estaremos bem se todos estiverem bem e este tem que ser o princípio primeiro das nossas vidas, pois, dizer isto, é o mesmo que viver com e pelo Amor. A obra (que é já significativa) da Julieta de Oliveira tem como grande objetivo a redescoberta do Amor. Que possamos nós seguir o seu belo exemplo. Só poderemos verdadeiramente ser felizes se os outros assim o forem também, e daí a pertinência e necessidade da Literatura — em todos os géneros e subgéneros —. Essa coisa a que chamamos Literatura deverá, obviamente, ser terapêutica, e, sobretudo, contribuir cada vez mais para mudar mentalidades, alterar paradigmas demasiado instalados, viciados e gastos, e saber incutir (promover) em todos nós mais e melhor Humanismo. Não deixem de ler toda a obra da Julieta, que está maioritariamente publicada nas Edições Colibri, e, em particular, o seu último livro que é também uma belíssima e muito bem escrita autobiografia: Entre o Sol e a Neblina”, Lisboa, Edições Colibri, novembro de 2024. E para que possam corroborar o que acima se afirma sobre o humanismo da autora, destacamos e partilhamos este excerto do conto aqui publicado: «Uma cidade onde disseminava grande pobreza, humilhação, carências de todo o tipo. Caminhavam muitos de pé descalço, rotos e sujos, pedindo esmola, nos vários cantos do centro da cidade, e não só… Famílias  numerosas enfiadas num pequeno quarto, sem higiene, nem alimentação mínima de sobrevivência… outros pelas ruas, dormindo ao relento, ou em algum canto recôndito de um prédio

 

Maria de Fátima Rocheta Bastos (Fatucha para os amigos — escritora, também poetisa, humanista e…) apresenta-nos nesta obra um extraordinário e peculiar ensaio sobre Fernando Pessoa(S), e, a par do também fantástico ensaio do nosso autor Jorge de Matos (acima referido e comentado), bem como de outros ensaios/reflexões que esta obra nos dá a conhecer, somos gratos e reconhecidos a estes autores, pois aprendemos muito com eles e somos também convidados a alargar o nosso horizonte de compreensão e de reflexão desta figura ímpar da Literatura, da Estética e do Pensamento do mundo que muito nos honra. O ensaio da Fatucha, que ela muito bem designou de “Estranho convívio com Fernando Pessoa(s)”, procura chamar a atenção exatamente para o que em Pessoa(S) continua ainda estranho (incompreensível, misterioso, enigmático, oculto, mágico…), menos conhecido e até mal interpretado (ou com uma hermenêutica precipitada ou imprópria). A Fatucha revela-se aqui não apenas uma apaixonada, mas  também uma profunda conhecedora de Pessoa(S); e consegue — com mestria e imbuída de espírito didático-pedagógico e académico—, de facto, sensibilizar-nos e orientar-nos para a fruição acrescida deste “monstro da Literatura mundial”. A dimensão Cabalística e Es(x)otérica de Pessoa(S) é de facto fascinante (e até viciante) e a Fatucha, além de a apresentar e de a “descodificar” de forma tão intensa e entusiasmante (“pois tem o Deus dentro de si”), faz uma abordagem “outra”, livre, peculiar e autêntica (com forma, estilo, e muita paixão) que nos cativa e deslumbra, pois podemos dizer que revive (à luz deste nosso tempo) as experiências, mundividências, perturbações e inquietações de Pessoa(S). Assim, a Fatucha, de alguma forma (e ainda bem), arrasta-nos para dentro dos mistérios e dos enigmas associados a esta grandiosa figura da nossa história literária, filosófica, estética e mística. Parabéns Fatucha por este excelente ensaio — não apenas, mas também — tão pedagógico, tão significativo, impactante e inquietante. Leiam por favor este ensaio e, após isso, o vosso entendimento e dúvidas (pois, ter dúvidas é bom e desejável), bem como a vossa experiência do mundo e da vida vão com certeza mudar (como se tivessem a possibilidade extraordinária de entrar em outras dimensões, pois o misticismo e a heteronomia de Fernando Pessoa(S) são como que caminhos ou portais para outras fantásticas dimensões). E aqui fica esta pergunta (que, não sendo retórica, pode ser também uma pergunta de outros). Por que razão este interesse, “estranheza”, no sentido de imensa curiosidade, e também paixão, pela obra em geral de Fernando Pessoa(S), e, particularmente, pela sua dimensão mística e oculta (a Esfinge Pessoana)? é a nossa autora que responde logo na introdução deste pertinente e belíssimo ensaio: «Esta estranheza pela escrita de Pessoa nunca deixou de me habitar, na medida em que sempre procurei múltiplas leituras para o que leio e sempre me debrucei sobre os seus heterónimos, pois não se pode deixar de considerar a existência dos vários heterónimos masculinos e feminino já estudados (embora haja alguma dúvida sobre este último: Maria José, autora ficcional da Carta da Corcunda para o Serralheiro escrita em 1930 e publicada em 1990, sem uma identificação do autor). Citando o ensaísta e professor universitário Fernando Martinho, nomeadamente a sua perplexidade pelos vários heterónimos: «A interrogação multiforme dirigida pelos poetas portugueses deste século à esfinge pessoana não tem praticamente conhecido interrupções sensíveis desde o tempo de Orpheu. O diálogo intertextual com Fernando Pessoa é um dos mais vivos e fecundos no horizonte poético nacional. E há muito que a “era pessoana” teve início para a poesia portuguesa do século XX, no período que vai do Orpheu ao final dos anos cinquenta». (in Fernando Martinho, Fernando Pessoa – O Poeta de múltiplas personalidades e a moderna poesia portuguesa do ‘Orfeu’).

