ENTREVISTA de
Ângelo Rodrigues
concedida à TERTÚLIA ORPHEU
e ao blogue EXTRAVASAR, julho de 2019
(2ª e última parte)
Ângelo Rodrigues
concedida à TERTÚLIA ORPHEU
e ao blogue EXTRAVASAR, julho de 2019
(2ª e última parte)
1.
Tertúlia
Orpheu / Extravasar: caro poeta, escritor,
professor e coordenador literário Ângelo Rodrigues; já tivemos o prazer de o
entrevistar (1ª parte – julho de 2019) sendo que esta é a 2ª e última parte da
entrevista. Tencionamos, desta vez, e obviamente, colocar-lhe outro tipo de
questões na sequência da entrevista anterior. Assim, nesta primeira questão,
queremos saber qual a sua perceção, sensibilidade e posicionamento
(idiossincrasia) em relação às políticas / ideologias / orientações de governação
para a Europa e, particularmente para Portugal. (No fundo, o que é que na sua
perspetiva está bem e mal e o que alteraria em termos políticos e de
governação).
Ângelo Rodrigues: toda a gente
conhece a célebre frase de Aristóteles (Filósofo Grego –
384-322 a.C.) de que «o Homem é um animal político». Recordo aqui
esta clássica figura e grande pensador da humanidade para dizer que a Política
e tudo o que esta envolve é uma inevitabilidade humana. A Política é uma “arte”
nobre quando é realizada por mulheres e homens verdadeiros - por pessoas - à
maneira de Kant (Filósofo Alemão do Séc. XVIII). Quase todos nós já ouvimos dizer a muita
gente (e até a pessoas muito próximas de nós) algo do tipo: “a Política e os
políticos não me interessam” ou então, “não gosto de Política e isso nada me
diz” e ainda “a Política é para os políticos…”. Este tipo de “desabafos” e/ou
“bocas” (que dizem tudo e não dizem nada) são perigosos e até inaceitáveis pois
- quer queiramos quer não - somos obrigados a concordar com o grande e velho
Aristóteles no sentido de admitir que somos, por excelência, “animais
políticos” (é claro que uns serão mais do que outros), mas não podemos nem
devemos (em situação alguma) excluir-mo-nos da nossa condição Política pois -
talvez por ignorância, por falta de esclarecimento, cansaço social, falta de
paciência para os políticos que têm sido muito maus ou ainda outra coisa
qualquer - as pessoas que se demitem da sua também dimensão Política, não terão
razão alguma (argumentos e fundamentação) para se “queixarem” da falta de “bem
estar” e da inexistência de vários recursos nas suas vidas bem como de uma educação
digna para os seus filhos, etc.. Em suma, não se deverão queixar da falta de
condições minimamente dignas e aceitáveis para uma vida, no mínimo, normal. De
forma ainda mais simples: quem diz nada querer com a Política e os políticos,
está, no fundo, a contribuir para a degradação da sua própria vida e também da
vida de todos os outros. Somos “animais políticos” e devemos não apenas assumir
essa nossa nobre função/papel social como elevá-la ao máximo. Sem mais comentários,
note-se (e pasme-se!) que a abstenção em Portugal ronda a casa dos 70%... Mais
comentários para que (?!) Os políticos e os nossos “líderes” (ou pseudolíderes / governantes)
tornar-se-ão absolutamente disparatados (ou algo do género) se o “Povo”
continuar a ter o comportamento/atitude que acabamos de descrever e que parece
não ser da responsabilidade de ninguém... É preciso rapidamente inverter a
mentalidade tacanha de que a “Política é apenas e só para os políticos” – nada se
revela de mais falso e perigoso para uma qualquer sociedade (seja ela mais ou
menos democrática).
Quanto à Europa,
estou cada vez mais dececionado e não sou o único. Começou por ser uma boa ideia e continua ainda a ter muita coisa boa,
mas está cada vez mais em desgraça e nos antípodas dos desejos humanistas e
económicos dos europeus que somos todos nós. Definitivamente, esta Europa, tal
como está, dispenso... Como estava antes, obviamente que também não queremos.
De facto, precisamos não apenas de ideias, mas sobretudo de boas ideias e isso,
infelizmente, não tem existido (acontecido) por parte das lideranças (governos)
nacionais e europeias. É preciso mais Educação, mais horas semanais da tão
necessária disciplina de Filosofia (e afins) nas escolas de todos os ciclos de
ensino a ver se aparece uma boa leva de ideias. Estou mesmo em crer que uma boa
parte dos nossos políticos não tiverem aulas de Filosofia e isso, desgraçadamente,
nota-se em demasia... Porra… de uma vez por todas (sem manipulações
psicológicas e económicas, sem retórica barata e sem peias nem rodriguinhos),
apostem mesmo na Educação e na Cultura!!! Não fiquem apenas pelas palavras e
pelas boas intenções… Estou mesmo em crer que só assim poderemos almejar e
alcançar o tal “Quinto Império” do Padre António Vieira tão bem corroborado
pelos nossos queridos e saudosos Fernando Pessoa(s) e Agostinho da Silva.
