concedida à TERTÚLIA ORPHEU
e ao blogue EXTRAVASAR, julho de 2019
(Esta 1ª parte da entrevista está também publicada no Livro 6
da coletânea «MUNDO(S)». A 2ª parte está publicada no Livro 7
da mesma coletânea, Edições Colibri, 2019)
e ao blogue EXTRAVASAR, julho de 2019
(Esta 1ª parte da entrevista está também publicada no Livro 6
da coletânea «MUNDO(S)». A 2ª parte está publicada no Livro 7
da mesma coletânea, Edições Colibri, 2019)
1.
Tertúlia Orpheu / Extravasar: Caro professor, poeta,
escritor e coordenador literário Ângelo Rodrigues, a sua participação nos nossos
projetos é para nós um enorme prazer. Queira fazer o favor de partilhar
connosco (e com o público leitor) as motivações que o levaram a enveredar pelo
fascinante mundo da escrita, da coordenação literária e da divulgação/promoção
cultural em geral.
Ângelo Rodrigues: Desde
muito cedo que me interessei por livros e, digamos, pelo universo dos
escritores e da escrita (seja lá isso o que for… pois há ainda muita
confusão e “parolice” sobre o conceito de se ser ou não ser escritor; contudo,
não vou aqui dissertar sobre este assunto que ficará para um outro tipo de
reflexão). De forma delicodoce, partilho convosco o que
tenho ainda na memória (enquanto criança): o saudoso registo de conceber nos
anexos da “grande casa” de aldeia dos meus pais (centro de Portugal), pequenos
recantos com supostas “Bibliotecas” e “lugares” destinados “à leitura”. Os
livros não eram muitos lá por casa, mas, durante horas, a criança (que também
era curiosa, rebelde, igual e diferente como quase todos nós), realizava uma espécie
de jogo/investigação no sentido de encontrar livros e de os arrumar/alinhar por
tamanhos, cores, aspeto e às vezes também por temáticas e géneros. Desde então,
e até hoje, nunca abandonei os livros e eles também não me abandonaram. Obrigado
livros por gostarem (também) de mim! Direi mesmo que, a seguir ao meu grande
amigo Tobias Miguel Cão, os meus melhores amigos são, definitivamente, os
livros (os meus e os dos outros). Pronto!, OK… o Von Trina também é meu amigo… Aproveito
aqui para – se me é permitido – dar-vos um conselho: amem os livros… Se
possível, “façam Amor” com eles… Sejam também pais e mães de Livros! Proponho ainda o seguinte exercício matinal: logo pela
manhã, e ao sair da cama, ir à janela e gritar a palavra LIVRO!!!!! («Livro, o som mais nobre que o homem alguma
vez proferiu» - Bernard Levin).
Não consigo conceber a minha vida sem livros e estou em crer que, apesar de
toda a revolução tecnológida e da vasta variedade de suportes já inventados e
por inventar, o Livro em papel continuará a ser, pelo tempo fora, o suporte
mais nobre, eficaz e simples para se ler e fruir um bom poema, um conto, uma crónica,
um romance…
Quanto
à coordenação literária (função também abordada na vossa questão, lembro-me, e
partilho, que o meu primeiro projeto literário aconteceu no início do Ensino
Secundário quando me dispus a compilar (e a coordenar) numa espécie de coletânea
artesanal (que perdi ou dei…) alguns poemas e pequenos textos (escritos numa
velha máquina de escrever) que já fazia e que resolvi “publicar” fascinado já
na altura pelo “objeto” Livro. Nessa
época já me entusiasmava o processo de “fabrico” de um livro e estava longe de
pensar que uma boa parte da minha vida e do meu tempo seria ocupado numa
permanente relação com livros e com autores.
A coordenação literária e o “mundo da edição”
continuam a ser para mim algo de mágico e até de enigmático e, dito isto,
alinho com o grande escritor argentino Jorge Luís Borges (1899-1986)
quando escreveu «sempre imaginei o
paraíso como uma espécie de Biblioteca». Quando estou em espera (quase
sempre “em pulgas”) que um livro saia da editora/gráfica, tenho um
“comportamento” semelhante ao meu já evocado cão Tobias que fica altamente
excitado e entusiasmado quando prevê (ou “intui”) que lhe vou dar um osso.