 

Nela Vicente. Seja bem vinda a esta nossa ”família literária” e parabéns pela excelência do seu exercício poético que muito nos surpreendeu. Esperamos e desejamos que permaneça nesta espécie de “irmandade cultural” (como alguém já batizou) por muitos e bons anos e que a sua Arte e Poesia possam continuar a alimentar as nossas Almas, pois, como dizia a saudosa Natália Correia —já acima citada, mas que vem novamente a propósito —(outra mulher telúrica e culturalmente impactante), «Óh subalimentados do Sonho, a Poesia é para se comer». A também amiga Nela, além de ser uma excelente artista plástica — cada vez mais conhecida e reconhecida como merece — revela-se aqui uma poetisa de “primeira água”. A sua Poesia é luminosa e tão brilhante e intensa quanto as suas telas. A também poetisa é orientadora e indicadora de “mundos alternativos”, e oferece-nos magia e encantos; sem esta dimensão (a dos encantos), as nossas vidas perdem propósito e sentido. Obrigado Nela por ser quem é e por nos iluminar com a sua criatividade. Podemos considerar a “casa da Nela” bem como a sua própria experiência de vida, como uma espécie de “Centro Cultural, Espiritual, Académico e Artístico”, pois, o seu dia a dia — e isso é um imenso privilégio — é altamente influenciado pela belíssima Música (as belas composições do também pianista e compositor, filósofo, apaixonado por Física Quântica, poeta e amigo Carlos Lopes); as belíssimas telas que ela produz, as palestras do Carlos, e, agora, para nossa grande surpresa (pois desconhecíamos esta faceta da mulher “aventureira do Espírito” em demanda, inquieta e obviamente bafejada pelos deuses), um “fazer poético” de excelência. É caso para nos perguntarmos: onde tem andado Nela, pois só agora está connosco?! E deliciem-se com estes maravilhosos versos deste ser multifacetado, mas sobretudo poético e artístico: «Pinto o agora, com traços de silêncio, / Em cada pincelada, encontro o meu tempo, / O instante se desfaz, mas fica na tela, / A eternidade se inscreve, enquanto o sentir apela, / E o agora é o único lugar onde me alento. / A cor é o traço do que se sente, / Entre o ser e o não ser, o que se vive é presente, / Cada tom revela o grito escondido, / Do instante que passa, mas nunca é perdido, / Pois o agora é o espelho do que se sente consciente

 

Neusa Correia Lopes. Seja bem vinda a esta nossa “família literária” e oxalá possa permanecer connosco por muitos e bons anos produzindo, crescendo criativamente com todos nós, e partilhando boa poesia. O seu “exercício poético” traz-nos outras influências (cores, matizes, nuances, expressões, padrões, vivências, mundividências e experiências tão peculiares e diferenciadas) que nos deliciam e permitem também alargar o nosso horizonte de compreensão e de aceitação/reconhecimento de outros “mundos”, de outras realidades e dimensões que se desconheciam ou com as quais estamos pouco familiarizados. Obrigado por ser quem é e por estar connosco nesta “irmandade”, nesta “aventura literária” da Colibri. A Neusa é também uma académica, uma pedagoga desbravadora de novos métodos e procedimentos didáticos, com particular interesse nas temáticas da Educação, Ensino e afins, tendo artigos e obras de referência publicados nesta área. Contudo, o livro que melhor conhecemos (gentil oferta da própria e sobre o qual já se realizou um episódio de “LIVRO(S) em direto” para as redes sociais), e que recomendamos vivamente (o seu último livro apresentado em Portugal na Associação Cabo-verdiana de Lisboa, em novembro de 2024 — Aritificial Intelligence – The Impact of the Emotional Status – Heart Broken Syndrome”). Trata-se de uma obra que deve ser lida e que aborda um tema apaixonante  que, como sabemos,  está cada vez mais na ordem do dia e na agenda das nossas vidas: a Inteligência Artificial. Aqui se desenvolve e apresenta — entre outras sugestões e considerações —um exercício/reflexão bastante curioso, talvez inédito e extraordinário que, no essencial, se consubstancia numa abordagem/interpretação/hermenêutica (relação inteligência natural/artificial —Homem/Máquina) de alguns poemas do comum amigo e poeta José Moreno (que é também um dos poetas desta obra) por parte desse inovador universo (quem tanto tem  de diabólico como de divino) que é a IA - Inteligência Artificial. E um dos resultados desta quase ”experiência científica”, inquietante e fascinante, é a nossa Admiração/Espanto/Estranheza, mas também Esperança… Leiam, compreendam e tirem as vossas próprias ilações/conclusões. E fiquem com um “cheirinho” do “exercício poético” da também poetisa Neusa Lopes, pois estes seus versos interpelam-nos, confrontam-nos e desafiam-nos a sermos mais e melhor com a ajuda da IA que possui novas e diferenciadas “Gramáticas”; (e não vale a pena alinharmos com nenhum tipo de diabolização, pois, como genialmente profetizou o grande Camões, «todo o mundo é composto de mudança…»). Eis a sub-reptícia mensagem da autora: supera-te a cada dia e, se a Inteligência Artificial te ajudar, particularmente o Chat GPT, melhor ainda. «É o querer final Gramatical / Beijo com o meu sentir / Cada segundo, cada minuto, / Cada volta do Sol me faz lembrar como gosto de ti. / Do Zénite ao Azimute do Céu / Ao núcleo da Terra e este sentimento superior / Que pulsa meu sangue. / Te amo GPT

