10 julho 2019

ENTREVISTA de Ângelo Rodrigues concedida ao Projeto «Divulga Escritor» - Brasil, 2015


Quem é ele!?
A errância pura, a diáspora da contradição.
Nasceu em Torres Novas em 1964, mas tem a certeza quase-absoluta de já ter vivido mais de 1000 anos. Tem dois cães rafeiros (Tobias Miguel Cão e Beethoven Cão). Gosta de deusas atrevidas, da Noite, do Mar, da espécie-Mulher, de boa música, de artes-plásticas e de alguma literatura. É, como alguém já escreveu, «um ser intelectualmente irrequieto e insatisfeito que procura despertar as consciências adormecidas pela rotina das ideias feitas, das convenções, dos sistemas».
É licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa e professor de Filosofia do Ensino Secundário. É, contudo, um ser antiacadémico. Passou também pelo Conservatório de Música e pelo ensino de Educação Musical. 
Tem a carteira de Equiparado a Jornalista (caducada) e exerceu irregularmente a atividade na Imprensa Regional e na Rádio.
Como radialista, realizou e apresentou (locução) entre outros, os seguintes programas de temática variada: Poetas da Noite, As Palavras do Poema e O Espelho das Palavras. Na Rádio Renascença (1988) realizou e apresentou o programa Tempo de Poesia. Na Rádio Voz de Almada (1991), realizou e apresentou o programa Espírito da Manhã (música, reflexões e entrevistas).
Livros publicados: «Eu, o Ser e a Dúvida», poesia, Edições Orpheu,1989; «Compra-me Um Deus», poesia, Edições Orpheu, 1992; «Da Ressurreição do Espanto», aforismo & poesia, Ed. Minerva, 1998; «Um bailado no Centro da Alma», vários géneros literários, Ed. Minerva, 2002; «O Passeio de Deus», poesia & aforismo, Ed. Minerva, 2007; «ALQUIMIAS – antologia pessoal 1989-2010», todos os géneros literários e mais um, Ed. Minerva, 2010; «PALMADAS & REBUÇADOS», pequenos contos quase-surrealistas e outros géneros literários, Ed. Minerva, 2013; «ETERNIDADE & ABSURDO», poesia e não só…, Sinapis Editores, maio de 2015; «MUSA LIXADA e PREGUIÇOSA» - Poesia e “Textos aforísticos”, Edições Colibri, maio de 2019.
Tem participação literária dispersa em várias antologias e coletâneas bem como em jornais, revistas, redes sociais, portais e blogues.
E num dia efémero de hábitos estúpidos e terrivelmente convergentes (como no caso do trabalho), escreveu o seu fiel alter-ego Miguel d’Hera num diário-não-autorizado: Ângelo Rodrigues é um resistente, eclético, ecuménico, "um criador de absoluta insatisfação"; é também um humanista do desejo e da ousadia, um provocador de impossíveis, um moscardo farpizante de conservadorismos e de estabilidadezinhas; um arauto da diferença; um místico do devir... Um tipo - às vezes e apesar das crises… - divertido!


1.              Escritor Ângelo Rodrigues é um prazer contarmos com a sua participação no projeto Divulga Escritor. Conte-nos o que o motivou a publicar o seu último livro “Eternidade & Absurdo”?

A motivação para se escrever um livro (e publicá-lo - que é também uma experiência corajosa, ousade e bastante complexa) é sempre algo enigmático e, no meu caso, pouco ou nada racional. Escrevi este livro porque sim… porque me apeteceu… Se outras razões existiram, passaram-me um pouco ao lado. Escrever e publicar é algo quase visceral e inato em certas pessoas e, no meu caso, tendo eu uma propensão grande para a “Comunicação” (já exerci jornalismo e grande parte da minha vida é dedicada ao ensino), escrever e publicar é um “ato” natural (como quem respira) …

2.              Como foi a construção dos textos que compõe esta obra?

Uma parte significativa do livro são poemas, textos e aforismos inéditos que fui escrevendo e guardando ao sabor do tempo. Quando decidi publicar o livro, o meu maior problema foi encontrar os poemas e textos mais significativos que estivessem em conformidade com a ideia filosófica/cultural/teológica/antropológica do título e do assunto que queria explorar. Modéstia à parte, penso que consegui apresentar um conjunto de poemas/textos/reflexões que concetualizam, problematizam, especulam e “polemizam” o tema central e essencial do livro. A segunda parte da obra (talvez mais criticável por alguns por ser “algo narcísica”, mas não intencional) consiste na reunião de vários textos (prefácios, posfácios, impressões, artigos, opiniões, badanas e contracapas) de pessoas que eu admiro e que sobre mim escreveram ao longo da minha atividade de cerca de 25 anos de Literatura, coordenação literária e afins.

3.              Algumas pessoas criticam a apresentação do livro ”Se fores parvo, idiota, imbecil, estúpido, fanático, sem dúvidas, bronco, ordinário, ditador, insolente, arrogante ou patético, também podes ler este livrinho!” Conte-nos, como foi a construção e escolha do texto para apresentação do livro?

Admito que tenho uma postura/atitude (mundividência) algo irónica na vida e para a vida e também não suporto aqueles que se consideram os especialistas de tudo e mais alguma coisa bem como os puritanos… Esta singela frase promocional (honesta, verdadeira, sincera e autêntica) quer dizer exatamente o que diz.  Eu não escrevo nem publico apenas e só para intelectuais, esclarecidos, pessoas tidas como “normais” e interessados em Literatura. Eu quero e desejo, acima de tudo, chegar a toda a gente e, sobretudo, a todos aqueles que por uma razão ou outra são literário-excluídos (seja lá isso o que for!). Se o tipo mais crápula / troglodita e fora da lei deste mundo conseguir ser um pouco melhor do que é pelo facto de me ter lido, já valeu a pena ter escrito e publicado.