Lembro-me que, talvez influenciado pelo grande Fernando Pessoa(s) que já conhecia um pouco apesar de
criança, esses “para-poemas” e “textozinhos” tinham nomes diversos e eu
aparecia como o coordenador da coisa... Agora que disto me lembro (pois
recordar também é viver), tomo consciência que talvez tenha sido esta a minha
primeira experiência de coordenação literária; desde então, já passei por
quatro ou cinco projetos editoriais e já coordenei (bem ou mal) dezenas de
projetos literários de praticamente todos os géneros. Estou em crer
que devo ter publicado entre 750 a 1000 autores/escritores (uns mais conhecidos
ou “consagrados” do que outros) e alguns foram mesmo publicados pela primeira
vez em projetos que criei e divulguei com a ajuda das editoras e das diversas
entidades culturais onde colaborei e colaboro. Se me é permitido fazer aqui um “balanço”, direi
que - pelo menos para mim - valeu a pena.
Quanto
à promoção e divulgação cultural, como dizia a minha saudosa avó, “está-nos na
massa do sangue”. Desde a escola secundária, passado mais tarde pela minha
experiência na apresentação de programas de rádio (Renascença, Voz de Almada
entre outras), Jornalismo Cultural e Ensino, diria que temos o direito
e sobretudo o dever de promover/motivar a Cultura e as Artes.
Como costumo lembrar (e reitero aqui mais uma vez),
o que seria de nós sem a Cultura e sem as Artes(?!). Parafraseando (e abusando)
a célebre frase de Nietzsche (1844–1900)
«o mundo sem Música seria um erro»,
eu direi: o mundo sem as Artes em geral seria apenas estúpido. (Deste grande
monstro do Pensamento, da Filosofia e da Literatura, não deixem de ler ou de
reler o grande «Para além do bem e do mal»).
2.
Tertúlia Orpheu / Extravasar: Fale-nos do
processo de construção das suas obras literárias bem como das dificuldades que
sente (ou não) na sua elaboração e na afirmação das mesmas junto dos leitores.
Ângelo Rodrigues: O
meu processo de produção e construção dos meus “livrinhos” é muito simples e
também caótico tal como a minha pobre Alma. Serei talvez um caso perdido... Sou muito
pouco racional a escrever e não tenho nenhuma disciplina pois acontece quando
calha e também não acredito na famigerada Inspiração pois, tal com é dito pelo
grande escritor Fitzgerald (1896-1940), «não
se escreve porque se quer dizer alguma coisa, escreve-se porque temos algo para
dizer» e eu funciono um pouco assim… Quando sinto que tenho algo para dizer, escrevo em
todo o lado e, quando tenho um esboço ou algo do género, ou vira um poema, um
texto aforístico, um pequeno conto ou outra coisa qualquer desde que para mim
faça sentido.
Qualquer
criador/autor (em qualquer tipo de arte), mesmo que diga o contrário, tem
sempre problemas na divulgação e distribuição das suas obras. Esse foi, é, e
continuará a ser o “Calcanhar de Aquiles” ou o parente pobre do processo
criativo. Até porque esta dimensão do processo faz parte, por excelência, da
criação artística e literária em geral. Podia apresentar aqui vários exemplos
de várias épocas, mas limito-me a recordar apenas dois génios do Pensamento e
da Literatura: o caso de Nietzsche cujos livros (ensaios filosóficos e não só)
foram vendidos a peso por “tuta e meia” e também o caso de Mário de Sá-Carneiro
(1890-1916)
que em vida foi absolutamente incompreendido e pouco ou nada publicado. Mas há
muitos mais a quem o Tempo (ou não) irá fazer justiça. Contudo, a bem da verdade
e sem nenhuma espécie de pretensiosismo (que é coisa que detestamos muito),
estou-me marimbando para o pouco ou muito reconhecimento do meu trabalho literário
e criativo. Costumo
dizer a alguns bons autores que ajudo a publicar que se a obra deles for
realmente boa, nem que demore 1000 anos, mais cedo ou mais tarde, a mesma terá o
reconhecimento que merece. Creio que é agora a oportunidade para dizer que também
anda por aí muito “gato por lebre” e muita confusão sobre o que é ou o que não
é Literatura. Assumi também, desde muito cedo, que uma das minhas funções/papéis
- chamemos-lhe compromisso - neste mundo passageiro e ingrato, é criar Arte em
geral e fruir (o mais possível) a Arte dos outros… Sem Arte (incluindo
principalmente a Música e a Literatura), esta vida (tal como a concebemos)
teria pouco sentido.