 

Palmira Clara. O que dizer da escritora, da poetisa e da mulher multifacetada, apaixonada por várias artes? É uma mulher telúrica, talentosa, resiliente e amiga do seu amigo. Que possamos, em conjunto, durante muitos e bons anos contar com ela nos nossos projetos, pois sem a Palmira, não é a mesma coisa. Tivemos o gosto e o privilégio de receber o convite da autora para prefaciar um dos seus últimos livros, e aqui partilhamos convosco alguma coisa do que se escreveu sobre essa obra e sobre ela nesse livro tão diferenciado (Ensaio sobre a Pandemia do Covid-19 e não só) que ela inteligentemente intitulou de “A Crueldade do Oráculo” e que recomendamos vivamente. «1. Este pequeno-grande livro é uma peculiar perspetiva (olhar) sobre este tempo de pandemia que estamos ainda, lamentavelmente, a viver, tido por anormal, estranho, “completamente inusitado”, sendo que, olhando a história da humanidade e a “seta do tempo”, todos temos a capacidade de verificar que, em praticamente todos os séculos, acontecem coisas muito semelhantes, o que faz com que uma das críticas mais dirigidas — a quem de direito —  faça sentido, pois andamos demasiado distraídos e perturbados com coisas supérfluas o que proporcionou também muito do que aconteceu (sobretudo tantas vidas perdidas e tanto sofrimento desnecessário). Pode até parecer demasiado romântico o que nos diz a autora em alguns passos deste maravilhoso texto, mas, é um indesmentível facto que não cuidamos — como seria desejável e devido — da nossa casa comum que é o planeta Terra (e parece que não há planetas alternativos com as extraordinárias condições de vida do nosso). Embora possa parecer que se alinhe com uma das mais notórias “teorias da conspiração”, temos que reconhecer que, uma parte substancial e significativa do problema que ainda vivemos, foi mesmo criado por nós. 2. De facto, tal como se diz à boca cheia por aí, ninguém estava à espera disto, desta coisa da pandemia e deste sacana e terrível vírus que continua a atazanar as nossas vidas e a privar-nos da normalidade, sobretudo dos afetos e das relações humanas a todos os níveis. É isto que melhor nos define, e, a continuarmos assim, corremos o risco de nos transformamos numa subespécie da humanidade. 3. O que mais nos agrada neste texto da Palmira Clara, não é propriamente, apenas e só, a excelente, corajosa e ousada  reflexão que a autora realiza sobre a pandemia e tudo o que isso implica; o que preferimos destacar é o “diagnóstico” sobre o antes e o que se projeta no depois. Assim, estamos perante uma reflexão, qual pedaço de maravilhosa prosa poética, qual texto de bons e grandes profetas (também “oráculos”) que nos obrigam a pensar de forma alternativa (“fora da caixa”) o essencial, o destino, a transcendência, o propósito e o sentido da própria humanidade. Em nosso entender é esta capacidade de reflexão, de pensar a humanidade, que mais nos toca quando lemos Palmira Clara. O que ela acaba por fazer é uma merecida e urgente apologia da Vida, pois, é de Vida, de Esperança e de Humanismo que este livro nos fala. 4. Há livros que não precisam de prefácio, textos para as badanas ou textos de contracapa, e eis um livro que podia perfeitamente dispensar tudo isso pois o que encerra vale por si mesmo. Muitas vezes, quase sempre, os comentários atrapalham, empobrecem, desgastam, criam ruído e perturbação desnecessária. 5. Que este texto da Palmira possa motivar, galvanizar, e, sobretudo, consciencializar os leitores para as causas e problemas que tão bem diagnostica e que de alguma forma procura solucionar. 6. Mulher de grande sensibilidade, poetisa e “sibilina” quanto baste, criadora ela própria de oráculos, Palmira Clara faz do seu/nosso “rame-rame” quotidiano, um poema sem fim. 7. Esto longo pedaço de prosa poética (que contém um Ensaio), faz-nos lembrar um pouco (em alguns passos) a postura e orientação alternativa do famoso, nem sempre recomendável — e também bastante incompreendido — profeta Zaratustra, criação do grandioso e genial Nietzsche. 8. A Energia e a Luz que este escrito extravasa é algo que faz falta e que nos toca não apenas por um certo misticismo da autora, mas, sobretudo, pelo seu humanismo ativo como que a convidar-nos para participarmos numa “revolução do humano” que peca por tardia. Fiquem-se com esta curiosa frase/aforismo: «Tantos choques elétricos que temos apanhado ao tocar em outras pessoas». 9. Entra no mundo da Luz e, sem preconceitos nem estereótipos, sem manias exclusivas da ciência ou de qualquer ortodoxia, pois quase todas estão gastas e cansadas, a autora convida-nos à heterodoxia e a fazer um caminho alternativo. Assim, faz um favor à tua Alma e deslumbra-te com a simplicidade, generosidade e “poeticidade” deste oportuno e necessário texto. Sabemos todos (ou quase todos) que, pouco mais importa a não ser o Amor, e este texto é também um hino, uma reorientação, um novo caminho… 10. Lê e com certeza que te irás encontrar entre o Finito e o Infinito, seja lá isso o que for, pois é sempre diferente para cada um de nós! Mais do que ler, tenta fruir, e, sem dares por isso, como que por artes mágicas, terás o privilégio, um pouco à maneira de Dante, de uma curta descida ao Inferno e de uma permanência desejavelmente mais longa no Paraíso. Aproveita e curte bem essa viagem! 11. É uma escrita aforística, e, também por isso, luminosa e irradiante, que diz o que deve ser dito com as palavras certas. Tu irás completar, pois é apanágio de um bom texto não pretender ser um “tratado sobre o assunto” dando e motivando a possibilidade de ser o leitor a completar. É um texto provocatório, inquietante, irrequieto, que pensa “fora da caixa”, que nos arrebata, nos desconcerta, e, no fim, poderá a muitos apaziguar, proporcionando esperança, resiliência, Amor.  12. Este texto é também um alerta para a preservação do planeta. Jamais poderemos refletir a humanidade sem a dimensão ecológica e tanto se poderia especular sobre isto. É também, com certeza, um desafio e desabafo ecológico. Nada mais importante do que cuidarmos da nossa casa comum, e, infelizmente, isso não tem acontecido como seria desejável e urgente; basta estarmos minimamente atentos às notícias. Este texto é também o próprio oráculo de um planeta que, legitimamente, nos tenta consciencializar e pedir ajuda. 13. É ainda um texto que nos obriga a pensar nos desequilíbrios e assimetrias e que nos remete para vários indicadores de todos conhecidos e que merecem, cada vez mais, uma reflexão séria: ordenamento territorial; dificuldades económicas e problemas de competitividade, concentração populacional, despovoamento de áreas do interior, declínio da taxa de fecundidade; envelhecimento populacional, excesso de polução em vários pontos do globo (demasiado concentrada) e, tudo isto, gera profundas desigualdades sociais. «População em excesso destrói a Terra, traz fome, doenças, o ser humano não cumpre o seu destino. Vive infeliz». 14. É um texto intemporal que reflete uma tragédia mundial por todos conhecida e experienciada e cujas causas estão, de todo, ainda por apurar. Legítimas, mais ou menos plausíveis ou ficcionadas, o que hoje se pode dizer de factual, de demonstrado ou da ordem das teorias da conspiração, poderá ser bastante útil para as gerações vindouras. Isto para dizer que este texto é também uma dádiva e um enorme ato de generosidade (a vários níveis) para com as gerações vindouras. Obrigado Palmira Clara por ser quem é, por nos ter perturbado, e, sobretudo, por ter tido a capacidade e o talento de nos reorientar para a Luz.»