2.
Tertúlia Orpheu /
Extravasar: o Padre António
Vieira, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva (cada um à sua maneira e estilo,
em períodos temporais diferentes e de forma muito peculiar) exaltaram a “Alma
Portuguesa”, a “Demanda” e a ideia do “V Império”. O que lhe apraz dizer sobre
isto?
Ângelo Rodrigues: de alguma forma, já respondi
um pouco na questão anterior. Estamos a recordar figuras grandes da nossa
cultura que estão obviamente inscritas na nossa matriz e na nossa História como
marcos ou símbolos da criatividade, da diferença, da inovação e da excelência
do Pensar. De facto, a chamada “portugalidade” é também o nosso (maior) destino
(Fado). Fizemos e continuamos a fazer-mundo(s) e, tendo sido grandiosos/sublimes
nos Descobrimentos, temos hoje, mais do que nunca, a certeza de que voltaremos
a ser, apesar da nossa pequenez territorial, um grande povo, o tal povo do dito
“Quinto Império” em que a dimensão espiritual, cultural e almífica, possa ser um exemplo para todos os outros povos do mundo.
A dimensão do território é secundária pois a “portugalidade” é uma ideia de
grandeza espiritual, cultural e artística que é quase impossível de encontrar
na maioria dos outros povos/sociedades/civilizações. Vieira, Agostinho e Pessoa(s), cada um à sua maneira, defendem que
Portugal ainda não atingiu a glória suprema e lembram-nos (cada um com a sua
peculiaridade e diferença) que isso é bem possível desde que a nossa prioridade
e orientação - enquanto povo coeso - seja a Cultura e a Educação. No fundo,
estas grandes figuras do Pensamento e da Literatura, alertam-nos (sem a
tentação de cair obviamente em nacionalismos doentios e patéticos que
dispensamos) que Portugal ainda não é o que devia ser, mas que tem tudo para
ser o que já podia ser: humanistas, artistas, pensadores, escritores e
grandiosos poetas. Talvez seja isto o que basta para sermos GRANDES!
3.
Tertúlia Orpheu /
Extravasar: é uma pessoa
religiosa? O que é para si a Religião? Que tipo de importância atribui à
Religião nos dias de hoje? Como vê - enquanto poeta, escritor, humanista e
homem de cultura - os fenómenos de
radicalismo religioso que grassam um pouco por todo o mundo?
Ângelo Rodrigues: o fenómeno
religioso continuará sempre a ser um grande mistério humano. Etimologicamente,
Religião vem do Latim “Religare” que
significa “voltar a ligar o Homem à origem, a Deus – voltar ao Uno”. Bem
sabemos que ao longo da nossa conturbada história humana, a Religião tanto
serviu para aproximações como para afastamentos a todos os níveis e justificou
também muita barbaridade. Ela, a Religião, continua a ser um “pau de dois
bicos”. Sempre estive, desde criança, envolvido na “estatística” da Religião,
mas continuo a ter sobre ela a mesma incompreensão, a mesma dúvida e o mesmo
sentimento... Em mim e para mim (cada vez mais), a Religião não se confunde com
Deus nem este com a Religião. Há formas alternativas (e para mim mais
interessantes e autênticas) de se chegar a Deus ou a “um Deus”. Ela, a
Religião, é uma importante dimensão do Homem e da Vida e admiro (tenho bastante
consideração) por todos aqueles que com ela e a partir dela conseguem ser
felizes bem como conseguem ser solidários com os outros (seus semelhantes)
galvanizando-os para serem também felizes. Infelizmente, não é o meu caso
embora já o tenha tentado também... Nem sequer vou avaliar toda esta situação
pois não tenho argumentos sólidos para ser credível e objetivo. Para já (e
provisoriamente), a Religião para mim é sobretudo (e na essência) uma questão
cultural e de civilização (com uma estética peculiar que ora me apazigua,
acalma, ora me desafia, inquieta e intriga…).