Outro
aspeto da questão, à qual não quero fugir, é o facto de a Comunicação Social (particularmente
no âmbito cultural e artístico) ser tristemente - e de facto - muito pobre em
Portugal. Já disse isto em outros textos e entrevistas, mas temos mesmo que ir
reiterando a ideia até que alguém nos ouça: temos que colocar na Comunicação Social verdadeiros
humanistas e mulheres e homens de cultura! Pasme-se: mais de 75% de um qualquer
Telejornal (de praticamente todos os canais) é Desporto. Mais
palavras para quê?! Estamos mesmo em Portugal. Apesar de tudo, adoro este país
e não queria viver em mais nenhum.
3.
Tertúlia Orpheu / Extravasar: Se possível,
faça-nos um pequeno resumo da sua obra mais emblemática e destaque um ou dois
temas que possam eventualmente gerar mais interesse, polémica e/ou surpresa junto
do público leitor.
Ângelo
Rodrigues: O meu “livrinho” mais
perturbador (até para mim) é o «PALMADAS & REBUÇADOS - Pequenos contos
quase-surrealistas» - que saiu em 2013 e que em várias passagens é
absolutamente desconcertante e cáustico. Mas esta fase já me passou um pouco e agora estou
menos crítico-sarcástico, um pouco mais filosófico, talvez metafísico e/ou
espiritual… Contudo, também gosto muito
do meu último livro que saiu em maio deste ano (2019), «MUSA LIXADA &
PREGUIÇOSA» que reúne poemas e textos aforísticos que procuram Sentido bem como
explora e reflete (julgo eu) a condição humana e o propósito das nossas relações
(a vários níveis) no cômputo geral das nossas vidas.
Apesar do que já disse, estou em crer que o tema
sobre o qual me debrucei e que mais “polémica” (e surpresa) gerou nos “meus
leitores” foi exatamente o livro «ETERNIDADE & ABSURDO» que saiu em 2015 e
que se encontra esgotado. (Se pelo menos 100 supostos e potenciais leitores
manifestarem interesse em conhecer esta
obra, irei pedir à editora para fazer uma 2ª edição apesar de eu não gostar de
reeditar os meus livros e por norma não o fazer).
4.
Tertúlia Orpheu / Extravasar: A que tipo de
pessoas (eventuais leitores) poderá interessar mais a sua obra e porque razão
ou razões.
Ângelo Rodrigues: É
uma questão difícil de responder. A tentação primeira é dizer que a minha
“obra” pode interessar a todas as pessoas desde os 15 aos 150 anos, mas sei que
as coisas não funcionam assim e eu sou obviamente suspeito. Como é sabido, o
meu género de eleição (e que tenho privilegiado ao longo do tempo) é a Poesia e,
cerca de cinquenta por cento do que tenho produzido é deste género; e também
sei que há muita gente que ainda não percebeu a importância da Poesia faltando-lhe
talvez um contexto ou um certo enquadramento para compreender e interiorizar
que a Poesia, logo a seguir à Música, é uma arte maior e de grande significado
para o sentido e propósito das nossas vidas.
Mas eu não estou aqui para doutrinar ninguém, apenas faço um alerta: leiam boa
Poesia! Irão notar que, quase sem se aperceberem, uma espécie de transfiguração
vos irá acontecer… algo como sair do “rame
rame” quotidiano e entrar numa espécie de paraíso ou, ainda, algo próximo
de um orgasmo… Também aprecio bastante, contos surrealistas (ou do género), um
pouco à maneira de Mário Henrique Leiria (1923-1980)
e de Gonçalo M. Tavares.
Aproveito
para partilhar algo que me causa alguma espécie, alguma perturbação, no sentido
negativo do termo: apesar de estarmos um pouco melhor nos últimos anos, verifico ainda que a maior parte das pessoas
parece ler apenas romances de meia dúzia de escritores (sempre os mesmos)
mediáticos e/ou “televisivos” como se a Literatura se resumisse a isso. Mais um conselho
(que é coisa que não costumo fazer, mas hoje estou estranhamente para aqui
virado): Abram a mente a outras leituras e procurem também - e cada vez mais - escritores, autores, poetas e artistas alternativos
e que mais cedo ou mais tarde irão fazer – realmente – a diferença.
(Também me sinto muito profético hoje… mas já passa!).