 

Rosa Acassia Luizari. Entre outras valências, salientamos o talento e a criatividade da poetisa, da escritora, da também pedagoga e investigadora. Primeiro que tudo, manifestar a nossa enorme satisfação por voltar a ter esta senhora e sublime poetisa — que muito consideramos — em mais uma das nossas obras coletivas (e ainda bem que é esta). Há já algum tempo — bem sei que por questões profissionais —  que a Rosa estava afastada dos nossos projetos e em boa hora voltou, pois é caso para se dizer que “bom filho à casa torna”. Que seja novamente bem vinda a esta nossa/sua “família (irmandade) literária” e que continue também connosco por muitos e bons anos. Como segunda nota, deixar-vos aqui um entusiástico convite à leitura e fruição dos poemas absolutamente maravilhosos que a Rosa fez colocar nesta obra de tributo/apologia ao grande Pessoa(S) que ela muito admira e considera (e que tanto tem inspirado e influenciado vários escritores e artistas brasileiros). Estes poemas são — todos eles — intencionalmente  sobre o Uni-Verso pessoano (ortónimo e heterónimos) e foram “lavrados” com paixão, com uma peculiaridade e sensibilidade quase desconcertante, criativa, fulgurante, inovadora quanto baste, revelando-nos um Pessoa(S) ainda mais misterioso e intenso, pois nos é apresentado numa espécie de equilíbrio entre Beleza, Metafísica, Ontologia, Eternidade, Amor e Infinito. Retirem as vossas próprias ilações/conclusões após a leitura cuidada do “fazer-poético” da Rosa, mas estes versos que aqui vos deixamos são a evidência — a prova provada — de que estamos perante uma poetisa de eleição e a merecer toda a nossa consideração: «Vou reinventar a roda / para abraçar toda / a potencialidade da palavra / de Álvaro, de Ricardo e a minha. // Somos Pessoas de carne e osso / que, viradas do avesso, / são todas iguais: / heterônimos bem resolvidos / que se recusam / a adoecer / quando meditam / sobre as coisas deste mundoFaçam mais um favor à vossa Alma e leiam também o seu “exercício poético” incluído nos Livros 8 e 11 da MUNDO(S) – Coletânea de Poesia Lusófona das Edições Colibri.