Quanto ao radicalismo/fundamentalismo
religioso, há várias explicações para isso e, como em qualquer outra coisa da
vida, qualquer tipo de radicalismo é sempre mau por definição. Respeito obviamente
todas as religiões deste mundo bem como a “liberdade religiosa” (tendo também
grande apreço pelo Ecumenismo) e tento fazer o meu próprio caminho que tem
também (como creio, em todos) uma dimensão “religiosa”/espiritual (no sentido
particular do Religare) pois continuo
a acreditar que cada ser humano tem um Deus dentro de si que para muitos, como
eu, será Arte.
A única coisa que
quero pedir ao “meu Deus” é que me permita morrer o mais velho possível e, de
preferência, sem dar por isso.
4.
Tertúlia Orpheu /
Extravasar: contrariamente
aos gregos do mundo antigo - fundadores da nossa matriz política, social e
cultural (Séc. V, IV, III - a.C.) - a
sociedade contemporânea parece dar pouca importância às grandes ideias
filosóficas, às artes em geral bem como não valoriza - como devia - a
Literatura e, particularmente, alguns géneros literários. Concorda com esta
nossa síntese? Acha importante, desejável e urgente uma viragem das novas
gerações para uma vivência e consideração mais intensa e quotidiana das artes
em geral e da Literatura?
Ângelo Rodrigues: começo
por aceitar e concordar com a síntese que é feita. Por razões várias (umas más e
outras boas), estamos a mudar o paradigma cada vez mais rapidamente ao longo da
História e, quando temos a oportunidade de fazer a “epistemologia” (análise, reflexão,
avaliação, balanço) dessas mudanças e da experiência dos novos paradigmas,
acabamos sempre por perceber que as artes em geral e o Pensamento
(consubstanciado na Filosofia e na Literatura) em particular é (ou são) a grande
conquista e a mais-valia por excelência da humanidade. O Conhecimento é, de
facto, o melhor património da humanidade e a nossa geração, tal como aquela que
nos antecedeu tem o direito e o dever de lembrar à próxima geração isso mesmo:
que o Conhecimento/Cultura/Educação deve ser preservado e desenvolvido.
Infelizmente, certos países (e governos) parece esquecerem-se que a Educação e
a Cultura é o que permite fazer com que o Conhecimento se estabeleça nas
sociedades como grande prioridade e que é ele que permite a evolução a todos os
níveis como estou em crer que todos desejamos. Temos (todos) que dar o nosso
contributo pois a missão mais nobre, o humanismo e a grandeza de cada ser
humano, passa sobretudo por esse contributo.
5.
Tertúlia Orpheu /
Extravasar: partilhe
connosco e com o público leitor a forma mais prática e eficaz de se
comprar/adquirir os seus livros.
Ângelo Rodrigues: como
já disse na primeira parte desta entrevista, os meus livros podem ser
adquiridos em qualquer livraria física e online (portais/plataformas web) e
aproveito mais uma vez para vos indicar aqui alguns links a partir dos quais – e de forma simples – os podem também
adquirir. Desejo a todos uma ótima e feliz leitura (fruição literária) e
sintam-se à vontade para me dirigirem qualquer crítica, reparo, desabafo ou apologia. Para tal, podem usar o
e-mail angelomanuelrodrigues@gmail.com.
-
Edições Colibri (Loja online):
http://www.edi-colibri.pt/Pesquisa.aspx?Action=PesquisaR&Query=%c3%82ngelo%20Rodrigues
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6.
Tertúlia Orpheu /
Extravasar: escrever,
ensinar, fazer coordenação literária, produzir eventos, etc. é para si uma necessidade,
uma terapia, uma paixão ou outra coisa qualquer? Para que serve a Literatura e
as Artes? Que escritores e artistas mais aprecia e que mais o influenciam? «A Literatura e as Artes são a salvação do
mundo». Concorda?
Ângelo Rodrigues: confesso que é uma boa questão, mas a minha
resposta vai ser breve. Tudo o que faço (com certeza umas coisas melhor do que
outras - como todos nós) é com o propósito de “dar sentido” à vida. Todos temos
uma missão neste mundo e aquilo que faço é nada mais nada menos do que a
expressão dessa missão que se traduz também em motivar, galvanizar e ajudar a dignificar
e a celebrar as artes em geral. De facto, o que faço, e assumo, é uma terapia
(toda a Arte é também terapia), uma paixão e “outra coisa qualquer” que talvez
se possa traduzir no próprio mistério/enigma da Vida.
Perguntam-me para que serve a
Literatura, e a minha resposta faz-se concordando com esta célebre frase - de
que gosto muito - do escritor e poeta Russo-Americano Vladimir Nabokov (1899-1977): «A Literatura não é sobre algo, é
a própria coisa. A própria essência». Creio não ser necessário dizer muito
mais do que isto.