5.
Tertúlia Orpheu / Extravasar: Partilhe connosco
e com o público leitor a forma mais prática e eficaz de se comprar/adquirir os
seus livros.
Ângelo Rodrigues: Os
meus livros (e particularmente o mais recente «MUSA LIXADA e PREGUIÇOSA»)
encontram-se nas livrarias físicas e nas várias plataformas online de venda de
livros. Se por acaso entrarem numa qualquer livraria física e o livreiro ou o pseudo livreiro vos disser que
desconhece o livro ou o autor, chamem-lhe nomes feios e digam-lhe também que de
Literatura não sabe nada. Contudo,
para que não inventem desculpas (pois os portugueses são exímios em inventar
todo o tipo de desculpas para não lerem), aqui vos deixo alguns links de boas
livrarias/plataformas online onde podem mandar vir os meus “livrinhos” que são
- em termos de PVP - muito acessíveis e que, ainda por cima, nestas plataformas,
estão com fantásticos descontos de 10 a 20 por cento.
Divirtam-se,
inquietem-se e perturbem-se!
-
Edições Colibri (Loja online):
http://www.edi-colibri.pt/Pesquisa.aspx?Action=PesquisaR&Query=%c3%82ngelo%20Rodrigues
http://www.edi-colibri.pt/Pesquisa.aspx?Action=PesquisaR&Query=%c3%82ngelo%20Rodrigues
6.
Tertúlia Orpheu / Extravasar: Queira destacar
e partilhar connosco e com o público leitor o seu melhor projeto
literário/criativo até agora. Fale-nos também dos eventuais projetos para o
futuro.
Ângelo Rodrigues: É
sempre difícil - e relativo - destacarmos o nosso melhor projeto. O melhor
projeto de quem cria é sempre aquele que ainda não foi criado. Creio que a
“atitude” clássica - e por excelência - da maioria dos autores/criadores, é
considerar que o projeto em que se está a trabalhar é o melhor e, desta vez,
vou também alinhar por aqui concluindo que o meu melhor projeto está agora a
ser iniciado. Apesar
de tudo, e tendo em conta que o melhor é sempre o que virá a seguir, gostaria
de destacar o meu último livro «MUSA LIXADA e PREGUIÇOSA». Estou também a
produzir e a coordenar os Livros 6 e 7 da coletânea «MUNDO(S)» para as Edições
Colibri; é um projeto que, apesar do trabalho que dá, e apropriando-me de uma típica
expressão dos mais jovens, me tem dado alguma “pica” pois tenho conseguido
encontrar poetas bons e outros muito bons e isso, só por si, é uma satisfação e
um prazer bem como nos deixa uma sensação de dever cumprido uma vez que - mal
ou bem - temos contribuído para a descoberta, receção e motivação/galvanização
de novos valores da Literatura em geral e da Poesia em particular. Para
rematar, por graça e também porque achamos curioso, já algumas pessoas me
disseram que eu sou uma espécie de Júlio Isidro da Literatura; não deixa de ser
simpático embora talvez injusto para alguns.
Como
sabemos, o futuro a Deus pertence, mas, apesar desta quase-certeza para muitos
de nós, se acreditarmos de facto nas nossas competências/talentos/intuições…, podemos
e devemos fazer projetos e lutar por eles. Assim, ainda pretendo realizar e coordenar vários
Livros da «MUNDO(S)», produzir um livro de Entrevistas (minhas e de outros) e
organizar um Festival de Literatura, Música e Artes bem como mais umas quantas
tertúlias. A ver vamos!
7.
Tertúlia Orpheu / Extravasar: Qual a sua
opinião e sensibilidade sobre o mercado livreiro em Portugal e na Europa? O que
melhoraria e o que alteraria neste complexo mercado?
Ângelo Rodrigues: A
questão é boa, mas a resposta vai ser necessariamente fraquinha pois tenho
andado bastante arredado da estatística e afins uma vez que sou muito mais emotivo
do que racional e as questões logísticas (apesar de praticamente todos os dias ter
que lidar com elas) são as que mais me perturbam e arreliam e por isso tento
não perder muito tempo com este tipo de questões práticas. Contudo, a ideia que
tenho, e em comparação por exemplo com vinte anos atrás, fico com a sensação
que hoje em dia se lê um pouco mais em Portugal e também na Europa.