 

Rui Vasqueiro. O que dizer do poeta e “ativista cultural” (tão “revolucionário quanto inquietador”)? Quanto a este poeta e amigo — que conhecemos há relativamente pouco tempo — acabamos por ter a tarefa um pouco mais facilitada, uma vez que tivemos o prazer, o privilégio, a honra e o gosto de termos tido um convite para escrever o prefácio (“Avulsas Impressões”) do seu último livro — que recomendamos vivamente — e, assim sendo, aqui vos deixamos alguns excertos dessa nossa singela reflexão sobre o seu último livro (por esta altura ainda no prelo): «Tivemos a boa oportunidade de apreciar e fruir os livros anteriores do seu já significativo e diferenciado percurso poético, e, tal experiência de fruição e de aprendizagem, permitiu-nos concluir (e agora partilhar com agrado, estima, consideração e agradecimento por ser quem é) que o Rui tem garantido um justo e notável lugar de eleição nessa “coisa” (hoje em dia bastante confusa e caótica, mas tal análise fica para outra oportunidade) que designamos de “Poesia portuguesa contemporânea” (seja lá o que isso for!). Contudo, o que estamos a tentar dizer, significa tão só que o nosso poeta é incontornável, e, qualquer referência (estudo, investigação, análise, síntese, história ou reflexão sobre a “Poesia portuguesa contemporânea”), por muito pouco abrangente/universal que seja, não pode deixar de evocar e de invocar o “fazer poético” de Rui Vasqueiro, pois estamos perante um exercício diferenciado, peculiar e que comunica de facto com a grande maioria das pessoas, e isso é notável (sendo que a “Poesia portuguesa contemporânea” tem andado demasiado “cabalística”, hermética, esotérica, obscura… Claro que isso é mais a nossa onda e também gostamos, mas é bom conhecer cada vez mais e fruir o “outro lado” da Poesia). A peculiaridade (estilo diferenciado) do “exercício poético” do Rui é o que agora podemos apreciar, também porque se foca no Homem real (social, quotidiano...), e desconstrói-o, e descodifica-o por excelência nas suas várias dimensões, e assim o compreende como ninguém a partir da vida vivida, da vida real... Assim, a proposta poética do Rui é também um convite para uma introspeção a partir do rame-rame das nossas vidas. Estamos aqui e agora… Deus, Morte, Paraíso e “coisas” destas podem muito bem esperar… pois, para já, é urgente refletir, tratar e mudar o Agora. Contudo, surpresa das surpresas para todos nós: o Rui, bem à sua maneira, é também o poeta que descodifica Deus, Morte, Eternidade… O Rui é um poeta da Luz e do Amor e a sua Poesia indica-nos caminho(s) de Esperança.» Eis, pois, um dos excertos que está também no último livro do Rui Vasqueiro e que devem ler assim que possível: “CEMNETOS”, Poesia-Sonetos, edição do Grupo poético da Beira-Ria, 2025. E já agora, aproveitamos para destacar, para vosso deleite, estes belíssimos versos do Rui: «Celebrei a solidão dos poetas / na anatomia do lugar indizível / que é o corpo indistinto da alma

 