A Literatura e as artes em geral não são a “salvação do mundo”, mas é um
facto indesmentível que têm contribuído bastante para que o “Mundo” possa
continuar a ser um “lugar/sítio” que vale a pena… Como já afirmei na primeira
parte desta singela entrevista, “o que seria deste mundo sem as artes e,
particularmente, sem a Música e sem a Poesia(?!)”. Não sei se conseguiria viver
num “Mundo” sem esta dimensão da vida…
7.
Tertúlia Orpheu /
Extravasar: o que pensa, em
geral, da Escola e das pedagogias dos dias de hoje? O que mantinha e o que se
propunha alterar? Partilhe connosco, se possível, a sua perspetiva (ideias)
sobre Educação/Formação/Ensino.
Ângelo Rodrigues: sou
também professor (procurando na minha “prática letiva” ser também pedagogo) do
Ensino Secundário e tudo tenho feito - ao longo da minha “carreira docente” -
no sentido de contribuir para um processo de Ensino-Aprendizagem mais eficaz,
credível e autêntico. A Educação precisa mesmo e urgentemente de uma reforma
profunda que governos sucessivos têm tido receio, falta de motivação política e
incompetência para o fazer. Afirmo mesmo, e sem peias, a necessidade de uma “revolução na Educação”. A Escola dos
dias de hoje não acompanha as constantes mudanças sociais (a vários níveis) e
parece existir um grande desfasamento entre a Escola (o que ela devia
dar/oferecer) e a Vida.
Além do mais, quem de direito (e não apenas e só o Ministério da
Educação e o Governo, mas também a sociedade no seu todo), parece tomar
decisões não fundamentadas, não consensuais e, pior do que tudo, são por norma
decisões tomadas sem terem em conta os agentes mais habilitados que são os
professores/educadores, os alunos e os pais. Qualquer mudança significativa e que se queira eficaz (que funcione de facto)
deverá ter sempre em conta todos os agentes educativos (educadores, professores,
encarregados de educação, alunos e a sociedade no seu todo) e jamais poderá
resultar apenas e só do capricho e do “poder” de uns quantos
políticos/governantes com a agravante de que essas decisões e políticas quase
nunca são avaliadas (escrutinadas) como deviam e, no fim de tudo, esses
políticos/governantes nunca são devidamente responsabilizados pela quantidade
de “asneiras” e más decisões que foram tomando ao longo dos anos. Podia recordar
aqui vários nomes de políticos e de governantes cuja atuação e responsabilidade
(no âmbito da Educação) foi mesmo do piorio, mas é melhor não o fazer…
8.
Tertúlia Orpheu /
Extravasar: muitos autores e criadores dizem que escrever,
pintar e criar em geral, é algo muito difícil, sofrível, corajoso, ousado e
solitário. Concorda? Que tipo de receios tem (ou não) quando - por exemplo - acaba
um livro? E, já agora, que tipo de estratégias (se é que as tem) coloca em
prática para afirmar/divulgar/promover a sua obra?
Ângelo Rodrigues: claro
que concordo. A escritora Russa-Francesa Elsa Triolet (1896-1970) escreveu que «criar é tão difícil como ser livre» e eu
não podia estar mais de acordo. A criação e produção da “verdadeira Arte” (em
qualquer área) é algo que implica uma dedicação e um empenho constante e, como
nos ensina todos os dias a vida, sem esforço e sem trabalho não há sucesso/êxito.
Criar implica também - e sobretudo - a dimensão do Pensar (convergente e
divergente) e, infelizmente, a nossa sociedade parece não perceber que, cada
vez mais, para termos sucesso, temos que pensar e ter boas ideias.
(Infelizmente, e mais uma vez, os nossos líderes/políticos/governantes não têm
percebido que é fundamental a dimensão do Pensamento e da Filosofia nas Escolas
desde a primária e até ao fim da vida. Fico “pasmado” com o seguinte: com uma
frequência cada vez mais assustadora, a Filosofia nas escolas, em cada ano
letivo que passa, fica com menos tempo (com menos horas). Fica apenas esta
informação para memória futura pois, a continuarmos assim, estaremos a
hipotecar e também a empobrecer e a diminuir o Futuro das novas gerações. E
fecho esta resposta/reflexão com a seguinte frase/aforismo do poeta francês
(associado ao Surrealismo e ao Cubismo) Pierre Reverdy (1889-1960) cuja obra aprecio bastante: «Criar é pensar um pouco mais forte».
9.
Tertúlia Orpheu /
Extravasar: como Cidadão do mundo, Poeta, Escritor, Professor…,
que tipo de problemas e de inquietações (a nível nacional e internacional) mais
o perturbam? Partilhe connosco e com os leitores, o assunto/tema que considera
mais importante/relevante para reflexão/discussão/confronto nos dias de hoje.