Há com certeza muitos fatores (alguns bastante óbvios) que ajudarão a explicar
isto mesmo e um deles (talvez o principal) é a escolarização generalizada. A suposta
fundamentação desta minha intuição é que sei que há mais projetos editoriais,
muitos mais livros a serem produzidos todos os dias e mais vendas,
particularmente nas grandes feiras de livros tanto em Portugal como na Europa.
Bem sei que isto pode não significar que o facto de se venderem mais livros não
quer dizer que existam mais leitores na verdadeira aceção do termo... E mesmo
que isso possa acontecer, a qualidade dos livros e dos autores bem como a
intensidade da fruição das leituras, pode ser menor e mais pobre – é tudo muito
relativo… No
meu caso, e apesar de procurar ler tudo e mais alguma coisa, acabo sempre por
chegar à conclusão de que é preferível ler um bom livro (marcante, tocante, “fabulástico”, inquietante - ou algo do
género) do que dois ou três maus livros só porque tem que ser (razões
profissionais – entre outras).
Já
o afirmei em outra entrevista do género, mas volto a reiterar aqui a ideia
porque é de facto uma convicção forte em mim: deixem de vender livros nas
grandes superfícies e supermercados e reabilitem as “Livrarias de Bairro” concebendo-as com pequenos auditórios e espaços
para que as editoras e os autores (bem como outros agentes culturais e
artísticos) possam realizar eventos literários diversos que aproximem os
leitores dos escritores e, que também com isso, se possa desenvolver,
dignificar e enaltecer o “culto do Livro” elevando-o, se possível, a um patamar
de excelência que bem merece. Bem sei que isto não
é fácil pois o paradigma cultural, social, académico, tecnológico e económico
(bem como a mundividência e as idiossincrasias da nova geração) mudou bastante,
mas fica a proposta (e garanto-vos que não sou saudosista pois a minha
convicção é que o Futuro é que é…).
8.
Tertúlia Orpheu / Extravasar: Sabemos que
infelizmente a Comunicação Social tradicional (Imprensa / Rádio / Televisão) dá
pouco destaque aos Poetas/Escritores e os poucos que são “falados” / resenhados,
acabam sempre por ser os mesmos. O que pensa disto e o que propõe para que os Media passem a fazer o seu trabalho e a
terem de facto uma atitude de equidade e de justiça?
Ângelo Rodrigues: Quem
me conhece um pouco sabe que também tive uma experiência no designado “jornalismo
cultural” bem como na realização e apresentação (locução) de programas de rádio
e, já nessa altura, era bastante crítico (também com os meus pares) em relação
à pobreza do jornalismo e da divulgação
cultural. Comparativamente
com os dias de hoje, podemos dizer que, por um lado, ainda bem que temos o “complemento”
das redes sociais e que projetos como a TERTÚLIA ORPHEU (Grupo do
Facebook) e o Blogue EXTRAVASAR existem
fazendo um meritório trabalho de divulgação e de promoção cultural de obras e
de autores/criadores através - por exemplo - de uma entrevista como esta.
É claro que não chega e a Comunicação Social de referência, como também já o
afirmei, anda no mínimo e para ser “bem educado”, distraída e, dia após dia (e
ao longo dos anos - com raras exceções -), são sempre os mesmos a ter “tempo de
antena” nas televisões, nas rádios e nos jornais e revistas. Temos mesmo todos
que contrariar este calamitoso (e injusto) estado de coisas e fazer pressão
para que as “entidades” que dominam o jornalismo e os “tempos de antena” possam inverter a sua
atitude. De facto, não se faz - de todo - bom jornalismo em Portugal e há
jornalistas, apresentadores, publicistas e “fazedores de opinião” que julgam
(há demasiado tempo) que convidar e falar sempre dos mesmos e dos mais
mediáticos é o melhor para eles e para o grande público; pois eu digo que não
é; é lamentável, injusto, pretensioso, arrogante e patético. Estamos fartos
da mesmice e está mais do que na hora da necessária e urgente revolução
cultural (e jornalística). Não sou exemplo
para ninguém, mas, por mim, estou a dar o meu pequeno contributo: durante cerca
de três anos foi com o portal CriaPromove
e agora é com o Grupo da TERTÚLIA ORPHEU e com o Blogue EXTRAVASAR. Sei que é muito
pouco, mas vale mais pouco do que nada. Também sabem, tal como eu, que tirando
talvez a Televisão, a restante Comunicação Social está cada vez mais em crise e
há até o sério risco de desaparecer. Também sei que as redes sociais, os portais e os blogues
não podem nem devem substituir-se à Comunicação Social clássica e de referência
(o chamado jornalismo sério e escrutinado) mas, meus amigos…, sejamos
realistas, ou mudam de paradigma e começam também a reparar nos outros e
naquilo que verdadeiramente interessa, ou então talvez venham mesmo a ter o fim
que merecem… Informo
e enfatizo que sou um ávido consumidor de Jornais e de Revistas (sobretudo em
papel) e gostaria sinceramente que o jornalismo clássico e de referência
prevalecesse. A ver vamos!