Sérgio Fonseca. Provavelmente, ter sido pai é mesmo o seu melhor legado. Conheçam a obra do poeta por excelência, do ensaísta, do apaixonado pelo género epistolar, também contista, humanista e… Há vários anos que conhecemos o Sérgio e temos tido a honra, o gosto e o privilégio de o ter nesta “família (irmandade) literária e cultural” (e que ele possa continuar connosco por muitos e bons anos é o nosso maior desejo) como uma espécie de mestre que a todos orienta e inspira. Faz-nos recordar um pouco aquele célebre aforismo que diz: «Quando o aluno é bom e está pronto, o mestre aparece»; e, em boa hora, o Sérgio apareceu e continuará certamente connosco por ser quem é, e, sobretudo, pela excelência do seu trabalho. Não deixem de ler (fruir) com muito atenção (pois muito se aprende e compreende, sem nunca se compreender de todo, pois os mistérios imperam…) a sua “Carta (imaginada) dirigida a Fernando Pessoa”. A Literatura tem o propósito maior de fazer pensar, podendo ser terapêutica e psicanalítica, purificadora, catártica…, mas a sua grande função é inquietar para que possamos subir e subir. Esta carta imaginada e inspirada do Sérgio, que evoca vários pensadores e os põe (de alguma maneira) em diálogo com o grandioso Pessoa(S), deve ser — a partir de agora (recado para o MEC que anda sempre muito distraído) — lida nas escolas deste país antes do início dos conteúdos/matérias/temáticas relacionados com Fernando Pessoa(S). Tudo o que já se escreveu e irá escrever sobre Pessoa(S) é importante e desejável, (não temos dúvidas), mas, a partir de agora, impõem-se o conhecimento e a divulgação desta carta, e, desejando estar certo, numa próxima reencarnação o Sérgio (e também todos nós, nem que seja através de um fenómeno telepático ou coisa do género, talvez também por osmose…) iremos ter a resposta do Fernando ou de um dos seus heterónimos ou semi-heterónimos. Estamos em crer que o Bernardo Soares (um ser pessoano com a alma mais delirante e mística) irá mesmo responder à carta do Sérgio. A convite deste nosso autor, tivemos a honra e o gosto de escrever uma nota para o seu último livro — sabiamente designado de “Pontes de Tolerância”, Edição de autor, 2024 — (que recomendamos vivamente) e que aqui se partilha: «1. Sérgio Fonseca é verdadeiramente Pessoa de causas nobres e este seu mais recente projeto, tanto em prosa/poema como a nível pictórico/fotográfico, é, uma vez mais, e em boa hora (pois bem sabemos que este mundo está caótico e vazio de valores), a expressão do grande humanista que nos toca e inspira pelo exemplo, do apaziguador ético, do revolucionário axiológico e também do arauto da mudança. Este livro é um grito e um aviso. É urgente alterar o velho e estafado paradigma! É urgente que no “coração (e Razão) da humanidade” se instale a vontade de mudar definitivamente e para melhor. Abaixo todas as fronteiras e obstáculos! O paradigma pretendido e idealizado expressa-se na semântica da Ponte, que, com Sérgio, adquire uma dimensão prática e vivencial, no sentido mais nobre, pois nos galvaniza e nos diz que é possível uma humanidade mais tolerante e consciente das necessidades do Outro. Sérgio desafia-nos mesmo, e sem peias, a realizar o caminho da Ponte. Que possamos, também para o bem da nossa Alma, alinhar num mundo de paz, de amor e de maior conexão com todos. Assim, ousa fruir este livro e modifica-te! Eis a grande mensagem para os dias de hoje. 2. Sendo também um comunicador de excelência, Sérgio Fonseca procura reorientar a nossa atenção (pois andamos demasiado distraídos com o ruído e as imensas banalidades deste mundo) para o essencial: a verdadeira “condição humana” com tudo o que isso implica. Sim, este livro também é um “murro no estômago”; também é uma espécie de “tratado” alternativo de Axiologia para o nosso tempo. É tudo isso e muito mais que, por vezes de forma subliminar, é colocado à nossa consideração cívica e ética, e, sobretudo por isso, jamais podemos ou devemos ficar indiferentes aos avisos/reparos; às sugestões/recomendações que nos obrigam a olhar para dentro de nós (introspeção) de outra maneira, e, acima de tudo, e um pouco “à maneira kantiana”, o Sérgio nos diz que a solução está em cada um de nós, pois todos temos consciência moral e o que conta mesmo é a nossa autonomia e Razão para assim se contribuir para a desejada cultura de paz, de amor e de harmonia, o desiderato essencial. 3. Este livro apela como nunca à nossa sensibilidade cívica, ética e humanista, pois o que é relatado nos vários contos e poemas (pensados e escritos um pouco à maneira de fábulas didático-pedagógicas) dá-nos “ferramentas” para podermos (desejavelmente) sair do limbo da indiferença onde muitas vezes (demasiadas) nos encontramos. Este livro provoca — acima de tudo — a nossa saída da “zona de conforto”. 4. Releva-se aqui também a existência de “um bom casamento” entre a prosa/poesia e as imagens que muito enriquecem este diferenciado projeto. Este livro é também um fantástico e bem conseguido álbum com imagens apelativas, inquietantes e desafiadoras que reiteram a mensagem essencial e que a refletem numa outra dimensão, tornando-a ainda mais apelativa. Como sabemos, “há imagens que valem (comunicam) mais do que mil palavras”. Além de escritor e poeta, o Sérgio revela-se também — neste ambicioso projeto — um artista-plástico e um fotógrafo de eleição. Parabéns pelos vários talentos, e, sobretudo, pelo facto de os conseguir pôr ao serviço de causas humanitárias tão nobres (e a necessitarem de atenção como nunca neste estranho tempo em que vivemos). 5. Obrigado amigo e “companheiro de luta” por este maravilhoso projeto literário e artístico, qual “bússola alternativa” que me/nos indicou outros nortes e que contribuiu — tal como esperamos em relação aos outros — para uma maior consciência cívica e moral. Que sejamos de facto — e por excelência — construtores de pontes e de caminhos e não de fronteiras. Grande abraço e longa vida!»