Ângelo Rodrigues: há mesmo tanto tema
e assunto que considero importante para se
discutir e refletir de forma séria e urgente, mas vou centrar-me apenas
no tema/assunto/problema da “falta de hábitos de leitura” por parte dos jovens (e não só).
A falta de hábitos de leitura por parte dos jovens é algo
que de facto me perturba e inquieta e não consigo perceber porque razão a
maioria dos jovens (alunos) parece não retirar nenhum tipo de prazer, emoção ou
até “adrenalina / pica” da leitura de
livros. Aquando da minha “prática letiva” (no início de cada ano letivo), e
perante turmas de cerca de trinta alunos, o que é no mínimo um disparate sem
dimensão, mas isso fica para outra entrevista… Dizia eu que, quando os
questiono sobre o que leram, estão a ler ou pensam vir a ler, existem apenas
dois ou três alunos que leram ou estão a ler algum tipo de livro, mas a grande
maioria diz-me não gostar de ler ou não ter lido nenhum livro ainda. É mesmo
assustador e problemático, sobretudo no âmbito das disciplinas de Filosofia,
Psicologia e Área de Integração. Alguma coisa terá de ser feita/implementada
para se tentar inverter tudo isto…
10.
Tertúlia Orpheu /
Extravasar: escolha por favor
um pequeno excerto e/ou poema de um dos seus livros (publicados ou a publicar –
individuais, antologias ou coletâneas) para “aguçar o apetite” dos potenciais
leitores. Desejamos-lhe todo o sucesso e sorte do mundo pois a sua obra bem o
merece!
Ângelo Rodrigues: obrigado por esta última parte
da entrevista e oxalá o vosso trabalho de divulgação e de promoção de obras e
de autores tenha o sucesso que merece.
Destaco aqui dois singelos aforismos do texto
aforístico «Dos Poetas - tratado
apologético, definitivo e absoluto, dos poetas e da Poesia» incluído no meu último livro
«MUSA LIXADA e PREGUIÇOSA» publicado pela minha editora (Edições Colibri - www.edi-colibri.pt) em maio de 2019.
«Os poetas são
multifacetados, irreverentes, inquietos e irrequietos. Tudo o que se diga é,
provavelmente, inútil e desnecessário pois a «Poesia é o Dizer supremo» e
absoluto; tudo o que não se Diz, acaba por ser sempre o mais importante; além
disso, estamos fartos do “comentarismo
ruminante e estéril”. Ainda assim, humildemente e com todas as cautelas, vos
digo que a Poesia é o “género” maior que “compreende pelo mistério” os sentidos
sublimes bem como consegue significar o mundo da eternidade prometida, o mundo
da transcendência».
«Há Poesia
enigmática, profética, sibilina, moira, «sacerdotisa de vestes brancas», que
vive e faz-viver intensamente o Grande-Mistério (Eternidade) alimentando-se
espiritualmente (também pela dádiva) do Silêncio e do “poderoso sentido da
PALAVRA”. Raras, pobres e difíceis são as
palavras / Que Dizem o Grande-Enigma; / Uma terrível angústia gramatical / Embate
na inquieta Alma dos poetas (A.R., 1999). É também êxtase, celebração,
exaltação, ritual iniciático à compreensão da condição-humana».
4 comentários:
Gostei, aprendi e compreendi a sua mensagem. A sua inquietude é também minha no que se refere à Educação. Estou fora dos programas atuais mas sinto que essa falha do ensino da disciplina de Filosofia traz agravamento no pensar dos nossos jovens.
Recordo-me quando professora de Geologia no 12ºano introduzi nas minhas um pouco da História e Filosofia da Ciência e foi um sufoco ,a ponto do meu colega de filosofia, representante do conselho diretivo me abordar. Os alunos foram apanhados em situações diferentes, não sabiam comentar frases célebres do conhecimento doutros tempos e atuais. Lembro-me da minha professora de Filosofia que, já naquela época me fez deslumbrar e perceber o grande valor da Filosofia. As crianças naturalmente filosofam se forem encaminhadas mais descobrirão...
Obrigado pelo seu comentário.
Adorei ler e ficou comigo muita coisa, pois O Ângelo é um bom exemplo da Literatura Portuguesa, ou não seja Ele um bom professor de Filosofia...
Pena é que não haja mais pessoas como este amigo de coração puro e com inteligência.Bem Haja. Uma bonita e muito boa entrevista que dá para aprender alguma coisa.
Obrigado. Bjs.
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