9.
Tertúlia Orpheu / Extravasar: Muitas outras questões ficaram por colocar,
contudo, foi para nós um prazer e um privilégio termos “conversado” consigo e termos
conhecido um pouco melhor o escritor, o poeta, o professor, o também músico/compositor,
o também artista plástico (com o heterónimo Miguel d’Hera) e o coordenador
literário Ângelo Rodrigues. Agradecemos a sua participação nos nossos projetos
e pedimos-lhe que deixe uma mensagem/recado e/ou um desejo final.
Ângelo Rodrigues: Obrigado
por me terem lembrado que “vou a todas”… É óbvio que sou bastante eclético e
curioso (tenho um espírito de filósofo) e não quero abandonar este mundo sem conhecer
e experienciar várias artes e daí me ter dedicado desde muito cedo também às
que foram enunciadas. Bem ou mal vou desenvolvendo o meu trabalho e, quem
gosta, gosta, quem não gosta, paciência! Enquanto me der gozo (“pica”), vou desenvolvendo trabalho
criativo em várias áreas pois é assim que vou dando sentido à minha vida. Recordo várias vezes aquela célebre frase de
Fernando Pessoas(s) (1988-1935)
que diz muito sobre esta ideia: «A
literatura, como toda a arte, é uma confissão de que a vida não basta. Talhar a
obra literária sobre as próprias formas do que não basta é ser impotente para
substituir a vida».
A
minha mensagem ou recado é apenas isto: obrigado por se terem lembrado de mim e
por terem a paciência de lerem esta singela, mas autêntica entrevista. Vivam em Arte,
com Arte e pela Arte! E, com essa atitude, tentem ser felizes.
Por último, não queiram morrer sem ler qualquer
coisinha de Ângelo Rodrigues pois, quando chegarem ao Inferno, a primeira coisa
que vos vão perguntar é se conhecem ou não este autor…
10.
Tertúlia Orpheu / Extravasar: Escolha por favor um pequeno excerto e/ou poema de
um dos seus livros (publicados ou a publicar). Desejamos-lhe todo o sucesso e
sorte do mundo pois a sua obra bem o merece.
Ângelo Rodrigues: Muito
obrigado por esta entrevista. Foi para
mim um prazer ter passado cerca de hora e meia convosco e desejo que o
prazer que senti a responder às vossas questões possa ser o mesmo de quem nos
vai ler.
Deixo-vos
então com um pequeno excerto do meu último livro «MUSA LIXADA e PREGUIÇOSA» publicado pelas Edições Colibri (www.edi-colibri.pt)
em maio de 2019.
(…)
É imperativo saber
se lá longe,
no lugar mágico da nossa origem,
onde as mulheres
engravidam dos deuses,
e os homens bebem Leveza e Enigmas,
se esconde
o Sentido,
o Sinal,
o Destino,
o Princípio.
Por favor,
qualquer coisa de bom e de belo!
Há três certezas em toda a verdadeira Arte: a contradição, o inconformismo
e a incerteza. É da luta dos opostos que sai o novo e o diferente como nos
ensina todos os dias a Vida. É urgente vi-Ver des-alma-da-mente. É preciso
imaginação, talento, experiências, fruições, êxtases, loucuras... é preciso
saber olhar e ver este mundo e os outros com paixão e diferença-quotidiana para
reinventar a Beleza dos dias e assim ser possível suportar e tranquilizar as
nossas vidas tão carentes e tão descuidadas de essencial. Uma resposta possível
estará na busca do seu próprio Graal; na inquietude; na procura
desenfreada; no desejo de mudança que dá sentido à existência; na nobre e tão
necessária insatisfação que nos permite desbravar e aventurar em novos mundos. Por favor, inquieta-te!
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