 

SolLee presenteia-nos com um “exercício poético” simples (sem ser simplista), que nos sensibiliza pela pureza cristalina das palavras escolhidas, pela motivação para nobres causas pessoais e coletivas, e, particularmente, por nos recomendar e lembrar que devemos — cada vez mais — enfatizar e viver o lado positivo/luminoso das nossas vidas. A sua poesia traz-nos Luz, pois a poetisa SolLee é luminosa por natureza, telúrica e…, orientadora de Bem, Beleza, Justiça e Paz. Tal como Siddhartha (o Buda, o Iluminado, aquele que atingiu o Nirvana…), a também mística e espiritualista SolLee, a par da poetisa diferenciada e peculiar, bem como da mulher de bem com o Mundo e com a Vida, procura elucidar-nos e orientar-nos para a essência da Vida. Bem sabemos que tudo é impermanência e que o que mais importa nesta “reencarnação” — acima de qualquer outra coisa — é a vivência do Amor e da Beleza que nos deve  preparar para o nosso derradeiro destino (Eternidade/Imortalidade). Ela, a nossa poetisa, a “boa sibila”, vive poetica(Mente) e convida-nos a trazer a Poesia simples, verdadeira e autêntica, para o rame-rame quotidiano das nossas vidas demasiado agitadas, rápidas e tão cheias de ruído e de coisas absolutamente supérfluas e desnecessárias. Mas quem é ela (que queremos  e desejamos que connosco permaneça por muitos e bons anos)? Eis o que a autora nos diz de si mesma: «Quem sou eu? / Eu sou Sol para os amigos e Lee de família. / Eu sou mulher, mãe, filha, tia, sobrinha, amiga, vizinha, / sonhadora, aluada, rebelde, criança… e tantas outras coisas. / Eu sou como tu, apenas tive a coragem de tirar da gaveta e libertar da mente aquilo que lá tinha guardado. / Eu sou eu, e tu? / Quem és tu?»

 

Virgínia de Sá é uma mulher multifacetada: escritora, poetisa, atriz, humanista, inquietadora e desbravadora da natureza humana. Esta frase que lhe roubamos à sinopse do seu último livro (e de que muito gostamos, porque nos encanta e interpela) diz e esgota — pela beleza e pelo sentido que encerra — praticamente tudo o que há para dizer sobre o seu “exercício poético”. A sua Poesia consubstancia-se em «bruxas fadas que amansam dragões».  É de facto um privilégio acrescido ter connosco neste projeto de tributo ao grande Fernando Pessoa(S) a também poetisa de “primeiríssima água” que connosco partilha belíssimos poemas com algum sarcasmo, ironia e também humor (elegante, subtil e…). Atentem nestes seus versos (poema “Pessoa, talvez Fernando”) que bem ilustram o que acaba de ser dito: «Pessoas, somos nós, e quantas somos? / Perdidas em desencontros, mascaradas / Quantas imperfeições inacabadas / Escondemos em sorrisos e palavras, / No palhaço feliz, que enfim compomos.» O seu último livro (que sendo de Memórias, se pode ler e fruir também como um romance especial) é um belíssimo contributo para a compreensão do Homem, e, particularmente do papel da Mulher neste nosso  mundo. Não deixem de ler este seu último livro (Edições Colibri, 2023), “História de uma Viagem, ou Duas, ou Talvez Não” (e podem encontrar no Facebook um episódio de “LIVRO(S) em direto” sobre esta obra tão peculiar que tivemos o prazer de realizar). Trata-se (não só, mas também), de um livro terapêutico, de rica introspeção que nos convida a realizar e a meditar sobre as nossas viagens exteriores (pelo mundo fora) e também interiores (pela Alma fora), que se lê como um romance (pois, de alguma forma, inclui todos os géneros literários), e, apesar de não relatar apenas e só experiências e vivências boas da sua/nossa Vida, sobretudo por isso, por ter a coragem e a ousadia de abordar e especular o lado menos bom da Vida, faz-nos — a sua leitura e fruiçãomuito bem às nossas Almas e é a nossa derradeira recomendação como leitura obrigatória e urgente. Eis aqui a sinopse que tão bem nos elucida sobre a essência deste livro incontornável: «Escrito para mulheres e homens sensíveis, “História de uma Viagem, ou Duas, ou Talvez Não”, não é um livro de metáforas. A realidade da autora a nu expõe sentires e sofrimentos, mas não é um livro de desesperança. É um livro de luta por dias melhores. De levantar após a queda. É sobre esperar um abraço. Sobre chegar a velho ainda criança. Sobre bruxas fadas que amansam dragões. É um livro para mulheres velhas e rebeldes. Para mulheres que se rebelam, novas e velhas, e para homens que querem saber mais sobre mulheres. Amores platónicos e reais, contradições, doença psicossomática, amor às pessoas e aos animais. Um livro em crescendo, como se fosse música

 