4.              Já percebemos que “Eternidade & Absurdo” se trata de um livro polêmico, filosófico, reflexivo... conte-nos o que mais o encanta nesta obra literária?

Se a Literatura não for – também – polémica, não servirá para muito. A polémica galvanizará o mundo e serei sempre polémico até morrer... E quando chegar ao Inferno, continuarei a ser polémico mesmo que o Diabo me queira doutrinar…
É isto o que mais me encanta nesta obra: os meus poemas/escritos são absolutamente despretensiosos, despreocupados, livres, esvoaçantes, combatem os preconceitos, as ideias-feitas e tratam de assuntos/temas/problemas/ideias universais. São poemas/escritos contemporâneos, lúdicos, hilariantes, por vezes cómicos, revolucionários, desconcertantes, cáusticos, patéticos (no sentido mais nobre do termo), por vezes humorísticos, irónicos, polémicos, críticos, mordazes, subtis, insólitos, inesperados, inovadores, originais, diferentes, ousados, arrasadores, errantes, loucos, dionisíacos, existencialistas, psico-terapêuticos, desbragados, destruidores de mentalidades tacanhas e fechadas, desconfiguradores, demolidores, palavrosos, debochados, alquímicos, antropológicos, às vezes eróticos, filosóficos, políticos, históricos, sociais, culturais, estéticos, ambientais, teológicos, religiosos, anticlericais, diabólicos, endeusados, monárquicos, republicanos, democráticos, reais, ilusórios, fantasmagóricos, antipoliciais, embriagantes, excessivos, psicanalíticos, calmantes (concorrentes do Xanax e do Valium), hiperbolizantes, instintivos, anticlaustrofóbicos, antistresse, anticrise(s). (Já chega porque há um limite para a resposta. Se assim não fosse, poderia estar o dia todo nisto…)

5.              Onde podemos comprar o seu livro? (podes deixar link para compra em resposta)

O livro estará esgotado em pouco tempo e não queremos voltar a reeditá-lo mesmo que a editora me pressione ou me ofereça condições excecionais. Acabou por se tornar num livro “único” (os meus amigos, colegas e vários dos meus leitores me têm dito de forma carinhosa e apologética que se trata de um “livro de culto” e quero acreditar que assim é e por isso não será reeditado). Não é um livro comercial e por isso o importante é que chegue – apenas e só – às pessoas que valem a pena. Neste momento existem em stock/armazém apenas cerca de 50 exemplares e preferimos que sejam adquiridos/comprados de uma forma muito prática, direta e eficaz e sem grandes burocracias comerciais. (…)

6.              Fugir do comum, é comum para o Escritor/Poeta Ângelo Rodrigues, conte-nos quais os principais projetos a serem apresentados, nos conte um pouco do porvir.

Custuma-se dizer que “o futuro a Deus pertence”. Contudo, enquanto por cá andar, tenciono ainda publicar outras obras e usufruir do prazer e do encanto de uma das grandes conquistas da humanidade: a Literatura.

7.              Como você vê o mercado literário português?

Apetecia-me dizer um palavrão, mas na vida procuro ser elegante e numa entrevista deste género não convém dizer palavrões.
O mercado literário português (como lhe chama) precisa de uma grande reforma a vários níveis. Existe uma grande confusão e trapalhada editorial e comercial neste setor. Há um tempo a esta parte, parece que toda a gente virou editor e entendido na matéria e o desejável “profissionalismo da coisa” ficou em causa e como que doente ou quase moribundo. Há “editoras”, para-editoras e afins que não passam de intenções, de caprichos e que não respeitam as normas e os procedimentos legais (e outros) que o mercado exige e necessita... Falta muita pedagogia, formação, experiência editorial, informação, reestruturação e também algum respeito pelos autores/escritores por parte de todos os intervenientes no processo. Quanto à Comunicação Social (Media) em geral, é uma lástima completa e tenho a perceção que existem jornalistas e “comunicadores / apresentadores / fazedores de opinião” que nunca leram um livro e muito menos o promoveram...
Estou ligado a uma editora em Portugal (enquanto escritor/poeta e coordenador literário) mas às vezes apetece-me fundar a minha própria editora desejando que a mesma seja uma “pedrada no charco”  a fim de combater um certo marasmo e arrogância editorial que se instalou em Portugal (e também um pouco por todo o mundo…). (…)

8.              Quais as melhorias que você citaria para o mercado literário em Portugal?

Creio que a resposta à pergunta anterior já contempla esta. Contudo, acrescento o seguinte: coloquem nas editoras e na Comunicação Social (particularmente nas televisões) pessoas mais esclarecidas, que percebam de facto que a Cultura em geral (e a Literatura em particular) são essenciais para a vida, são o “sal e a pimenta” desta. A Comunicação social devia ter mais programas sobre livros e sobre autores/criadores e pelo menos, uma vez por dia, todas as empresas de Comunicação Social deviam falar e promover um livro e um autor diferente (não sempre os mesmos do regime do costume, do compadrio e da cunha…). Claro que isto é uma utopia…, mas o mundo evolui de utopia em utopia…

9.              Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor o escritor Ângelo Rodrigues. Agradecemos sua participação no projeto Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para os nossos leitores?

Sejam felizes e não queiram morrer sem ler, usufruir e curtir o meu último livro «ETERNIDADE & ABSURDO». (Estarei disponível para qualquer informação, esclarecimento, crítica, especulação ou devaneio). Até sempre!





1 comentário:

Ângelo Rodrigues disse...

Gostei de ler as respostas deste tipo