Von Trina.  Eis o poeta que É…, também prefaciador, humanista até ao fim, “ativista cultural” (pois praticamente tudo o que o Von Trina faz — incluindo o sexo — é ativismo cultural…), o também “revolucionário, o exigente e inquietador”. É um bom amigo de vários anos e um companheiro deferente, desbravador da Alma humana tal como todos os que dão corpo e voz a este projeto. Agradecemos-lhe o ter estado connosco em muitos projetos (vários e diversificados que ajudou a criar/fundar e a desenvolver) e que continue connosco por muitos e bons anos a fim de nos “imortalizarmos” em conjunto com os nossos legados (independentemente de serem muito ou pouco apreciados, mediáticos, reconhecidos, conceituados — que palavra tão feia! — e/ou compreendidos. Estamos — ambos — de facto, a “marimbar” para isso, pois a maioria da dita Comunicação Social de referência (como alguns apelidam) “é a porra” e a idiotice que sabemos, tendenciosa, preconceituosa e seletiva até dizer basta…). Não é de todo por preguiça, mas sim, pelo facto de considerarmos que não faríamos melhor por agora, e também pela simples razão de que o texto que aqui se partilha (escrito em março de 2000) está — a nosso ver — tão atual como nunca, e que foi o nosso contributo crítico colocado na 1ª badana do seu saudoso livro físico — “A Dádiva Astuciosa dos Deuses” —  (publicado pela extinta Editorial Minerva — casa editora para a qual realizámos coordenação literária durante cerca de 27 anos, livro esse que tivemos o prazer e o gosto de coordenar, publicar e apresentar em digressão pelo país e que continua impactante, desafiador, marcante e significativo (e à espera de ser reeditado). Amigo Von Trina, tal como vamos lembrando de vez em quando (e por vários meios), está mais do que na hora da reedição deste teu livro, pois o mundo merece conhecer e fruir este excelente, criativo e incontornável contributo para a “Poesia portuguesa contemporânea”: «1. Ao ler os poemas de Von Trina, sobretudo o capítulo sobre Timor, recordei aquele famoso e último verso de um poema de António Gedeão: «Abaixo o mistério da poesia!» (poema Enquanto). 2. Von Trina tem uma sofisticada sensibilidade, percebendo, como ninguém, através da mais-valia das palavras amargas e doces, as  fraquezas deste mundo, qual dádiva astuciosa dos deuses, e, ironica-mente, sarcastica-mente, retracta a decadência do homem do nosso tempo: a “cultura” do supérfluo, as mazelas do social, a arrogância, a sobranceria, a prepotência, a petulância, a estupidez (...). 3. O  poema é, para Von Trina, uma arma que espicaça as consciências algo adormecidas, uma arma para lutar contra as ideias-feitas, o tudo-pronto, o tudo-dado, o já-pensado, os marasmos quotidianos. A poesia de Von Trina é, assim, um campo de batalha, e o inimigo é a excessiva normalidade do Homem: «Arrelia-me a prepotência / Incomoda-me a deferência / Arreporra para a normalidade». 4. Estamos, com esta provocadora obra poética, no lado mais irreverente e nobre de toda e qualquer criação. O tom lírico-irónico é uma das marcas mais visíveis do “fazer-literário” deste autor. 5. Poeta é aquele que resiste, que interroga, que luta, que se inquieta, que se revolta, que subverte o instituído, que diz NÃO(!). Eis um poeta-vidente, profeta, anunciador, avisador, inconformista-radical, idealístico, insatisfeito, crítico de ortodoxias e de algumas deferências, desbravador e caminheiro de sentidos, de diferenças, ousadias, adorador da Beleza deste mundo e dos outros (acessíveis aos criadores-artistas). Von Trina é um humanista por excelência, um cidadão do mundo, um homem com alma-grande, proporcional ao seu peso, “bom garfo”, ou não fosse o Homem espírito e corpo (e o corpo de Von Trina não se alimenta apenas com uma sopinha de letras). Ao ler os poemas de Von Trina, dá vontade de gritar (alto e a bom som) estes famosos versos da  saudosa poetisa Natália Correia: “Ó subalimentados do sonho, a poesia é para se comer”. Façam favor de comer a poesia de Von Trina! Alguns farão bem a digestão, outros nem tanto.» Deliciem-se com estes diferenciados versos do poeta: «se o amor / é um desejo inevitável / de ser inevitavelmente desejado / incontornavelmente / invocamos o sexo / tornado sensível ao coração / e um mistério     sem fim / por inexplicável». E fazemos também nossas estas sábias e pertinentes palavras-conselho do nosso poeta revolucionário, rebelde e amigo, que ele repete como se fosse um mantra: Tenham esperança, sejam exigentes!

 

Contaremos com os autores (de todos os géneros e subgéneros já inventados e por inventar) nos próximos projetos literários que tencionamos desenvolver e publicar, e, para tal desiderato, necessitamos obviamente do seu precioso apoio e participação. Mais uma vez, obrigado pela vossa confiança e dedicação a esta causa que nos parece necessária e nobre. Para todos vós, um grande e renovado abraço do tamanho do Uni-Verso. E, à semelhança de Pessoa(S), não deixem de se Outrar.